É impossível resistir a este país. O menos desenvolvido e o mais enigmático de toda a Ásia, nas suas apaixonantes paisagens que não nos deixam indiferentes, as longas e maçadoras viagens são atenuadas pela vista da janela. As montanhas cobrem quase toda a sua extensão e o povo procura os vales para se estabelecer. Também ao longo deste famoso e já falado Rio Mekong, moram pescadores e montam-se famílias que procuram nas margens um cantinho fértil para se desenvolverem.
O povo, esse, é outro que tal, encantador. Sinto que me repito cada vez que falo dos vários povos dos países por onde tenho passado, principalmente dos países da Indochina, mas a verdade é que tenho sentido uma enorme empatia com todos eles. No Laos as pessoas são simples e prestativas, sem pretensões procuram ajudar-nos mesmo sem conseguir proferir uma única palavra de inglês, aterrorizam-se com a incapacidade de resposta, vão imediatamente procurar quem saiba.
Lembro um episódio numa estação de autocarro. Estamos em Pakse, uma cidade no sul, à espera do autocarro para Vientiane, onde iríamos apanhar outro autocarro para Vang Vieng, o nosso verdadeiro destino. Tínhamos estado 3 dias longe da cidade, onde levantar dinheiro ou pagar com cartão era mentira (mesmo nas cidades é difícil). Eram 2h da tarde e tínhamos ao todo 2000 Kips na carteira (9000 kips = 1 USD), a nossa camioneta, onde depois verificámos que serviam uma refeição de nudles e uma garrafa de água, era só às 8 e meia da noite e nós só com o pequeno almoço no busto. Já sabendo que não seria fácil encontrar um ATM compatível como cartão visa, perguntei à guardiã da estação de autocarros se havia um MB por perto. Disse-me que sim, a 10 minutos de tuc tuc. Eu expliquei-lhe que não tinha dinheiro para apanhar qualquer transporte, perguntei se não haveria um que desse para ir a pé. Ela voltou a dizer que só de tuc tuc. Eu insisti que para mim era impossível essa hipótese. Vendo que não me restava alternativa, se não esperar que viesse a camioneta e rapidamente adormecesse para não pensar na fome, ela sugere-me: Vais com ele (calculo que fosse o marido), na minha mota, se encontrares dinheiro pagas-me a gasolina, se não, deixa lá, também não tem importância. Lá fomos em busca de um ATM, acabando por levantar dinheiro num hotel, que ainda me cobrou uma taxa por usar a sua máquina de visa, e regresso à estação. Isto era Domingo, nem os bancos estavam abertos… Paguei-lhe a gasolina e perguntei-lhe se tinha alguma coisa para comer. Diz-me que ali não tem nada, mas que vai buscar, eu digo, não, para isso vou eu, onde é, ela diz, não, tu não sabes eu vou, eu digo, então vou contigo, ela diz, ok anda. Andámos às voltas num mercadinho atrás da estação onde bancas e bancas exibiam vegetais rigorosamente cortados e arrumados, ou frutas, ou ainda bancas que vendiam sandwichs, mas só de rã… Eu muito indecisa, sem saber bem o que comprar, ela cheia de paciência, sempre atrás de mim. Acabo por trazer pão simples e fruta.
Voltando ao país, o primeiro sítio foram as 4000 ilhas, ao sul do Laos, numa zona larga do Mekong. Vindas de táxi desde do aeroporto chegámos á estação de autocarros para apanhar um qualquer para o sul.
Daqui íamos apanhar o Ferry para a ilha de Don Det.
Sim, um barquinho rasteiro, atracado a um não cais, com motor fora de borda de 2 cavalos, isto era o nosso “Ferry”!
Tão inóspita era também a ilha em que ficámos. Nuns bungalows de madeira por cima do rio, foi onde dormimos. A electricidade acabava às 10 e meia da noite, pois o gerador desligava. Tinha internet, mas nem sempre estava ligada por causa do mau tempo e das tempestades... Nem água quente havia e a casa de banho era separada do quarto. Aqui passámos 2 dias de tranquilidade absoluta. Passeámos de bicicleta até outra ilha, para vermos as cascatas, mas que só pelo caminho tinha valido o passeio. Um por do sol que nos deixava de boca aberta, uma luz, uma calma, uma serenidade… Bem dito engano.
