Tuesday, June 26, 2007

Duas semanas em Hanoi

Não esqueço porque não posso e não esqueço porque não quero, uma razão que me arrancou para esta viagem. O objectivo está identificado, a meta está no horizonte e vou desenhando a pista como sei, como consigo e tentando beneficiar das oportunidades que tenho.


A volta ao Vietname estava então prevista no calendário. A Carmo tinha os seus compromissos profissionais do outro lado do Atlântico e eu os meus aqui, neste país da Indochina francesa. Depois de uma busca pelas ofertas da rede, Volunteers for Peace Vietnam (VfPV) foi o escolhido. Prometi-lhes em euros 15 dias e eles, entusiasmados com o propósito que me trouxe, talvez por fugir um pouco do standard, tinham trabalho de sobra para me dar, e a vontade de corresponder era muita. Não vinha através de nenhuma organização do meu país, nem de qualquer outra parceira do tipo Travel-to-Teach, o contacto com eles foi directo e a proposta que tinham para mim, depois de saberem do meu intento de querer investigar sobre a comunicação nas ONG, era no desenvolvimento da mesma e da interacção dos voluntários com promoção multicultural. Outra tarefa, e talvez a mais importante, era uma formação a um grupo de voluntários vietnamitas que irá integrar projectos no estrangeiro este verão, sendo a primeira vez que viaja além fronteiras, onde as questões das diferenças culturais seriam um dos pontos mais importantes do dia. O desafio, a obrigação, a responsabilidade, esperavam-me nestas 2 semanas. Estava cheia de força para me dedicar intensamente ao trabalho.

Longe do centro da cidade grande, onde a luta urbana corrompe o afável e genuíno povo vietnamita e esconde por vezes esta simpatia e vontade de ajudar que existe em cada um deles, encontrei na Peace house o mais genuíno instinto para com o visitante.

Mr. Bang, o segurança de título, o faz tudo de vocação, empurra-me para esta observação a todo o momento. Profere o meu nome à boa maneira vietnamita, prolongando e acentuando a última sílaba da palavra, ritaaá, quando me chama para jantar com aquele sorriso irresistível, que me faz devolver o mesmo transmitindo uma alegria imensa para experimentar mais uma iguaria deste país, esquecendo a vontade do chá e torradas porque são 6 da tarde. É o melhor amigo de todos que por aqui passam. Lança umas palavras de inglês, de vez em quando com auxílio de um pequeno livro, para não deixar que a diferença entre línguas seja bloqueio de comunicação.

A chegada no fim de semana deu para me instalar com calma, saber pormenores do ansiado trabalho e conhecer as acomodações e as normas de conduta da casa. Os quartos são de 4 pessoas, uma casa de banho por piso, e o escritório, a sala de jantar, a sala de aula e o espaço de convívio partilham o mesmo espaço. A cada voluntário estrangeiro que chega é adjudicado um vietnamita para o ajudar na integração do país, das pessoas, da cultura, da língua. Sem fugir à rega conheci a minha supporter logo no dia em que cheguei. Hang, estudante de universidade, que encontra na VfPV a oportunidade de conhecer pessoas de todo o mundo e desenvolver os seus conhecimentos de inglês, mostrou-me também a afectividade deste povo. Fez-me uma visita guiada à cidade, foi professora de conhecimentos básicos de vietnamita e desfazendo-se em sorrisos que transbordavam um imenso orgulho em poder mostrar o seu pais a estrangeiros, disponibilizava-se a todo o momento para o que fosse preciso. Não pude deixar de lhe devolver umas aulas de português, que cheia de vontade de se mostrar conhecedora do meu país, cativou-me com um “bom dia” e um “até logo” para que lhe explicasse mais e mais.

