Viajar em trabalho muda-nos o
foco das prioridades de quando viajamos em lazer. O trabalho é o objectivo, a
viagem é o meio. Havendo a possibilidade de conhecer algum lugar novo, outras
culturas, outras gentes, aproveita-se como um beneficio extra da obrigação. É um
beneficio que procuro muitas vezes, mas desta receava não encontrar. Estes
3 dias adivinham-se duros. Sabia que além do que me levava ali, havia o que
preenchesse as horas além do dia por outras obrigações paralelas... Além de que esta era
a semana mais cobiçada para aquela cidade, por vários eventos de diferentes áreas
a escolherem para acontecer e por isso a logística normal ter sido mais difícil.
O Hotel era longe, novo, diferente
do costume e isolado. A difícil acessibilidade (a meu ver) preocupava-me para a
manhã seguinte. Afinal o dever chamava-me e a exigência da pontualidade não me
relaxava. Quando dou o meu nome para confirmar a reserva, a resposta não foi
imediata. Algum idioma além do francês do lado de lá do balcão da recepção era
inexistente. Em nenhum dos 3 cartõezinhos para os hospedes daquela noite estava
o meu nome. Já passava das 10h… O recepcionista, depois de verificar a lista impressa
dos clientes daquele dia 4 vezes, pegou no telefone para ligar à chefe, que
tinha o mesmo nível de inglês que ele próprio, ou seja, o nível do meu francês.
Passou-me o telefone e foi conversa de surdos. A senhora desligou sem dizer
nada e em menos de um fosforo estava atrás de mim. Não temos quarto para si, lá
percebi entre gestos e palavras soltas. A reserva não foi feita. Nem o email
que mostrei, recebido como confirmação dessas plataformas que supostamente
ajudam a pessoa a marcar hotéis, foi prova que bastasse. Culpando a plataforma,
tirando de si a responsabilidade, começou à procura de alternativa. Ligava para
hotéis da zona sem qualquer manifestação de estar a atender um cliente. A sua
cara de base branca, com umas enormes pestanas pretas carregadas de rímel,
realçando o loiro mais branco ainda manifestamente falso, não declarava
qualquer indicio do que estaria ela a fazer. Estávamos perdidos na tradução… Há
um hotel, vou chamar um táxi. Não há táxis… Mais uns minutos de não interacção
pessoal e diz-me que há um quarto. Por magia, um daqueles cartõezinhos afinal não
tinha dono e ficou para mim. Mas só por aquela noite. A possibilidade de estender
para as 3 que eu precisava, e tinha marcado, não existia. Na verdade, eu
já nem queria. O stress e o medo de estar algures em parte incerta
assaltaram-me roubando-me a paciência e a compreensão. Para se desculpar
ofereceu-me o pequeno almoço. Levou-me ao quarto que me destinou daquele hotel
de beira de estrada de clientela duvidosa com porta directa para rua. Parti na
manhã seguinte antes da hora antecipando atrasos pela longa (ou desconhecida)
distancia, ou trânsito, ambicionando conseguir um hotel normal e numa zona
conhecida.
Missão para o dia, encontrar um
hotel para a noite. Ainda faltavam duas… No meio da reunião com o cliente, as
plataformas já pouco credíveis eram o meu ecrã. A atenção disparava para os dois
sentidos, premiando a reunião em detrimento da pesquisa aumentando a angustia. Várias
frentes procuravam o mesmo. Várias zonas da cidade eram sugeridas. O orçamento
possível, esse, era imutável, o que dificultava a procura. A estratégia passou
rapidamente para procurar uma mais uma noite, em vez de duas seguidas. Já passava das 5 da tarde quando apareceu uma
combinação possível, zona, preço e apenas uma noite, graças à preciosa ajuda vinda de Lisboa por quem nos ajuda
nestes temas. Era no centro da cidade. Muito
fácil acesso, via comboio e depois metro. Seguindo as indicações de saída da
estação de comboio, dei por mim e estava na rua. A alternativa sugerida por uma
colega local, de em vez de metro fazer 15 minutos a pé foi a escolhida. 15
passa a 20 dado os saltos, a mala, a noite mal dormida e um dia em cima. Chego
ao hotel o meu nome estava no cartãozinho. Já não ia para cedo, mas a certeza de
saber onde estava e ter uma cama para dormir, abriu o apetite e fez-me sentar
numa esplanada típica da zona agitada. Ali sim, estava segura, tranquila e
animada. Ainda nesse dia tínhamos encontrado outro hotel para o dia seguinte.
Saí de manhã de malas atrás, depois de mais um check-out, e segue para o
comboio. Passa-se o dia tranquilamente na certeza de ter um teto para dormir à
noite e volta ao comboio. Segui a direcção até à estação indicada por quem
conhece e de seguida rumo ao hotel. O meu nome não estava na lista. Pedimos
desculpa mas a sua reserva não ficou confirmada. Quem a fez foi avisado hoje de
manhã. Voltei a mostrar o email de confirmação enviado por outra dessas plataformas, mas
nada. Que faço eu à minha vida agora, pensei! Demorei 5 longos segundos a
voltar a mim e perguntei como pensava ela resolver a questão. A recepcionista
era única. A fila de hospedes era alguma. Todos iam recebendo o seu
cartãozinho, e eu nada. Liguei para quem tinha feito a reserva. Mais uma dessas
plataformas facilitadoras nas quais não podemos confiar. Expus o caso, aqui
todos falávamos a mesma língua, e perguntei como iriamos resolver. Pediu-me que
aguardasse em linha, que ia entrar em contacto com o hotel. Eu fiquei a ouvir em
estéreo a música do senhor da plataforma que marca hotéis de um lado e a
recepcionista do hotel do outro, a falarem entre eles. Depois de mais alguma
conversa e de aguardar um pouco com outro pedaço de música recebo a noticia de
que encontraram um hotel. Foi o senhor da plataforma. Só que era um pouco acima
do orçamento, e acima da reserva feita, pois o único quarto disponível era gama
conforto. Um ou dois níveis acima do quarto simples daquele hotel de 4
estrelas. Mas entre o hotel e a plataforma alguém cobriria a diferença… recebi
mais um email de confirmação da reserva e pedi para me chamarem um táxi. Nisto
eram quase 9 da noite e havia ainda trabalho para fazer e tentar comer qualquer
coisa entretanto. Chego ao outro hotel, e volto ao ritual do costume. Dou a
minha identificação e espero. Espero. Espero. O senhor era novo ali talvez…
pensei. Finalmente lá olha para mim e pergunta, onde é que fez esta reserva?
Mostrei o email de confirmação e esperei outra vez, calmamente. Já sei que o
stress não ajuda e a pressa é inimiga da eficiência e da solução. Não temos
este quarto… vou ter de lhe dar outro de um nível abaixo, que por acaso temos
livre… pedimos imensa desculpa pelo sucedido. Nem sei como é que conseguiu marcar
este quarto. Mas claro que para mim, depois de 2 noites e 3 hotéis, o nível básico
de quatro estrelas numa zona nobre da cidade, seria mais que suficiente. Eu só
queria fazer o check-in e descansar. Amanhã quando sair faço a reclamação.
Posso oferecer-lhe o pequeno almoço… No dia seguinte lá fiz mais um check-out,
o terceiro em 3 dias.
Tudo corre bem quando acaba bem!
Tudo corre bem quando acaba bem!
Até à próxima!
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