Monday, May 28, 2007

Laos... que país!

É impossível resistir a este país. O menos desenvolvido e o mais enigmático de toda a Ásia, nas suas apaixonantes paisagens que não nos deixam indiferentes, as longas e maçadoras viagens são atenuadas pela vista da janela. As montanhas cobrem quase toda a sua extensão e o povo procura os vales para se estabelecer. Também ao longo deste famoso e já falado Rio Mekong, moram pescadores e montam-se famílias que procuram nas margens um cantinho fértil para se desenvolverem.

O povo, esse, é outro que tal, encantador. Sinto que me repito cada vez que falo dos vários povos dos países por onde tenho passado, principalmente dos países da Indochina, mas a verdade é que tenho sentido uma enorme empatia com todos eles. No Laos as pessoas são simples e prestativas, sem pretensões procuram ajudar-nos mesmo sem conseguir proferir uma única palavra de inglês, aterrorizam-se com a incapacidade de resposta, vão imediatamente procurar quem saiba.

Lembro um episódio numa estação de autocarro. Estamos em Pakse, uma cidade no sul, à espera do autocarro para Vientiane, onde iríamos apanhar outro autocarro para Vang Vieng, o nosso verdadeiro destino. Tínhamos estado 3 dias longe da cidade, onde levantar dinheiro ou pagar com cartão era mentira (mesmo nas cidades é difícil). Eram 2h da tarde e tínhamos ao todo 2000 Kips na carteira (9000 kips = 1 USD), a nossa camioneta, onde depois verificámos que serviam uma refeição de nudles e uma garrafa de água, era só às 8 e meia da noite e nós só com o pequeno almoço no busto. Já sabendo que não seria fácil encontrar um ATM compatível como cartão visa, perguntei à guardiã da estação de autocarros se havia um MB por perto. Disse-me que sim, a 10 minutos de tuc tuc. Eu expliquei-lhe que não tinha dinheiro para apanhar qualquer transporte, perguntei se não haveria um que desse para ir a pé. Ela voltou a dizer que só de tuc tuc. Eu insisti que para mim era impossível essa hipótese. Vendo que não me restava alternativa, se não esperar que viesse a camioneta e rapidamente adormecesse para não pensar na fome, ela sugere-me: Vais com ele (calculo que fosse o marido), na minha mota, se encontrares dinheiro pagas-me a gasolina, se não, deixa lá, também não tem importância. Lá fomos em busca de um ATM, acabando por levantar dinheiro num hotel, que ainda me cobrou uma taxa por usar a sua máquina de visa, e regresso à estação. Isto era Domingo, nem os bancos estavam abertos… Paguei-lhe a gasolina e perguntei-lhe se tinha alguma coisa para comer. Diz-me que ali não tem nada, mas que vai buscar, eu digo, não, para isso vou eu, onde é, ela diz, não, tu não sabes eu vou, eu digo, então vou contigo, ela diz, ok anda. Andámos às voltas num mercadinho atrás da estação onde bancas e bancas exibiam vegetais rigorosamente cortados e arrumados, ou frutas, ou ainda bancas que vendiam sandwichs, mas só de rã… Eu muito indecisa, sem saber bem o que comprar, ela cheia de paciência, sempre atrás de mim. Acabo por trazer pão simples e fruta.

Voltando ao país, o primeiro sítio foram as 4000 ilhas, ao sul do Laos, numa zona larga do Mekong. Vindas de táxi desde do aeroporto chegámos á estação de autocarros para apanhar um qualquer para o sul.

