Mais uma experiência cultural…
Quando cheguei ao hotel ao fim do dia, encontrei um tipo, com quem já tinha falado antes, que também está aqui sozinho. Veio estabelecer-se em Delhi por causa de novo trabalho e está a preparar as coisas para trazer a mulher e a filha de Bombaim, cidade onde vive actualmente. Sem qualquer compromisso tínhamos combinado há uns dias que jantávamos e conversávamos um pouco. Ele é um conversador nato, daqueles que fala, fala, divaga, divaga, filosofa, filosofa, mas muito boa onda. Um pouco exibicionista e muito cheio de si. Orgulha-se do pouco apoio que teve nos estudos, irmão mais novo de 3, filho lançado às cobras pelo próprio Pai, sendo em sua opinião, o melhor que o Pai fez por ele. Lutou e fez-se à vida sozinho e deve a ele tudo o que é. Trabalha na área da Restauração e Hotelaria.
Finalmente ontem tínhamos a mesma agenda, ou seja, nada combinado e jantávamos aqui no Hotel. Já não sei como disse que deixava ao critério dele a escolha da ementa. Perguntou-me só se comia galinha, ou se era vegetariana, eu digo que como tudo menos queijo (que nem é muito habitual aqui, felizmente para mim). Ah, e disse ainda que muito picante também não era o meu forte. Ele disse, ah, este é picante, mas não muito, vais ver que gostas. Eu, ingenuamente disse que sim, que confiava nele, tinha de provar as iguarias indianas.
Está-se mesmo a ver… Picantíssimo. Deitei fogo pela boca. A única coisa que havia para beber era whisky com imensa água, outro costume que alguns aqui têm, whisky à refeição… ainda perguntei por cerveja, uma boa amiga dos inimigos do picante, mas nada. As coisas que jantámos eram variadas e vinham aos poucos. Coisas um pouco estranhas e diferentes, enfim, comida indiana. E boa!
Primeiro veio um pequeno aperitivo, peanuts, mas não são simplesmente amendoins, são com cebola picada, tomate cortado em pedacinhos, malagueta picada, temperados com limão. Ele tinha pedido este pouco picante, comia-se com colher, bem bom, por sinal…
Depois vieram uns rolos de carne do tamanho de um croquete, que se come com limão por cima, cebola crua a acompanhar e ainda se molha numa espécie de leite. Picantíssimo!!! Foi aqui o fogo pela boca. Foi aqui que me despi de cerimónias e pedi ao empregado um sumo de laranja.
Bom, descansámos de todo aquele picante, bebemos mais um pouco de whisky, muito temperado com água, mal sabia a qualquer coisa, fumámos um cigarro, conversamos mais um bocado e só passado meia hora é que veio o último prato, porque ele assim o pediu. Eu já estava a sentir o picante que aí vinha. É que o que é picante é mesmo muito picante!!! Não dá para imaginar!! Até agora o que eu tinha comido era para amadores, já vi…
Este último era uma carne qualquer estufada, cheia de molho com óptimo aspecto, eu só pensava que pena as malaguetas, aquilo deve ser tão bom… Noutra travessa umas batatas e couve-flor cozidas, pulverizadas com umas ervas, bom aspecto também. E ainda um cesto com pão típico indiano - roti, é tipo panqueca. Temos as travessas, os pratos, mas nada de talheres… E agora como é que como isto, perguntei? Com o pão e com as mãos, respondeu-me. Ui… Disse-lhe de imediato que o ia imitar, pois não estava a ver como seria aquilo possível, vejo como é e sigo. Assim foi. Pega-se num rasgo de pão com ele abraçamos um pedaço de carne ou o espesso molho da mesma e comemos… O mesmo com as batatas e a couve-flor. Delicioso o primeiro sabor, um bocadinho apimentado o segundo, fogo o terceiro. Venha mais um sumo de laranja.
Para mim o comer com as mãos não era propriamente novidade, há costumes que já vamos conhecendo antes de vir, mas nunca tinha tido a necessidade ou a oportunidade de experimentar. A razão de comer com as mãos é que o corpo tem umas propriedades quaisquer que deixam a comida mais saborosa…
Um jantar tipicamente indiano. Fantástico!
A genuína simpatia destes motoristas de comida faz-me parar em todos e tentar perceber o que cada um tem para oferecer. O inglês não existe, a comunicação é a universal dos gestos, e as amizades que ele cria quando uma estranha se interessa pela sua banca surpreende. Já estamos todos em amena cavaqueira mímica a beber o sumo de laranja mais doce que já bebi, feito na hora. Não consegui perceber de onde vinham estas laranjas, tentei tentei, mas a resposta que obtive foi apenas, são laranjas!
Foi mais um bocadinho de Índia, da minha Índia. Despeço-me com amizade e voltarei em breve.
Beijinhos.
Até logo.
7 comments:
Olho vivo...
Andamos a pensar da mesma maneira... ia fazer um post sobre os comes! Vamos la ver a que 'e que me sabe...
Gostei muito das cores e dos sabores,
obrigado pelo jantar.
beijinhos
ritinha,
continua a contar tudo porque isto é o máximo!
Pelo amor de Deus, cuidado com os indianos!!!!
beijinhos
E chamuças, não se come chamuças?
André Robalo
mudou a cor de fundo... gosto
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