O trabalho dividiu-se nas duas semanas. Durante a primeira, na tentativa de me embrulhar na verdadeira razão de existir da VfPV impingi-me para participar e ajudar num dos workcamps da organização. A recepção à ideia foi a melhor, claro que fazia todo o sentido uma visita ao terreno para aumentar a qualidade e a fiabilidade do trabalho. Depois dos dois primeiros dias no escritório, de planeamento de actividades, de criação do National Profile, outra das iniciativas promovidas pela VfPV para o conhecimento intercultural entre os voluntários que por ali passam, estrangeiros ou nacionais, estava preparada para conhecer o campo. Foram só mas muito produtivos 3 dias a viver com locais que gentilmente cedem a sua casa para albergar os voluntários. Em frente é uma das SOS Village espelhadas pela mundo, que alberga crianças orfans, e lhes dá todos as condições para que aos 18 anos possam escolher uma vida e lançarem-se sozinhos sem medo e sem entraves. Vão à escola, têm aulas extra na vila e condições para actividades extra curriculares.
De manhã ajudamos na pintura do gradeamento da vila, para não deixar perder o simpático e arranjado aspecto desta escola interna, e a
seguir ao almoço e ao fim da tarde são as aulas de inglês. Durante os tempos livres ainda jogávamos futebol ou badmington com as crianças. Foram dias bem passados com as duas Trangs, nome bem comum no Vietname, e com Julianne e Yanne, jovens estudantes franceses, que muito de produtivo trouxeram à minha investigação pessoal, e ao trabalho a desenvolver para a organização, da maneira como partilharam a experiência.


Um dos pontos obrigatórios de visita para quem está em Hanoi, são as famosas imensas ilhas, dizem ser 3000, de pedra espalhadas pela vasta baía de Ha Long, que como conta a lenda terão sido criadas pelo desaguar do dragão das montanhas no mar… Sem companhia de algum voluntário que pudesse querer vir, fui sozinha. Inscrevi-me numas das milhares de excursões que partem todos os dias para este sítio nomeado património mundial e integrei um grupo de outros viajantes, acompanhados ou não. O programa estava feito, eram dois dias e uma noite no barco, com direito a refeições, uma hora de canoa, e banhos no mar com água a 33 graus. Tudo com horário preestabelecido. Mesmo com hora marcada até para o descanso, foram dois dias bem passados. Lembro os tempos de Elorne, daquelas férias com o Avô de porto em porto, contornado a costa portuguesa e espanhola até entrar no mediterrâneo, a adormecer ao som das irrequietas adriças, com um embalar que nos traz o sono sem darmos por isso. O grupo era animadamente heterogéneo. Trocámos feriados e formas de passar o Natal ou o significado da Páscoa e do dia de Acção de Graças. Viajámos pelo mundo à volta das gigantescas pedras, entre banhos e canoas e serão ao luar, desde da Nova Zelândia, até à rara Estónia, passando pelos Estados Unidos, e pelas já comuns Inglaterra e Holanda, onde mais uma vez Portugal aparecia pela primeira vez.


A volta foi cedo. Eram 6 da tarde, a bater no jantar, quando chego de novo à Peace House. Mais um grupo de novos voluntários chegara naquele fim de semana. Uns iriam integrar um campo no dia seguinte, outros iriam ficar a viver ali e iriam trabalhar em locais diferentes, com tarefas diferentes, também de acordo com os seus conhecimentos anteriores.

Nesta semana o principal objectivo era a formação de Sábado. Vinha aí o grupo de voluntários, cheios de expectativas e cheios de força, para saber tudo sobre viajar e trabalhar como voluntário. Também nesta semana fiquei a substituir uma voluntária dinamarquesa que tinha tirado umas férias, nas aulas de inglês. Eram às 7 da tarde, logo depois do jantar. Participava ainda nas aulas de Abby, uma das americanas do grupinho que ficou na casa, que insistia que bastava uma outra presença, ainda que calada, para lhe dar confiança. Sempre era uma ajuda para mim também pois não só aprendia mais para ensinar como preparávamos as aulas juntas e dividíamos ideias.