Isto é que é a estação de autocarros?! E qual é o nosso? Queremos ir para Muang Khong, a cidade da maior ilha das 4000. De malas às costas, a fugir das poças de lama, com o taxista à perna, a querer não se percebia bem o quê, procurávamos quem nos levar ao destino. Lá nos diz o taxista, ao fim de várias tentativas de pergunta, que o autocarro que queríamos iria passar às tantas naquela rua, e leia-se rua um qualquer espaço no meio daquela suposta estação, onde passarão umas carrinhas de caixa aberta com uma estrutura de ferro atrás que cobre os passageiros e que serve de porta bagagens, ao que chamam autocarro, e que haverá um que segue para onde queremos ir. Levou-nos no seu táxi umas metros mais à frente para escolhermos o nosso “autocarro”. É este, boa! Depois das malas lá em cima, e nós por baixo, segue caminho. Mais uma viagem tipicamente asiática, 4 horas para fazer 150 Kms, onde acontecem várias paragens em que somos bombardeados com locais a vender comes e bebes. Aqui são espetadas de baratas e grilos, ou sacos de arroz que se come que nem pão. Prefiro continuar a aceitar a fruta que os companheiros de viagem tão generosamente oferecem. Chegamos finalmente a um destino que não o premeditado, que por engano ou por desconhecimento de causa nos escapou, mas que por sugestão de outro viajante, iríamos parar ao melhor.
Daqui íamos apanhar o Ferry para a ilha de Don Det.
Sim, um barquinho rasteiro, atracado a um não cais, com motor fora de borda de 2 cavalos, isto era o nosso “Ferry”!

Tão inóspita era também a ilha em que ficámos. Nuns bungalows de madeira por cima do rio, foi onde dormimos. A electricidade acabava às 10 e meia da noite, pois o gerador desligava. Tinha internet, mas nem sempre estava ligada por causa do mau tempo e das tempestades... Nem água quente havia e a casa de banho era separada do quarto. Aqui passámos 2 dias de tranquilidade absoluta. Passeámos de bicicleta até outra ilha, para vermos as cascatas, mas que só pelo caminho tinha valido o passeio. Um por do sol que nos deixava de boca aberta, uma luz, uma calma, uma serenidade… Bem dito engano.

Depois deste selvagem paraíso seguimos para a cidade de Vang Vieng, outra maravilha… de perder de vista… Chegámos aqui depois de uma viagem de 4 horas num local bus surreal… Mas mais uma vez a paisagem deixa-nos indiferentes ao desconforto. Neste sítio passámos 3 dias entre descanso, passeios de bicicleta, banhos de rio e uma das milhões atracções que oferecem as agências de viagens locais. A escolhida foi tubing e canoagem, com direito a entrar pela gruta de água montadas numas bóias gigantes e de lanterna de mineiro da cabeça, almoço, e descida do rio de canoa, com uma paragem a meio nuns bares com música e slide para saltar para a água… paraíso dos backpackers.


A viagem de Vang Vieng para Luang Prabang, o nosso próximo destino, foi qualquer coisa de surreal… Chegámos à estação para apanhar o autocarro das 14e30. São 15 e pouco e pergunto pelo nosso, um local que passaria na estrada supostamente àquela hora. Avariou, diz-me o senhor. Agora deve passar um às 16e30. Bom, deixámos as malas dentro da casinhota e fomos de novo à cidade comer qualquer coisa. Voltámos eram 16e15. Às 17h volto a perguntar, ao que me responde que está quase. Entretanto procuro informações laterais, pergunto a outros transeuntes que aparentam estar à espera de algum autocarro, que me dizem que agora só às 8 da noite… Não queríamos acreditar. Entretanto já eram quase 6 da tarde quando aparece um autocarro e todos gritam Luang Prabang. Finalmente o nosso! Foram intermináveis horas de viagem até a esta cidade que um dia foi capital do então reino do Laos e hoje é património mundial da Unesco.


Vale a pena vir ao Laos.


Beijinhos.

Até logo

Saturday, May 19, 2007

Hello Teacher!

