Saturday, September 22, 2018

Outras Viagens

Viajar em trabalho muda-nos o foco das prioridades de quando viajamos em lazer. O trabalho é o objectivo, a viagem é o meio. Havendo a possibilidade de conhecer algum lugar novo, outras culturas, outras gentes, aproveita-se como um beneficio extra da obrigação. É um beneficio que procuro muitas vezes, mas desta receava não encontrar. Estes 3 dias adivinham-se duros. Sabia que além do que me levava ali, havia o que preenchesse as horas além do dia por outras obrigações paralelas... Além de que esta era a semana mais cobiçada para aquela cidade, por vários eventos de diferentes áreas a escolherem para acontecer e por isso a logística normal ter sido mais difícil.

O Hotel era longe, novo, diferente do costume e isolado. A difícil acessibilidade (a meu ver) preocupava-me para a manhã seguinte. Afinal o dever chamava-me e a exigência da pontualidade não me relaxava. Quando dou o meu nome para confirmar a reserva, a resposta não foi imediata. Algum idioma além do francês do lado de lá do balcão da recepção era inexistente. Em nenhum dos 3 cartõezinhos para os hospedes daquela noite estava o meu nome. Já passava das 10h… O recepcionista, depois de verificar a lista impressa dos clientes daquele dia 4 vezes, pegou no telefone para ligar à chefe, que tinha o mesmo nível de inglês que ele próprio, ou seja, o nível do meu francês. Passou-me o telefone e foi conversa de surdos. A senhora desligou sem dizer nada e em menos de um fosforo estava atrás de mim. Não temos quarto para si, lá percebi entre gestos e palavras soltas. A reserva não foi feita. Nem o email que mostrei, recebido como confirmação dessas plataformas que supostamente ajudam a pessoa a marcar hotéis, foi prova que bastasse. Culpando a plataforma, tirando de si a responsabilidade, começou à procura de alternativa. Ligava para hotéis da zona sem qualquer manifestação de estar a atender um cliente. A sua cara de base branca, com umas enormes pestanas pretas carregadas de rímel, realçando o loiro mais branco ainda manifestamente falso, não declarava qualquer indicio do que estaria ela a fazer. Estávamos perdidos na tradução… Há um hotel, vou chamar um táxi. Não há táxis… Mais uns minutos de não interacção pessoal e diz-me que há um quarto. Por magia, um daqueles cartõezinhos afinal não tinha dono e ficou para mim. Mas só por aquela noite. A possibilidade de estender para as 3 que eu precisava, e tinha marcado, não existia. Na verdade, eu já nem queria. O stress e o medo de estar algures em parte incerta assaltaram-me roubando-me a paciência e a compreensão. Para se desculpar ofereceu-me o pequeno almoço. Levou-me ao quarto que me destinou daquele hotel de beira de estrada de clientela duvidosa com porta directa para rua. Parti na manhã seguinte antes da hora antecipando atrasos pela longa (ou desconhecida) distancia, ou trânsito, ambicionando conseguir um hotel normal e numa zona conhecida.  

Missão para o dia, encontrar um hotel para a noite. Ainda faltavam duas… No meio da reunião com o cliente, as plataformas já pouco credíveis eram o meu ecrã. A atenção disparava para os dois sentidos, premiando a reunião em detrimento da pesquisa aumentando a angustia. Várias frentes procuravam o mesmo. Várias zonas da cidade eram sugeridas. O orçamento possível, esse, era imutável, o que dificultava a procura. A estratégia passou rapidamente para procurar uma mais uma noite, em vez de duas seguidas.  Já passava das 5 da tarde quando apareceu uma combinação possível, zona, preço e apenas uma noite, graças à preciosa ajuda vinda de Lisboa por quem nos ajuda nestes temas. Era no centro da cidade. Muito fácil acesso, via comboio e depois metro. Seguindo as indicações de saída da estação de comboio, dei por mim e estava na rua. A alternativa sugerida por uma colega local, de em vez de metro fazer 15 minutos a pé foi a escolhida. 15 passa a 20 dado os saltos, a mala, a noite mal dormida e um dia em cima. Chego ao hotel o meu nome estava no cartãozinho. Já não ia para cedo, mas a certeza de saber onde estava e ter uma cama para dormir, abriu o apetite e fez-me sentar numa esplanada típica da zona agitada. Ali sim, estava segura, tranquila e animada. Ainda nesse dia tínhamos encontrado outro hotel para o dia seguinte. Saí de manhã de malas atrás, depois de mais um check-out, e segue para o comboio. Passa-se o dia tranquilamente na certeza de ter um teto para dormir à noite e volta ao comboio. Segui a direcção até à estação indicada por quem conhece e de seguida rumo ao hotel. O meu nome não estava na lista. Pedimos desculpa mas a sua reserva não ficou confirmada. Quem a fez foi avisado hoje de manhã. Voltei a mostrar o email de confirmação enviado por outra dessas plataformas, mas nada. Que faço eu à minha vida agora, pensei! Demorei 5 longos segundos a voltar a mim e perguntei como pensava ela resolver a questão. A recepcionista era única. A fila de hospedes era alguma. Todos iam recebendo o seu cartãozinho, e eu nada. Liguei para quem tinha feito a reserva. Mais uma dessas plataformas facilitadoras nas quais não podemos confiar. Expus o caso, aqui todos falávamos a mesma língua, e perguntei como iriamos resolver. Pediu-me que aguardasse em linha, que ia entrar em contacto com o hotel. Eu fiquei a ouvir em estéreo a música do senhor da plataforma que marca hotéis de um lado e a recepcionista do hotel do outro, a falarem entre eles. Depois de mais alguma conversa e de aguardar um pouco com outro pedaço de música recebo a noticia de que encontraram um hotel. Foi o senhor da plataforma. Só que era um pouco acima do orçamento, e acima da reserva feita, pois o único quarto disponível era gama conforto. Um ou dois níveis acima do quarto simples daquele hotel de 4 estrelas. Mas entre o hotel e a plataforma alguém cobriria a diferença… recebi mais um email de confirmação da reserva e pedi para me chamarem um táxi. Nisto eram quase 9 da noite e havia ainda trabalho para fazer e tentar comer qualquer coisa entretanto. Chego ao outro hotel, e volto ao ritual do costume. Dou a minha identificação e espero. Espero. Espero. O senhor era novo ali talvez… pensei. Finalmente lá olha para mim e pergunta, onde é que fez esta reserva? Mostrei o email de confirmação e esperei outra vez, calmamente. Já sei que o stress não ajuda e a pressa é inimiga da eficiência e da solução. Não temos este quarto… vou ter de lhe dar outro de um nível abaixo, que por acaso temos livre… pedimos imensa desculpa pelo sucedido. Nem sei como é que conseguiu marcar este quarto. Mas claro que para mim, depois de 2 noites e 3 hotéis, o nível básico de quatro estrelas numa zona nobre da cidade, seria mais que suficiente. Eu só queria fazer o check-in e descansar. Amanhã quando sair faço a reclamação. Posso oferecer-lhe o pequeno almoço… No dia seguinte lá fiz mais um check-out, o terceiro em 3 dias.
Tudo corre bem quando acaba bem! 

Até à próxima!

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