Entre o trabalho de todas, houve tempo para algumas saídas. Como éramos 4, facilmente partilhávamos táxi para ir à cidade. Fomos ver o acordar de Hanoi, que por influência chinesa, enche o lago de ginásticas, danças e Tai Chi. Deambulámos pelo velho quarteirão apreciando a vida da cidade, visitámos galerias de arte e ainda assistimos a um espectáculo de marionetas na água contando as várias histórias, hábitos e lendas do povo Vietnamita. Temi o pior quando começou, sem conhecer minimamente a língua, não iria perceber nada do que se ia passar, mas com a ajuda do guião com os títulos das músicas em inglês acabou por ser um espectáculo bem giro, muito fácil de perceber.

Hanoi é uma cidade confusa, mas ao mesmo tempo charmosa. No lago vive um grande ser que dizem ser parecido com um tartaruga, que traz sorte e felicidade a quem o vê. Refugia-se no pagode assente na ilha inacessível e viverá eternamente. Os vendedores nas ruas levam as suas cestas de comida, fruta ou flores, penduradas nas cordas das extremidades do pau que carregam ao ombro, vagueando para cima e para baixo, levando-nos ao mais típico cenário vietnamita, mesmo na cidade grande.

O trânsito é de fugir. A quantidade de motas que circulam na cidade é provavelmente superior à das pessoas. As regras de trânsito foram substituídas por usos e costumes que só quem cá vive saberá seguir. Andam milhões de motas numa só faixa de rodagem como se fossem 5, parecendo um carreiro de formigas na lavoura do dia a dia. A aproximação de um cruzamento não é razão suficiente para abrandar a marcha, muito menos para usar o travão, como que uma migalha que cai no dito carreiro, deixando as formigas aparentemente baralhadas e sem direcção, mas que num ponto mais à frente continuam o seu percurso como se dele nunca tivessem saído, sabendo exactamente que direcção seguir. Ver as (anárquicas) formigas a seguirem carreiro depois da confusão é muito engraçado mas ser uma delas não é para mim, sou pouco dada a sensações de limite. Quando pensei que era em Hanoi que alugava uma motinha destas para andar pela cidade, mal imaginava o treino que é preciso. São meses de aprendizagem empírica, pois não há livro que descreva este código. Confesso aqui, sem medo e sem preconceito, que mesmo o lugar do pendura me causa alguma angústia. As minhas idas à cidade ficaram limitadas à vontade das restantes, era preciso 3 pessoas para valer a pena partilhar táxi…

A formação de sábado correu bem. Todos participaram, e na parte das diferenças culturais, as americanas Abby e Soraya, a Japonesa Asuka e ainda a Filipina Ginny deram o seu contributo. Foi engraçado ver como é importante explicar a um vietnamita que a rua se atravessa quando os carros estiverem parados, não havendo a regra do ir sem olhar e sem mudar a velocidade pois as motas que se desviem… Não esperem encontrar na Europa, Estados Unidos ou mesmo Japão um tratamento especial a quem é estrangeiro, só porque o é e vê-se que é, pois a sua presença não é rara ou especial como aqui nos sentimos… Á tarde foram actividades variadas, com a presença do grupo de coreanos que tinha chegado nessa semana para ficar 10 dias a trabalhar com a Peace House, tal como estes iriam ser lá fora. Foram uma ajuda preciosa com um empenho especial.


A vontade de vir embora era apenas puxada pelo próximo passo, hábitos que criei da vida nómada que levo desde os últimos quatro meses. Mas a vontade de ficar era muita. O trabalho correu bem, foi bom, e muito produtivo para mim. Com as pessoas criei relações, amizades, vontade de manter contacto. Foram dias que por serem poucos foram intensos, e de uma forma natural pareceram meses. Não deixaram de se tirar as últimas fotos de grupo, para mais tarde recordar, e até um adeus me acompanhou até o táxi se perder de vista. Levo muito de Hanoi, da Peace House, levo essencialmente boas recordações e boas amizades.