Mergulhada nos textos de computador no colo, no dia da chegada a Siem Riep, nem reparei que 4 concentrados e silenciosos olhos me observavam. Instantes passados a intensa atenção destas empregadas da Guest House fez-me nota-las e o meu olhar surpreso, e até talvez um pouco agressivo, perguntou-lhes que queriam.
Aprender, só queremos aprender, não te preocupes e continua…
Mas a concentração dilui-se no seu interesse e passou para o que quereriam elas assimilar dos meus textos em português, já que era inglês o seu objectivo. Explorei mais um pouco essa necessidade de aprendizagem, que me encantou desde do primeiro momento. As famílias numerosas impediram-nas de continuar os estudos, obrigando-as a procurar como ajudar no sustento dos mais novos. Há um ano que deixaram a escola, e vêem nos turistas que por ali passam uma oportunidade de não deixar escapar os conhecimentos adquiridos nesses bons velhos tempos. Acabei por também ser “caçada”. A vontade de sair dali, de encontrar melhor futuro existe. A consciência que há um mundo lá fora com melhores oportunidades é algo que lhes traz curiosidade e sede de saber. Combinámos então uma hora para o dia seguinte e a felicidade daqueles sorrisos fez-me sentir a pessoa mais útil daquele momento. Desde daí que em cada cruzar de olhares, ouvia um enorme e comovente Hello Teacher! Havia uma razão forte, uma motivação grande que me fazia querer ficar em Siem Riep mais uns dias. Nos intervalos dos textos, quando batia a 1h no relógio, já se ouvia um let’s go students e seguia-se a correria à mesa de trabalho prontas para mais uma lição. Providas de um pequeno livro de exercícios que terá sido usado por várias gerações, uma folha de papel e uma caneta, passávamos ali um par de horas, longe de tudo e de todos, aproveitando ao máximo o tempo de descanso da azafama dos pedidos, a treinar e tentar evoluir na língua estrangeira. Havia ainda um pequeno dicionário de Inlgês-Cambodjano, que, com elas, me ajudava a confirmar o soletrar das palavras. O meu não tão evoluído mas esforçadamente rigoroso inglês, com a ajuda do material, do empenho destas tão dedicadas alunas e do meu gosto por ensinar, era suficiente para ocuparmos as nossas horas de almoço e trazer algo de novo ao inglês destas jovens, e no fundo ao meu… o encanto de ensinar, ou melhor dizendo, do ajudar a aprender está no que também eu própria ganho de novo. A simpatia de Srey Nom e de Lay Siak contagiou-me, fazendo quase prometer-lhes que voltava ao Cambodja, antes de passados 3 anos, prazo que estipularam nas suas vidas para amealhar o preciso para voltar à escola.

O que mais me impressionou nestas jovens de 19 anos, foi a percepção do que a vida lhes pode trazer com um pouco mais de conhecimento. Elas sabem que o inglês é o primeiro passo para o sucesso, mas que além disso há mais para aprender, para estudar, querem apanhar o primeiro comboio para um curso, cujo bilhete é pago em inglês. Arrisco dizer que um trabalho como este, em que o contacto com estrangeiros é constante, possa ter sido um dos emissores dessa noção. A motivação é enorme, e basta um empurrãozinho de visitantes pacientes, para que estas sonhadoras consigam ter uma oportunidade de escolha, que todos merecem, que a todos desejo, como eu tive.


A despedida foi calorosa. Havia conhecimento suficiente para se desfazerem em obrigadas e no quanto tinha sido bom para elas aquelas aulas, aquela amizade. Vou contente, com nostalgia, aguardando ansiosamente noticias por aquele tão entusiasticamente trocado endereço de email.


Até logo.

Thursday, May 17, 2007

A fronteira do Cambodja

Foi passada a pé a arrastar as malas. Senti-me no tempo em que não havia estradas, nem carros, onde o único meio de transporte eram animais, ou o próprio pé… Antes do carimbo que finaliza a permissão de estada no Vietname, que nos diz que saímos mesmo deste país, apanhámos um barco, um autocarro e outra vez um barco. Eram dois dias de viagem desde Ho Chi Minh até Phnom Penh, com direito a dormida no meio e a uma visita pelo dia-a-dia do Mekong Delta. Ao princípio parecia mais do mesmo, do que já tínhamos visto na excursão anterior, mas afinal acabou por ser, tal como muito se diz por estas bandas, “same same… but different”.