Depois deste selvagem paraíso seguimos para a cidade de Vang Vieng, outra maravilha… de perder de vista… Chegámos aqui depois de uma viagem de 4 horas num local bus surreal… Mas mais uma vez a paisagem deixa-nos indiferentes ao desconforto. Neste sítio passámos 3 dias entre descanso, passeios de bicicleta, banhos de rio e uma das milhões atracções que oferecem as agências de viagens locais. A escolhida foi tubing e canoagem, com direito a entrar pela gruta de água montadas numas bóias gigantes e de lanterna de mineiro da cabeça, almoço, e descida do rio de canoa, com uma paragem a meio nuns bares com música e slide para saltar para a água… paraíso dos backpackers.
A viagem de Vang Vieng para Luang Prabang, o nosso próximo destino, foi qualquer coisa de surreal… Chegámos à estação para apanhar o autocarro das 14e30. São 15 e pouco e pergunto pelo nosso, um local que passaria na estrada supostamente àquela hora. Avariou, diz-me o senhor. Agora deve passar um às 16e30. Bom, deixámos as malas dentro da casinhota e fomos de novo à cidade comer qualquer coisa. Voltámos eram 16e15. Às 17h volto a perguntar, ao que me responde que está quase. Entretanto procuro informações laterais, pergunto a outros transeuntes que aparentam estar à espera de algum autocarro, que me dizem que agora só às 8 da noite… Não queríamos acreditar. Entretanto já eram quase 6 da tarde quando aparece um autocarro e todos gritam Luang Prabang. Finalmente o nosso! Foram intermináveis horas de viagem até a esta cidade que um dia foi capital do então reino do Laos e hoje é património mundial da Unesco.
Beijinhos.
Até logo
10 comments:
As tantas pensei que a viagem tinha parado. bjs
Querida Rita:
Que maravilha, estou esem palavras, lindo lindo lindissimo, hoje é daqueles dias que apetece estar aí e não aqui, continua e manda muitas mais fotos para nos deleitarmos com tanta beleza, por aqui vai tudo bem, a correr monotonamente a vida, se pudessemos estavamos todos em viagem bejinhos Tia Conceição
AI Ritinha, que inveja!!!
Nao vale a pena voltares para cá, isso aí tem muito mais piada!
Querida Rita,
Tão bom "ler-te". Que bom que escreves como quem fala, assim dá para te ouvir. És uma óptima contadora de histórias...:)
mts bjs
Leee
Bemmm....Nem deu sequer para tirar os olhos do monitor! Obg por mais esta história da (TUA) vida real! :)
Mts Bjs
Minha querida Rita,
recebi o teu postal há uma semana e desde então tenho estado a ler o teu blog. Não consigo parar de sentir uma enorme inveja. Que sorte!!! vais a todos esses sítios maravilhosos, com calma e tempo para desfrutar.
Muito obrigada pelo postal. Adorei.
Agora que já sei a tua morada vou continuar a ler e a escrever.
Continua a dar notícias porque assim sentimos um bocadinho dessa tua maravilhosa experiência.
Muitos beijinhos,
Joana BPV
PS - A Teresinha está enorme e linda. O Vasco aposto que te ia dizer uma estupidez kk por isso mais vale não perguntar nada
e dizer a verdade - tb está cheio de inveja e manda mts bjs.
se eu disser que gostei muito e que continuo a adorar ver o mundo pelos vossos olhos, estou a repetir-me muito?
Tanta coisa tanta coisa para comer pão simples e fruta...
Rita,
Soube do teu périplo, não resiiti a ler um bocadinho.
Tens o dom da escrita ... podes considerar seriamente uma mudança radical de carreira.
Boa continuação de viagem.
Beijos
O meu monge cheira tanto ao "teu" laos. Obrigada amiga!!!
Beijos
RSF
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