Ate logo.

Friday, June 8, 2007

Uma viagem interminável

Eram 5 da manhã em Luang Prabang, quando tocou o despertador. Ultimar as malas e sair em busca de um rickshaw para a estação de autocarros. A hora do check in era às 6, para ter tempo de estar a rodar às 6e30. Saímos no horário dentro de mais um autocarro local onde a já tão habitual posição dos ângulos rectos tinha de ser aguentada por 9 horas, pelo menos. A viagem corria normalmente quando de repetente paramos sem perceber porquê. Não se viam as habituais bancas de rua com comes, nem qualquer sinal de nada… Alvoroço lá fora à volta de um pneu… era um furo. Apreensivas olhamos para o relógio pensando no que nos iria atrasar este percalço pois tínhamos uma segunda carreira para a apanhar com hora marcada. Mas entrou logo tudo em acção. Enquanto um sobe ao tejadilho para tirar o pneu suplente, o outro posiciona o macaco e outro já vai desaparafusando a roda. Passados mais ou menos 20 minutos, lá seguimos viagem, continuando a tempo. Voltamos a parar para a habitual ida à casa de banho e comer qualquer coisa e seguimos.

Já sem aguentar aquela posição, vou debruçada na janela a deliciar-me com as montanhas verdes e densas quando oiço um psssssssss, mesmo por baixo de mim. O autocarro abranda, pára, saem todos. Outro furo! Desta vez era a roda de dentro, mais complicado… Agora é que o tempo começa a apertar. Se isto demora muito o caldo entorna-se para o nosso lado… Depois de uma espera maior do que a anterior e sem tirar os olhos do relógio lá seguimos de novo, na esperança que nada mais aconteça. Assim foi. Chegámos a Vientiane em cima da hora para apanhar mais um tuc tuc que nos levasse à outra paragem de autocarro. Eram 4 e 45 da tarde e o check in era às 5, segundo informações de quem nos vendeu o bilhete, que também tinha escrito em Laos a morada para mostrar aos rickshaws, o que nos descansou. Chegando à agência, e não à estação, onde nos esperava um mini bus com mais quem iria na mesma viagem e comprou o bilhete à mesma pessoa, e onde esperámos mais não sei quanto tempo sem perceber porquê, percebemos que a partida era só às 7h. A informação vem sempre depois do acontecido…

Chegamos finalmente a mais um descampado a céu aberto, a estação, com uma série de camionetas arrumadas de acordo com uma ordem que não é suposta ser entendida por nós, onde nos deixam em frente ao nosso autocarro. É este? Mas venderam-nos um VIP! E isto é mais um local bus… Sem tempo para espantos vejo um dos companheiros da viagem anterior a sair do autocarro que me diz, despacha-te a entrar porque os lugares estão todos ocupados pelos locais, se não corres arriscas-te a ficar no chão. Já só sobravam os últimos onde no espaço para as pernas se estendia um enorme embrulho sei lá de quê, tirando toda a possibilidade para o segundo ângulo recto. Tiraram-nos o legs room, como dizia a inglesa que também se sentou nos bancos de trás. Foi aqui que ficámos. Arrancámos à hora marcada em direcção à fronteira. Parámos mais umas quantas vezes para as necessidades evidentes, numa das quais durante uma hora e tal, que só mais tarde percebemos que era para matar tempo por causa da hora de abertura da fronteira (então porque é que não saímos mais tarde??). Chegamos ao fim do Laos. Isto eram 7 da manhã e eu não tinha conseguido dormir quase nada, pela falta de posição e pelo imenso calor que não era atenuado pelas janelas minúsculas inibidas de nos dar corrente de ar. Sai toda a gente, carimba o passaporte de saída do país, anda até à entrada do Vietname, carimba a entrada neste, passa a mala no scanner, entra na camioneta e segue viagem. Esta brincadeira foram algumas 2 horas.

