Não digo adeus pela conotação vitalícia da palavra...
Delhi foi uma experiência muito boa. Grande.
Levo nostalgia, levo recordações da luta quotidiana contra a desorientação e desorganização que eram atenuadas com o passar dos dias, levo saudades da interpretação constante de um povo que em nada se parece com o meu mas que ganhou um lugar especial no meu coração, levo memórias da conquista diária de mais umas linhas de texto para o trabalho e da procura de novos contactos, levo amigos que criei e de quem não me vou esquecer…
Esta pesquisa, a responsável pelo último empurrão para a viagem, graças ao contexto social da Índia teve um avanço enorme nestas últimas 3 semanas em Delhi. De ONG em ONG, com um caderno e uma caneta na mão entrava a agradecer a disponibilidade para me ouvirem… Formalidades à parte, começávamos a conversa. A paciência era extrema, de sorriso na boca, contavam-me a história que eu pedisse, que acabava por se prolongar no tempo sem darmos por nada. Chegava a casa com páginas e páginas escritas com tudo o que cada Organização faz, como faz, com quem faz… muitos fins de tarde eram preenchidos com a leitura dos apontamentos.
No dia que deixei Delhi para seguir viagem já com a ansiada companhia da Carmo, tive a oportunidade de conhecer o trabalho de uma ONG para além dos escritórios na cidade, finalmente! Da teoria à prática.
Fomos visitar uns centros de apoio a crianças e jovens raparigas. Esta oportunidade foi-me dada por uma das ONG com quem falei.
Reena, uma rapariga indiana, que viveu a sua infância e juventude numa vila remota no Nepal, vem viver para Delhi aos 19 anos, quando o Pai é aqui colocado. Filha única de um casal pobre, cuja falta de oportunidade de educação empurrou todos os esforços para que Reena tivesse acesso a continuar os estudos para além dos básicos. A sua vontade de trabalhar com a comunidade levou-a a entrar no mundo das ONG. Persistente e teimosa, sem desistir de uma causa por impedimentos exteriores, criou a sua própria ONG em 1994 - Nav Srishti, expressão indiana para “Novo Horizonte”, que trabalha no sector da educação das crianças e desenvolvimento de jovens mulheres, em Delhi e estados vizinhos.
Chegámos ao escritório de Reena, que, ao contrário das outras ONG que visitei que se identificavam imediatamente com placas na porta com nome e logótipo, é num andar num prédio numa zona residencial, cedido gentilmente pelo marido de Reena. Fomos igualmente recebidas com o habitual Tchai, e aguardámos pacientemente por Doli, staff de Nav Srishti que entre outras responsabilidades visita regularmente cada um dos centros de apoio, vendo e constatando que tudo corre como deve.
O primeiro centro visitado foi um de Educação Não Formal, onde as crianças mais pobres daquela comunidade têm aulas de ensino básico que lhes dão competências para concorrerem aos exames de admissão das escolas públicas. Na sala de aula existe apenas uma cadeira, a da professora, parte integrante também do pessoal profissionalizado de Nav Srishti. O chão está coberto de tapetes onde de forma alinhada de frente para o quadro se sentam as crianças de pernas à chinês de caderno e lápis no colo, prontos e ansiosos pelo começo da aula.
Na entrada da supervisora na sala todos se levantam com uma enorme alegria e em coro, com continência, saúdam Doli “good morning madam”. Com a permissão da professora, voltam a sentar-se agradecendo com a mesma música e a mesma satisfação, exibindo com o maior sorriso que conseguem o seu inglês e a sua boa educação na presença de pessoa importante “thank you madam”… A dedicação das 4 professoras daquele centro com as crianças é visível a olho nu e a receptividade de cada uma das crianças vê-se da mesma forma, em cada sorriso que nos davam mostravam a alegria e o orgulho de estarem na “escola”.
Outro dos centros que visitámos foi onde raparigas com 16/18 anos, por não ter hipótese ou vontade de estudar, têm lições de costura, de cabeleireiro, ou qualquer outra tarefa que lhes crie gosto pelo trabalho e que as leve ao desenvolvimento pessoal e profissional, que lhes dê um futuro. A princípio a nossa chegada intimidou-as. Foram-nos mostrando as instalações um pouco a medo… As tentativas de abordagem foram várias, mas o inglês apenas existia em Doli, que estava ocupada com o cumprimento da sua rotina de supervisão e pouco tempo tinha para nós. Mas a comunicação é fácil quando a empatia aparece, ao fim de poucos minutos já estávamos todas melhores amigas. Cantámos, dançamos, servimos de cobaias nas suas aprendizagens técnico profissionais, tirámos fotografias, foi uma manhã diferente e muito divertida. O trabalho de Doli arrancou-nos da dança, com muitos sorrisos e obrigadas, fomos embora.
De Delhi levo boas recordações, bons momentos, e algum trabalho…
Até logo.
7 comments:
É tão bom ler estes bocadinhos. Próxima feira do livro já se encontra :"360º - a volta-da-rita"?. Dás autografos? Até assim é bom viajar.
Mts bjs,
L.
Estou a adorar os relatos, sempre que posso venho lê-los! Parece que também estamos a viver as coisas que contas!
Bjs
Rita
Olá Rita,
Estou cada vez mais a adorar a tua escrita... continua a dar-nos notícias.
Bjs grandes,
Rita
Adorei! Começo a ficar sem palavras para comentar as tuas (cada vez melhor) crónicas de viagem! É até redutor chamar-lhes crónicas....é tudo: as imagens que nos transmites e os testemnunhos que dás....são, hmmm, nem consigo classificar...bloqueio de blogger...espero que não te aconteça ;)ainda faltam muitas paragens
bjsssss
Mary
Ola prima-madrinha!!!!
recebi o teu postal. ADOREI.
finalmente consigo tornar-me cibernauta. Já tenho lido as tuas aventuras mas não conseguia comentar. Não sabia que tinhas um dom escondido: escreves muito bem! parabens. As fotografis estão de national geographic
beijos
PS. HABEMOS CASA
Era eu "mafaldinha prima linda"
alô meus amores
aqui vai mais um teste
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