Ao chegarmos ao posto fronteiriço entre os dois países, pelo quase inavegável rio que atravessa os países da Indochina desde do Tibet até ao Vietnam no Sul, esperamos pacientemente pelas burocracias legais. Comemos qualquer coisa e seguimos. Afinal estou no mundo moderno, levo a mala a passar no scaner garantindo idoneidade, recebo mais um carimbo, o que me deixa entrar no Cambodja e de novo ao barco. O scaner continua o único vestígio de modernidade aqui… o embarque é feito descendo a ladeira que quase atinge os 45º, da margem do rio, saltando para o barco que está preso apenas por um tipo que segura o cabo. Sem escorregar entro antes da mala trazida por um pequeno local estrategicamente posicionado para recolher mais uma gorjeta do turista… Ainda bem que existem! Ou já me via a nadar nas águas castanhas do Mekong sem saber da mala e do destino…

Seguimos viagem pela zona larga e de trânsito do mesmo rio, apreciando a paisagem até pisarmos terras cambojanas. O desembarcar foi tão ou mais inóspito que o anterior embarque. A ladeira declinava ainda mais, uma pequena tábua, bamba e escorregadia da lama ligava o barco a terra. Mais um salvador pequeno local encaminha a minha mala… Já só faltava uma viagem de autocarro até chegar a Phnom Penh, a capital deste tão selvagem e diferente país. A primeira impressão foi não fechar a boca. Tudo em obras. Um país que recupera de milhares de anos de guerras e invasões, e dos brutais tempos sob as regras do Kmer Rouge, que conhece a paz há escassos anos e onde até então não houve possibilidade de definição de sistema, nota-se que estás em arrumações de quem se mudou há pouco por imposição de alguma força maior. Mas o povo é simpático, afável, sem pelo na venta como o anterior. Mostra carinho e submissão querendo agradar sem ter de ser agradado.


Em Phonm Penh ficámos apenas o tempo de poder seguir para Siem Riep, a terra do Angkor Wat e seus templos construídos pelos Kmer Rouge, no século XIII. Para se visitar todos os templos são necessários 3 dias. Antiga cidade habitada pelos seguidores deste regime, que em modestas casas de madeira perdidas no meio da selva, admiravam os imensos templos de pedra onde os Deuses encontrariam um lar. Das casas de madeira não sobrou nada, foram totalmente destruídas por quem esteve no poder depois dos Kmer, que pela fúria dos mal tratos e massacres deste regime tentaram não deixar rasto do que foi o genocídio… Mas os templos, esses, desde sempre que resistem a qualquer tentativa de destruição.


A chegada a Siem Riep foi tranquila, apenas mais uma viagem de 6 horas de autocarro, com as típicas paragens em bancas de beira de estrada que nos oferecem fruta aquecida pelo sol, ou variados insectos grelhados, que eu evito por razões obvias da minha diminuta mas não inexistente esquisitice gastronómica. No fim da viagem, como num verdadeiro país da Ásia, milhões de homens de rickshaws (aqui chamados Tuc Tuc) invadem-nos com ofertas do transporte mais barato, ainda sem sequer termos um preço base. Escolhemos o mais persuasivo, que por elegermos a guest house do seu irmão nos leva de graça...

A vista aos templos no primeiro dia foi feita de bicicleta. Percorremos o circuito pequeno pela densa e bravia paisagem que a todo o momento nos pede uma fotografia, passámos pelo Angkor Thom e acabámos no grandioso Angkor Wat, um dos favoritos ao podium das maravilhas do mundo! A estação das chuvas deu-nos o templo vazio de turistas a observar o mundo pela objectiva da câmara, mas deu-nos também a maior molha de sempre na volta a casa… Para o povo asiático a chuva não é ameaça, para nós também não pôde ser…

No dia seguinte andámos 70 Kms de Tuc Tuc, mais uma vez acompanhadas por Herman e Veerle, um casal Belga que vive em viagem há largos meses que tão boa companhia e lições da cultura deste lado do mundo nos deram.

