Tuesday, January 15, 2008

O rio Iguaçu

A nascente mais viva e mais caudalosa do mundo será a do rio Iguaçu, a força com que ele cai a pique pela garganta do diabo faz imaginar que toda a água que existe no mundo está ali. Não é possível tanta água junta ao mesmo tempo... O seu enorme caudal, provocando constantes problemas de cheias nas povoações das suas margens mostra a força deste leito, a sua bravura… Até o seu curso normal foi alterado pelo homem fazendo criar o ponto zero deste rio numa zona onde a subida das águas não devastasse tanto.

O rio Iguaçu nasce da junção de dois rios brasileiros, o Iraí e o Atuba, e vem desaguar num canto de fronteiras entre Argentina, Brasil e Paraguai, no Rio Paraná na povoação brasileira de Foz do Iguaçu. Chega ao canto, parecendo não ter para onde ir, cai em queda livre por penhascos gigantescos, continuando a correr com a força de um rápido obrigando o barco “todo o terreno” a usar de toda a sua potência na “tracção às 4 rodas” para o vencer. Lutando contra a corrente, o barco cheio de turistas sentadinhos e alinhados, de colete vestido, aproxima-se o mais que pode do fim da imensa queda de água que os encharca num segundo. Como não podia deixar de ser, também vestimos o colete para partilharmos da mais impressionante aproximação à base das cataratas... eu não vi nada, pois a água não deixou, mas ficámos bem molhadinhas.

O destino escolhido para deslumbrar esta obra-prima da natureza, património da humanidade, foi a cidade de Puerto Iguaçu, uma pacata e tranquila povoação no norte argentino que alberga quem quer vir ver os encantos das quedas de água. Por (in)disponibilidade de autocarros ficámos 3 dias nesta cidade. Vínhamos da agitada vida de Buenos Aires e ansiávamos descanso, tranquilidade e natureza. A viagem de mais do que as suportáveis horas de camioneta deixou-nos às 3 derreadas, e a procura de um bom sitio para ficar era mais urgente que nunca. Sucumbindo ao cansaço fomos com o primeiro assédio que nos interceptou no terminal de autocarros. Descansar era a prioridade, mas tratar dos próximos passos era necessário. Então, antes que a fraqueza nos atingisse, saímos em busca dos planos futuros – marcar a visita às cataratas e decidir a ida para o Rio de Janeiro, nosso próximo e último destino. Feitas as agendas era o dia seguinte o dia de visita aos maiores saltos, em volume, de água do planeta.

A ida para casa estava cada vez mais perto. A vontade de parar já me tinha abordado várias vezes, camuflando ou mesmo quase abafando a vontade de continuar a procurar os melhores tours para rondar as tão ansiadas cataratas. Mas era ali que estávamos, era aquilo que tínhamos escolhido e querido ver. E queríamos de facto estar ali. Fazendo a razão prevalecer sobre uma emoção criada por cansaço e saudade, fazendo-as mudar de posições, mal podia esperar pelo dia seguinte. Eu já só pensava no que poderiam ser essas enormes quedas de água que segundo a lenda foram criadas pela fúria do pai da princesa índia Naipí que ao vê-la fugir com um índio numa canoa pelo rio abaixo, abre as enormes fendas no curso do leito Iguaçu fazendo-os cair pelo abismo e transformando o índio numa palmeira e a princesa numa pedra junto da queda de água, de maneira a que os dois nunca se tocassem, apenas se vissem…

Muitas são as formas de visitar estas enormes cataratas. As diferentes perspectivas têm diferentes nacionalidades. A argentina foi a nossa escolhida. Passámos um dia inteiro a deambular pelos imensos pontos de vista da paisagem. Aquela aproximação de barco ao sopé da enorme cascata não me permitiu abrir os olhos nem quase respirar, deixando-me apenas uma sensação… sem imagem. Mas entrando pelos caminhos a dentro a pé, o espanto aparecia a cada ponto de vista. Quando já parecia que tudo estava visto, mais uma imensa linha de cataratas e cataratas seguidas surgia por entre a densa vegetação local. O meu queixo caía como a força da água, a beleza da paisagem deixava-me perplexa. Que imponência!


Foram 3 bons dias na povoação de Puerto Iguaçu. A visita às quedas de água deixou-nos espaço para a vontade de não fazer nenhum até chegar a hora de partir outra vez. Passeios e banhos no rio perto do hotel souberam a descanso ansiado e merecido. Ainda convencidas que merecíamos sempre uma boa distracção e convívio, deixámo-nos ir experimentar mais um belo repasto argentino na companhia do seu conterrâneo vinho. A companhia da Lizze deu-nos mais ânimo ainda. Com mais uma pitada de insistência vinha connosco para o Rio, mas a vida continua, os caminhos eram outros e a separação era inevitável. Dali sabemos que levamos uma amizade, com a certeza de a vermos em Portugal um dia (tal não terá sido a nossa tão eficaz publicidade ao pacato e maravilhoso país da cauda da Europa…).

Até logo!

2 comments:

Anonymous said...

muito bom ter-te por perto!...mas saber-te em sítios tão bonitos, diferentes...tb é optimo! que privilégio!

bjs,

LEEE

Anonymous said...

Voltei a viajar. Já estava com saudades. E não é que o postal chegou depois da autora.