Tuesday, December 4, 2007

Uma visita à Patagónia

Esta enorme região do sul do Chile e da Argentina, que foi povoada pelos índios patagónios, está limitada pelos seu próprio solo. Como diz Bruce Chatwin, que vive e escreve apaixonadamente as suas viagens, quem visita a Patagónia sabe onde ela começa e acaba, basta pisa-la. Os parques naturais, zonas protegidas, paisagens jamais vistas, lugares que só o observar pode imaginar, são imensos. Deixam a vontade de voltar a qualquer viajante que vem seja por quanto tempo for. Há sempre algo mais para ver, uma luz diferente, uma outra perspectiva, um outro amanhecer. Ao ler as linhas que os verdadeiros conhecedores desta enorme reserva natural escrevem imagina-se que nem postais, nem fotografias podem fazer passar quão imponente e deslumbrante se mostra a natureza neste canto do sul mundo.

Chegados a Puerto Natales, o local de partida para o parque natural de Torres del Paine, depois de alojamento tratado, seguimos na programação dos próximos passos. Visitar este parque natural vai além das torres, aquelas três montanhas que sobressaem sem qualquer hipótese de não se ver, da imensa e majestosa paisagem que as rodeia... Os aficionados trekkers’ procuram fazer o W, chamado assim pela sua evidente forma. As torres era o meu objectivo. Desbravar um pouco mais era o objectivo da Carmo. Acordadas vontades, eu segui para o trekking de um dia, a vista às famosas torres del Paine, e a Carmo seguiu à procura do seu W. Encontrámos cada uma a companhia ideal complacente com as nossas vontades e buscámos este parque natural de forma diferente. O tempo não estava o melhor. O frio não se queria ir embora, e as suas amigas nuvens fizeram questão de não o abandonar... Mas ainda assim seguimos para o nosso tour de um dia, em busca daquilo que nos fizera seguir, que tantos postais e panfletos nos mostraram. Foi com as amigas do barco que segui naquele dia para visitar as torres. Caminhámos toda a manhã, subindo, descendo, passando riachos, admirando em volta, hesitando subir os vestígios de avalanches para alcançar as torres pois o esforço corria o risco de não compensar a coberta vista do que procurávamos. Em boa hora decidimos não parar, não desistir. A subida foi árdua, lenta e violenta, mas a vista, mesmo que tapada, ou atrás da bruma valeu mais que o esforço ter “escalado” aquele monte de pedras...

De Puerto Natales seguia-se ainda mais para sul... Seguiamos para o chão do mundo, o fim, a verdadeira cidade austral, a mais perto do pólo que merece por tudo isto uma visita. Eram longas horas de viagem até a Ushuaia.
A imposição de uma troca de autocarro em Punta Arenas, sugeriu-nos parar aqui uma noite e aproveitar a visita a uma das imensas colónias de Pinguins da Patagónia perto desta cidade. A meio da tarde, esperando que despertassem do descanso, fomos ver como acordam estes pinguins do sul.

Saindo de Punta Arenas, continuando para sul, atravessa-se esse famoso estreito que Fernando de Magalhães descobriu na ânsia de provar que era possível atravessar do Atlântico para o Pacífico por mar.
Aí sim, estávamos na Terra do Fogo, esta ilha quase polar, quase toda chilena, onde habita a cidade Argentina mais ao sul do mundo, Ushuaia, o nosso destino. Que estranha a sensação de pensar que se tocou fim... pensar que dali já não há por onde seguir, chegámos ao fim, ao fim do mundo. Pode parecer estranha esta forma de catalogar uma cidade que existe e sobrevive apenas porque tem uma situação geográfica diferente, e por isso cobiçada por muitos, tal como por mim, mas na verdade fez-me sentir pequena, mas ao mesmo tempo satisfeita como quem acaba uma tarefa... Dali estava pronta para subir, para voltar.

Como se terão sentido os descobridores que partiam em busca de algo sem nunca saber se esse algo existia de facto, sem nunca saber onde estaria o fim, se é que o fim existia? Como se sentiriam ao olhar a linha concava do horizonte que faz adivinhar um precipício, um fim de mundo, e mesmo assim seguiam em frente atrás da cenoura curiosidade?

Ao deixar Ushuaia, naquele amanhecer rosado, com o mar nas costas e estrada na proa, via-me a ir em direcção a casa. A cada minuto que passava estava mais perto. Ainda que a uma distancia enorme de casa, mais longe do que de onde vinha já não ia estar mais...

Mas a Patagónia ainda não acabara, nem nunca vai acabar para mim para já. Esperavam-nos os glaciares argentinos em El Calafate. Era para lá que seguia o nosso autocarro, eram no mínimo 20 horas que tinhamos pela frente até esse destino... Cruzar fronteira, atravessar estreito, tentar cruzar de novo fronteira onde a greve dos serviços alfandegários nos fazem esperar 2 horas, trocar de autocarro noutra cidade centro de rotas e chegar finalmente a El Calafate perto da 1e30 da manhã e seguir em busca de um hotel, era o que nos esperava aquele imenso e longo dia. Nesta cidade ficámos 5 dias.

A visita ao glaciar Perito Moreno era o nosso principal objectivo ali. Já com a companhia da Carmo, seguimos na excursão para ver este enorme glaciar. O único do mundo que mantém o tamanho, pela constante criação e retrocesso mais ou menos em simultâneo. Este glaciar alimenta o lago argentino, dando-lhe um azul turquesa único e recheando-o de blocos de gelos flutuantes. Estes blocos são resultantes das quedas de gelo que durante a estação quente, se soltam da enorme parede de 60 metros de altura, deixando turistas como nós especados a olhar para o gelo à espera de poder visualizar o som que já se ouve há horas dentro da rocha gelada... São momentos únicos, inesperados, difíceis de fixar na maquina. O momento certo chega tão inesperadamente que nem os olhos, e muito menos a camara o conseguem apanhar por completo.

Com picos nos pés, luvas nas mãos, óculos escuros na cara, estávamos prontos para andar em cima desta enorme auto-estrada de gelo que rasga as montanhas até à sua fonte. O “trekking” no gelo foi bem emocionante e divertido, acabando da melhor maneira, com um delicioso Alfajoz argentino e um golo de Whisky on the rocks, tiradas do próprio glaciar Perito Moreno! Assim manda a tradição!


El Calafate é uma cidade pequena, tranquila, turística, ponto chave para os parques naturais em redor. Ficar por aqui uns dias soube mais que bem... De bicicleta, com Marieke, espreitei o lago e as suas imensas espécies de aves que o habitam, deixando-me ainda mais encantada com a cidade. Foi uma maneira brilhante de acabar a visita à Patagónia...

Daqui seguimos para Buenos Aires, onde a agitação da cidade grande vai substituir a tranquilidade das pequenas vilas do sul do continente do sul. La movida nos espera!

Até logo!

5 comments:

Anonymous said...

bjs do constipado

MRA said...

Acabou em beleza...com a imagem da bicicleta.
bjs

MRA said...

Gostei de estar contigo na esplanada de uma praça qualquer na América do Sul...

RSF said...

Começa a voltar aos poucos que nós cá estamos à tua espera.
Bjs
RSF

Anonymous said...

tou com imensas saudades!
bj da tua irma