Passado já mais uma data de tempo, já depois de termos parado para almoço e troca de condutor, para que o anterior pudesse dormir um bocado, encontrando lugar apenas ao nosso lado, e quando já finalmente anestesiada da posição, conseguia dormir, levanta-se mais um alvoroço. Acordo em sobressalto. Tínhamos batido. O novo condutor nem queria parar, mas lá foi obrigado pelos acidentados que vieram logo atrás, e mais meia hora na rua debaixo de um sol insuportável e sem uma aragem sequer… Segue viagem por mais um bocado e… operação STOP! Mas mais uma vez quem nos guiava achou que não era nada com ele e seguiu… Admiração geral dentro daquele autocarro, tudo à janela, a policia vem aí… ouvem-se as sirenes, somos ultrapassados e obrigados a parar… Mais não sei quanto tempo na rua à espera. Volta a entrar no autocarro e segue viagem, mas uns metros mais à frente começamos a ver fazer inversão de marcha… Que se passa? Voltámos para trás? Entramos num portão e mandam-nos sair, estávamos na esquadra da polícia. Rusga total a todas as malas, a todo o autocarro. Encaminham-nos para uma sala, simpaticamente cedida pelos senhores policias, com uma ventoinha, chá e dizem-nos para esperar… Passaram não sei quantas horas, algumas 3. O grupo de estrangeiros daquele autocarro era como uma excursão que viaja junta há semanas. Já tínhamos assunto de conversa há muitos in(a)cidentes atrás… Há mais de 24 horas que estávamos naquela tentativa de seguir viagem… Matámos o tempo com jogos de cartas, conversas, cervejas, dormidas, etc… Chegámos a Hanoi às 11 e tal da noite, em vez de às 4 da tarde. Foram 38 horas em viagem… Nunca nenhuma tinha sido tão difícil.

Até logo.

Sunday, June 3, 2007

Luang Prabang

É muito fácil perceber porque é que Luang Prabang é a Jóia do Mekong. Com a sua maior força e corrente o rio abraça a cidade, em conjunto com o rio Nam Khan, dando-lhe aquela vida de uma costeira, fazendo-nos esquecer sentir a falta do mar. É uma cidade completa. Tem um encanto, um charme, uma áurea… algo que “não se vê daqui de fora, mas uma vez que se lá entra não se quer vir embora”… Está-se confortável, em paz, tranquilamente descansada. As casas são baixas, dois pisos. No térreo abrem-se grandes portas para a rua mostrando um restaurante, uma loja, um hotel, ou mesmo uma casa. Muitas com varanda, esplanada aproveitando o clima quente e tropical da zona. No piso de cima continua o restaurante, a loja, o hotel, ou o resto do desenvolvimento da casa. O verde intenso das montanhas, já típico do Laos, não atenua na cidade. As palmeiras abundam. O traço das águas castanhas rasgando a paisagem ao longe leva-nos um pouco ao Douro.

Passámos aqui 5 dias, em vez de 2. Mais uma vez burocracias de viagens e vistos orientaram os nossos passos. Dando graças a essa burocracia tivemos oportunidades além das visitas típicas do local. Á espera de algo, sentada num spot de rua a beber uma água fresca entro naquela conversa habitual entre viajantes, que começa com um olhar de olá, de quem já se conhece, passando rapidamente para a história da viagem, acabando muitas vezes, e foi o caso, numa tarde bem passada de troca de experiências, conhecimentos e até piadas banais. É engraçado ver esta cumplicidade entre as pessoas que estão a fazer a mesma coisa no momento, neste caso a viajar. Sente-se nesse primeiro cruzar de olhar uma empatia imediata como se soubéssemos há anos que temos algo em comum, e rapidamente a conversa flúi sem serem precisas apresentações formais.
Tantas vezes o nome só surge já a cavaqueira vai longa… Este Irlandês, acabou por ser companhia naquela tarde, numa esplanada das casas típica das colónias francesas, de jantar, de um copo. Um tipo que estudou arquitectura, mas acabou por montar negócio na arte de vidro com o qual fez fortuna. Um dia cansou-se de ser um Business Man, vendeu o que tinha e partiu em viagem. Já lá vão 3 anos, vai a casa de vez em quando, mas tem planos de continuar pelo mundo, e logo se vê onde a vida o leva. Deixa histórias dignas de livro, e muitas experiências. Delicia-se também ao ouvir as pequenas e modestas aventuras destas 2 miúdas portuguesas, as únicas pessoas deste pais que conheceu, com tanto ou mais interesse com que ouvimos as dele…