O caminho até esse longínquo templo mostra-nos mais deste inóspito país. Ao longo de toda a estrada vêem-se as casas de saias arregaçadas a prevenirem-se dos constantes e repentinos aguaceiros da época molhada, onde nos momentos secos também servem de acolhimento. Para além da beira da estrada pouco ou nada está povoado. As minas que ainda podem existir no subsolo proíbem qualquer hipótese de desbravar aquela selva… Virão em tempos próximos as brigadas anti minas? Ao mais destruído dos templos fizemos uma escalada por entre pedras e arbustos, ajudadas pelos simpáticos guardiães do nada que com o seu pobre mas sincero inglês me explicava por onde ir e ao que tirar fotografia. Here… Picture… foram as duas únicas palavras que ouvi em todo o percurso. Uma delicia pura à qual não se consegue resistir…

A nossa estada em Siem Riep derrapou 3 dias. A cidade é tranquila, o povo é simpático e a oportunidade de visita às Irmãs da caridade apareceu. Aproveitei para me dedicar à escrita, conseguindo lançar um post em tempo real e desenvolver mais textos sobre o sector das organizações sem fins lucrativos. Para o Laos vamos de avião, pois as escassas estradas do Cambodja obrigam-nos a dar uma volta de 2 dias…

Até logo!

Monday, May 14, 2007

O inesquecível Vietnam

O que faz a maravilha do um sitio é a experiência que se lá vive, e esta passagem pelo Vietnam trouxe-me vivências, sensações, experiências que me fazem ficar com o país para sempre na memória. As convivências com o povo que de pelo na venta consegue cativar e cria vontade de conhecer, e encontros com veraneantes que casualmente, mas felizmente escolhem a mesma praia, deixam-me com vontade de voltar. Assim será!
Seguindo viagem: A próxima carta do baralho da Mr. Travel era Saigão, capital do antigo Vietnam do Sul, chamada Ho Chi Minh City (HCMC) desde a unificação do país em 30 de Abril de 1975. Foi justamente nesta efeméride que chegámos… Ainda nos disseram que a possibilidade de encontrarmos sitio para ficar era remota dada a importante data que se comemorava nesse dia, mas sem alternativa seguimos o plano. O objectivo era procurar a praia algures na costa central e só depois voltar à cidade, até porque sabíamos que as nossas amigas, portuguesas em Shanghai iriam estar por aí a passar a semana de férias que o 1º de Maio dá aos chineses. Quando nos dirigíamos para a estação de comboio, onde já Nha Trang era o destino escolhido, soubemos que era justamente aí que estavam as luso-shanghainesas… Só pode ser bom, ou o guia tem comissão. Sorte a nossa!

A chegada ao prometido paraíso foi assustadora… Chovia… E a nossa praia? Veio me logo à memória “isto ainda abre” (que frase familiar…) abriu! Enquanto esperávamos pelo cessar chuva, sentámo-nos numas cadeirinhas de tamanho de criança de beira de estrada onde simpáticos vietnamitas nos acolheram com café, chá, sorrisos, e conversa. Ainda nos ajudaram no alojamento, desmistificando a preocupação do também feriado do trabalhador. Como é engraçada a simpatia deste povo no primeiro contacto. Recebem o turista, o visitante, o estrangeiro de braços abertos, com vontade de agradar para ser agradado… mas se não o é também consegue ser rude mostrando-nos como proceder… Há que aprender a lidar.

Depois do susto da chuva, encontrámo-nos com elas num dos muitos, mas talvez o melhor, bar na praia daquela cada vez menos pequena cidade turística de Nha Trang. Atrás de uma alameda de palmeiras que ladeia a marginal, esconde-se uma praia paradisíaca… ou assim a cognominei pelo anseio de banhos de mar há tempos... Mas era de facto paradisíaca. Entre lagosta fresca grelhada para almoço, ou águas de coco a meio da tarde, passávamos os dias desfrutando do verão e da companhia…
Mais paraíso ainda foi o destino seguinte. A companhia estava óptima e seguia para sul.
As 6h horas de viagem, alongadas pelo total desconhecimento do taxista de onde nos deixar, mas não tão intermináveis assim pela animação instalada, levaram-nos a Mui Né. Numa estrada que se diz aldeia, onde resorts variados a separam do mar, encontrámos finalmente o nosso... Enterrado na densa vegetação verde, um corredor entre quartos e bungalows guia-nos até uma piscina que desagua no mar. Que maravilha… fiquei deslumbrada a olhar a praia… Estava num sitio que sempre achei estar longe do meu alcance…

