Mergulhada nos textos de computador no colo, no dia da chegada a Siem Riep, nem reparei que 4 concentrados e silenciosos olhos me observavam. Instantes passados a intensa atenção destas empregadas da Guest House fez-me nota-las e o meu olhar surpreso, e até talvez um pouco agressivo, perguntou-lhes que queriam.
Aprender, só queremos aprender, não te preocupes e continua…
Mas a concentração dilui-se no seu interesse e passou para o que quereriam elas assimilar dos meus textos em português, já que era inglês o seu objectivo. Explorei mais um pouco essa necessidade de aprendizagem, que me encantou desde do primeiro momento. As famílias numerosas impediram-nas de continuar os estudos, obrigando-as a procurar como ajudar no sustento dos mais novos. Há um ano que deixaram a escola, e vêem nos turistas que por ali passam uma oportunidade de não deixar escapar os conhecimentos adquiridos nesses bons velhos tempos. Acabei por também ser “caçada”. A vontade de sair dali, de encontrar melhor futuro existe. A consciência que há um mundo lá fora com melhores oportunidades é algo que lhes traz curiosidade e sede de saber. Combinámos então uma hora para o dia seguinte e a felicidade daqueles sorrisos fez-me sentir a pessoa mais útil daquele momento. Desde daí que em cada cruzar de olhares, ouvia um enorme e comovente Hello Teacher! Havia uma razão forte, uma motivação grande que me fazia querer ficar em Siem Riep mais uns dias. Nos intervalos dos textos, quando batia a 1h no relógio, já se ouvia um let’s go students e seguia-se a correria à mesa de trabalho prontas para mais uma lição. Providas de um pequeno livro de exercícios que terá sido usado por várias gerações, uma folha de papel e uma caneta, passávamos ali um par de horas, longe de tudo e de todos, aproveitando ao máximo o tempo de descanso da azafama dos pedidos, a treinar e tentar evoluir na língua estrangeira. Havia ainda um pequeno dicionário de Inlgês-Cambodjano, que, com elas, me ajudava a confirmar o soletrar das palavras. O meu não tão evoluído mas esforçadamente rigoroso inglês, com a ajuda do material, do empenho destas tão dedicadas alunas e do meu gosto por ensinar, era suficiente para ocuparmos as nossas horas de almoço e trazer algo de novo ao inglês destas jovens, e no fundo ao meu… o encanto de ensinar, ou melhor dizendo, do ajudar a aprender está no que também eu própria ganho de novo. A simpatia de Srey Nom e de Lay Siak contagiou-me, fazendo quase prometer-lhes que voltava ao Cambodja, antes de passados 3 anos, prazo que estipularam nas suas vidas para amealhar o preciso para voltar à escola.
O que mais me impressionou nestas jovens de 19 anos, foi a percepção do que a vida lhes pode trazer com um pouco mais de conhecimento. Elas sabem que o inglês é o primeiro passo para o sucesso, mas que além disso há mais para aprender, para estudar, querem apanhar o primeiro comboio para um curso, cujo bilhete é pago em inglês. Arrisco dizer que um trabalho como este, em que o contacto com estrangeiros é constante, possa ter sido um dos emissores dessa noção. A motivação é enorme, e basta um empurrãozinho de visitantes pacientes, para que estas sonhadoras consigam ter uma oportunidade de escolha, que todos merecem, que a todos desejo, como eu tive.
A despedida foi calorosa. Havia conhecimento suficiente para se desfazerem em obrigadas e no quanto tinha sido bom para elas aquelas aulas, aquela amizade. Vou contente, com nostalgia, aguardando ansiosamente noticias por aquele tão entusiasticamente trocado endereço de email.
Até logo.
11 comments:
que maravilha...
Rita!
Que máximo!
Hi teacher! :)
mt bjsss
aposto que continuas a fazer imensas caretas! eu tambem!
que saudades!!
beijinhos
teresinha
Isto só acontece aos outros...estou que nem posso! Ia jurar que quem aprendeu mais com esta experiencia toda foi mesmo a "Teacher"
Keep going Miss Croft
Tanta Rita neste texto e experiência...tenho tantas saudades... das caretas também...
Olá.
Atão e gajos?
Os gajos não querem aprender?
Ritinha.
Já tinha lido mas não deu nem dá para comentários. Continuo a gostar e curiosamente a não ter saudades.
bjs
rita, apetece-me ouvir-te ao vivo no meu quintal a beber uma cervejinha numa noite quente... n te escapas, mal posso esperar.
beijos
Rita SF
Estou completamente roída de inveja.
Patricia
sou amiga d amariana costenla, chamo-me.
passadas as apresentações, numa destas muitas noies que temos passado juntas ela falou-me do teu blog e o devia visitar e ler o teu 'diário de bordo'. Pois aqui estou eu, e não consegui ficar indiferente, daí este meu post.
Que maravilha, que experiência...
Fantástico, muitos parabéns e obrigada por estes momentos.
Desejo-te continuação de uma optima viagem. Parabéns!!!
falhou o nome....chamo-me ana.
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