Passado o dia da chegada a repor forças e energias de longas horas em estrada, onde a paisagem nos prende o olho mais uma vez, sem descanso possível, fomos às prometidas cascatas, ponto de visita obrigatória desta segunda cidade do Laos. A sensivelmente 25 Kms do centro urbano perdem-se quedas de água com lagoas naturais de um azul que nunca achei que existisse. Que espanto!

Subimos pelo caminho no meio da densa vegetação sem conseguir decidir em que azul mergulhar, cada um melhor que o outro… Também num tuc tuc partilhado encontramos outros viajantes, com quem trocamos palavras. Uma senhora que já não vai para nova, da Austrália, viaja sozinha sem qualquer preconceito ou medo. Diz estar na sua segunda vida, satisfeita por poder aproveitar as energias que tem. Já casou, teve filhos, trabalhou, agora viaja. Continuando a percorrer até à grande catarata, vêm-se turistas e locais na mesma proporção desfrutando desta maravilha da natureza.
Também os monges, esses seguidores da religião budista, que tanta presença tem em Luang Prabang, se divertem nas quedas de água. São outro encanto desta cidade. A tranquilidade que transborda do olhar sincero destes vestidos de cor de laranja, contagia toda a cidade, dando-lhe aquela calma, aquela paz… Muitos são os templos que se podem visitar. Enterrados no verde das palmeiras, surgem as casas dos telhados sobrepostos onde vivem estes monges… esta tranquilidade senti-a no dia em que partimos. Eram 5e meia da manha e já a cidade estava cheia, com um silêncio gigantesco, as pessoas saem à rua com as suas cestas de verga com arroz e bananas e esperam pacientemente pela fila de monges que com uma mesma cesta de verga coberta com um croché da cor das vestes recolhem honestamente o que têm para lhes oferecer. Na calmaria da madrugada toda a cidade se vira para este feito. Que maravilha…

Outra maravilha são os night markets. Debaixo de grandes estruturas metálicas com lona vermelha, estendem-se tapetes no chão cobertos de uma série de produtos manufacturados, super bem arrumadinhos e bem longe do caos de uma feira. Dá gosto só de ver, mas apetece levar de tudo. Bolsinhas, colchas e fronhas, colares e pulseiras, desenhos dos monges, calças de pescador, t-shirts ou carteiras… Ao passear pelos corredores ouvimos um constante saudar em Laos Sa Ba Dee, acompanhado de um Good luck se comprarmos já, uma enorme defesa ao volto mais tarde… Algumas ruas da cidade são cortadas ao transito para que o comercio tenha lugar. Todos os dias já perto das 6 da tarde começa a montagem dos toldos. Admirando mais um inesquecível por do sol, na esplanada em frente de casa debruçada no rio, jantávamos qualquer coisa ao som da corrente, apreciando a quietação da cidade, para depois darmos uma voltinha pelo mercado. Levo esta cidade como uma das que mais me encantou até agora.


Depois destes dias muito bem passados em Luang Prabang partíamos para Hanoi. Eram duas etapas, primeiro num autocarro local até Vientiane, depois daí num VIP bus para Hanoi. Ao todo iriam ser 20 horas. Não foi bem assim…

Até logo.