Entre mais águas de coco e divertidas canastas, com uns passeios de canoa no mar, ou um passeio de bicicleta ao encontro da actividade piscatória de Mui Né, passámos ali dias estupendos. O descanso do sol e da praia renovaram-me a alma… O casual (ou não) encontro com estas amigas, a Ana, a Barbara, a Madalena e a Maria, que nos receberam nas suas férias com uma naturalidade genuína, foi um dos responsáveis por esta nova bagagem que trago na mala.

Depois do merecido ou ansiado, mas aproveitado descanso seguíamos para Ho Chi Minh, cidade que desde do dia da chegada me tinha ficado no goto… Casas baixinhas, várias cores, muito verde, e milhões de motas que dominam o trânsito. Mas a ida não foi seguida. Deixámos a praia com um dia de sobra para ainda em tão boa companhia percorrermos os braços do enorme delta do rio Mekong. Protegidas como os locais do sol e da chuva, seguimos no barco rasteiro a voltinha das provas, entrámos pelos vários canais para desfrutar das iguarias que preparam para o turista. Rebuçados de coco ou ananás, fruta fresca, chá ou whisky ao som de musica típica, foi o que nos ofereceram. Além dos recursos naturais da zona, o turismo é umas das principais fontes de riqueza da gente do Mekong.

Na cidade de Ho Chi Minh, passámos ainda uma bela tarde de canastas e conversas antes do regresso delas a Shanghai. A nossa estada iria durar o tempo necessário para tratar da próxima paragem… Vistos e afins teriam de ser providenciados. Mas logo na primeira de milhões de agências de viagens daquela rua percebemos que são imensas as formas de ir para o Cambodja, e que o visto é comprado na fronteira, e tudo é tratado por eles. Marcámos partida para daí a 3 dias, e procurámos um pouco mais da cidade. Como qualquer uma asiática, Saigão não foge è regra da desordem. Atravessar a rua é de olhos fechados, as passadeiras são apenas riscos brancos no chão, e os sinais de trânsito são meros enfeites. As motas são o que de melhor tem esta cidade, dessas a 4 tempos, com mudanças automáticas, põe com a ponta do pé, tira com o calcanhar, onde a velocidade não é muita, mas também não é precisa, podem ser alugadas em qualquer esquina. Experimentámos apenas a pendura, como táxi, pois o conselho foi que neste trânsito só os locais…
Mas a volta ao Vietnam vai acontecer. Depois de percorremos o Cambodja e o Laos, voltaremos a entrar no país para descobrir as maravilhas do norte. Na cidade de Hanoi veremos se não alugo uma motinha…

Até logo.

Tuesday, May 8, 2007

Lembranças de Pequim

É a segunda vez que venho a Pequim… A expectativa estava assente nas lembranças do verão de 2004, quando viemos ter com a Sofia para passar 15 dias. Escrevo com comparação, procurando novidade...


Depois de mais uma viagem passada de noite que nos desperta antes do sono estar completo, chegamos à estação ferroviária de Pequim. Eram 7h da manhã, e ainda sem perceber que já não estava a dormir, numa fila interminável para apanhar um táxi, de malas às costas, já a cidade tinha um movimento de quem acordara há largas horas. Entre a sonolência e a curiosidade observo o redor, tudo me parecia familiar, mas ao mesmo tempo novo. Quando entramos no trânsito reconheço a cidade. A “nossa” rua está igual, alcatroada de novo, mais limpa e arrumada, mas igual… O caótico trânsito que nos colava o estômago às costas parece agora mais ligeiro e organizado, os táxis são maiores e inspiram mais confiança, os vendedores de rua aparecem menos e notam-se os preparativos para a chegada dos olímpicos de 2008 em toda a cidade. Os canteiros de rua continuam impecavelmente mantidos e as bicicletas já são mais que 9 milhões.

