A chegada aqui não foi rápida, 24h passadas num comboio pareciam não ter fim. Não fosse a simpatia chinesa, que se fez notar na primeira troca de empatia logo ao entrar no comboio, iriam ser longas e duras horas… Mas tudo se atura quando a vontade é forte.
A recepção foi a melhor… os 3 marialvas do 2405 de Xi Zang Nan Lu, António, João e Luís, são uns anfitriões de luxo. Receberam-nos como melhor não podíamos imaginar. Sem antes perceber que tínhamos chegado à capital económica da China, já a cidade e a sua vida social nos eram intimas… na primeira noite percorremos as encadeadas festas, sem saltarmos nenhuma, com os nossos cicerones mostrando-nos as maravilhas de Shanghai by night.
Visitar cada cidade, cada lugar, cada aldeia, como se no fim voltássemos para casa, tendo esta sido apenas uma paragem na nossa costumeira diária pouco tem a ver com esta forma de viajar em que a rotina e a escapadela trocam posições… Quando pensamos que estamos apenas uma semana numa cidade grande como Shanghai, onde a vida passa a correr, onde a China e Ocidente se encontram para relações económicas, mas onde apesar de tudo ainda se vão vendo muitas tradições a mexerem as ruas, pensamos que a cultura que procuramos, o turismo que queremos fazer passa por sentir esta azáfama que a cidade oferece, tão parecida, mas tão diferente daquela que conheço. Ao andarmos nas ruas, com destino incerto ou à procura dele, tropeçamos em acontecimentos citadinos curiosos, que nos divertem e não deixam esquecer a cidade em que foram vividos.
Yu Yaun Garden apareceu no nosso caminho de casa, atrasando a nossa chegada. Largada a avenida avistamos um pagode ao fundo, que se junta a outro e a outro, até não haver telhados que não estes. Porta sim porta também se vê uma lojinha chinesa, muito bem arranjada, obrigando a tirar a máquina a cada olhar…
Mas para compras típicas, típicas, o melhor é poder regatear na rua com os chineses que vendem o que têm de mais antigo e tradicional exposto todos os dias nas bancas de toldo azul. Também perdido no meio dos prédios, já só reduzida a uma rua, o mercadinho das antiguidades foi por nós decidido visitar.
Um jardim que até já era nosso conhecido por ser cenário de um dos pontos de paragem obrigatória da noite, o famoso Barbarossa, parecia de dia ter um encanto ainda mais especial. “Não” foi uma palavra impossível de dizer àquele olhar delicioso que expressava junto com o sorriso e ainda acompanhado de uma exibição de inglês longe do fluente, mas orgulhosamente autodidacta, a vontade de nos desenhar tal e qual somos. Foi impossível resistir… Assim ficámos. Tal e qual somos!
Depois dessa noite seguiram-se tantas mais. O grupo de portugueses em Shanghai é enorme, todo totalmente uno, ou não fossem verdadeiros tugas! São mais do que animados e sempre prontos para um bom programa, sempre preocupados em nos integrarem nesta cidade da qual quase se orgulham como se fosse a sua. Jantar Português com bacalhau e farinheira foi outro dos eventos a que felizmente não pudemos escapar. Seguindo-se uma sumptuosa recepção à tailandesa, em casa dos Cônsules, que, não bastando a organização do jantar ainda nos receberam majestosamente em sua casa por um fim de semana, que se prolongou um pouco pois perdemos o comboio para Pequim… Estava difícil a saída de Shanghai!
Esta zona, Xin Tian Di, é um bairro recuperado de antigas casas xangaienses, hoje transformadas em bares, restaurantes e lojas, local de atracção turística, mas muito simpático para passear. Seguindo a cidade em direcção incerta, andando entre ruas e ruelas, entramos em vielas estreitas carregadas de bancas que transbordam para cima da rua a vender fruta fresca ou comida feita ali mesmo, e saímos em avenidas largas cheias de trânsito, carros, polícias sinaleiros para peões, arranha céus do outro lado… A mistura entre o antigo típico e o novo moderno é vivida ao dobrar de cada esquina.
Todas as noites andávamos pela cidade como se já fosse nossa conhecida há anos. Até uma ou outra palavrinha em chinês, (ensinada pelos nossos amigos que já arranham muito desta língua impossível) já surgia para enriquecer as indicações dos cartõezinhos dados ao taxista com a direcção do destino… A atracção noctívaga desta cidade deixa-nos sem mãos a medir para atingir o ponto de equilíbrio… Não é possível igualar a procura à oferta numa semana, e bem que tentámos… Muitos dos sítios são no Bund, avenida marginal onde edifícios menos altos acompanham o rio, aproveitando janelas rasgadas e varandas largas para um copito ao luar e ao som das luzes…
Também de dia se deambula e muito bem neste passeio ladeado pelo rio com vista para Pudong. Andamos, andamos, andamos, como se pelos olhos estivéssemos sempre no mesmo sitio, com os espelhos cor de rosa das bolas da torre da televisão sempre no horizonte, não nos cansamos da água onde reflectem mais prédios da outra margem.
Esta semana em Shanghai foi maravilhosamente diferente. Tardes de filmes ou de escrita em casa, manhãs curtas ou inexistentes, passeio sem destino só porque apetece sair, o desfrutar de coisas tão fora do alcance de um viajante, "ofício” que eu própria escolhi para este ano!
Até logo!