Desta vez a estada foi diferente, ficámos em casa da FanShan, uma anfitriã 5 estrelas. Tínhamos tudo organizado. O tour ideal para o tempo que íamos ficar em Pequim, os nomes das ruas em chinês para indicarmos aos taxistas mais preguiçosos que ainda não engrenaram no inglês, o jantar em casa todos os dias com verdadeira cozinha chinesa, e a sermos tratadas como as verdadeiras netas da avó da Sisi… Estivemos como em casa da Mãe…

A primeira tarefa era tratar do visto para o Vietname, a nossa paragem seguinte. Já nos tínhamos atrasado na chegada a Pequim com a perca do comboio, e com o visto da China a expirar nos 5 dias seguintes, estávamos em contra relógio. Tratadas as obrigações abrimos o guia da FanShan e seguimos caminho. Os locais a visitar eram os mesmos, os que já conhecia… mas há sempre coisas diferentes a reparar e para mim a novidade esteve na relação com a expectativa. A emoção da Carmo ao querer ver a capital do Império do Meio mostrou-me também um bocadinho mais desta Pequim.

O tempo era escasso, a cidade era grande, a gestão tinha de ser bem feita, mas a organização à medida, do guia caseiro levou-nos tranquilamente, sem correrias nem muitos cansaços à maravilha cultural de Pequim…

Nos grandiosos jardins as atracções dos velhotes continuam a deliciar-nos e a convidar-nos a participar nas suas danças e nos seus jogos. No Templo do Sol, também conhecido como Ritan Park, encontrámos cânticos a entreter as horas de descanso dos trolhas que ultimam os pormenores para a perfeição dos jardins. No Templo do Céu apreciamos os imensos canteiros que a primavera plantou, sempre com um brilho de acabado de ser limpo. O Beihai Park, ou Templo de Inverno, às 7h da manhã mostra-nos a longevidade deste povo. Desde várias formas de TaiChi e danças de salão ao som de música chinesa, a actividade é grande e não nos desprende a atenção.

O Palácio de verão foi guardado para visitar ao fim do dia na tentativa de ver o pôr do sol, que não nos quis dar a sua graça por culpa do tempo… Passeámos a pé, andámos de barco, desfrutámos o templo do outro lado do lago… Foi aqui que mais recordações tive desse verão em Pequim, daquela tarde que parecia não querer acabar, nem o sol se punha nem nós queríamos ir…


O comércio também não nos escapou. Entre os armazéns de fake até ao mercado das antiguidades as compras são indispensáveis… Não pudemos deixar de ir ao Armazém da FanShan dar uma voltinha… não nos fosse apetecer levar uns suvenirs chineses…

A procura das lojas de rua é que foi em vão… Daqueles hutongs, com bancas de comércio a vender o que têm e o que não têm, debruçadas de forma anárquica nas ruas, já pouco ou nada existe. A renovação da cidade limpou e restaurou a maior parte destes verdadeiros bairros chineses, onde o negócio pessoal e caseiro é substituído por lojas arrumadas dentro de casa e onde o turista pode passear em Rickshaws de luxo à volta do bairro. Nós optámos pela bicicleta para reconhecer um pouco destes Hutongs renovados…

Na cidade proibida passeámos como verdadeiras turistas depois de subir ao cume de um jardim atrás dos imensos telhados que nos mostra a verdadeira grandiosidade da cidade do Mao…


A ida à Muralha da China foi bem diferente… Para fugir ao típico local turístico que nos invade de bancas de lojas a vender muralhas em ponto pequeno, mas que ainda assim vale a pena, seguimos os conselhos do Rui, um português de férias em Pequim que encontrámos completamente por acaso... É um formato novo que nos possibilita ir de uma cidade a outra, Jinshaling até Sematai pela Muralha. Foram 10 Km a escalar pedra onde ainda se podem ver escritos os nomes dos soldados da dinastia de Ming. Muita muralha vimos nós… Andávamos, andávamos, andávamos e havia tanta pedra para a frente como para trás… sentia-me em alto mar sem avistar pinta de terra. Mas uma paisagem maravilhosa…


Até logo