Não esqueço porque não posso e não esqueço porque não quero, uma razão que me arrancou para esta viagem. O objectivo está identificado, a meta está no horizonte e vou desenhando a pista como sei, como consigo e tentando beneficiar das oportunidades que tenho.
A volta ao Vietname estava então prevista no calendário. A Carmo tinha os seus compromissos profissionais do outro lado do Atlântico e eu os meus aqui, neste país da Indochina francesa. Depois de uma busca pelas ofertas da rede, Volunteers for Peace Vietnam (VfPV) foi o escolhido. Prometi-lhes em euros 15 dias e eles, entusiasmados com o propósito que me trouxe, talvez por fugir um pouco do standard, tinham trabalho de sobra para me dar, e a vontade de corresponder era muita. Não vinha através de nenhuma organização do meu país, nem de qualquer outra parceira do tipo Travel-to-Teach, o contacto com eles foi directo e a proposta que tinham para mim, depois de saberem do meu intento de querer investigar sobre a comunicação nas ONG, era no desenvolvimento da mesma e da interacção dos voluntários com promoção multicultural. Outra tarefa, e talvez a mais importante, era uma formação a um grupo de voluntários vietnamitas que irá integrar projectos no estrangeiro este verão, sendo a primeira vez que viaja além fronteiras, onde as questões das diferenças culturais seriam um dos pontos mais importantes do dia. O desafio, a obrigação, a responsabilidade, esperavam-me nestas 2 semanas. Estava cheia de força para me dedicar intensamente ao trabalho.
Longe do centro da cidade grande, onde a luta urbana corrompe o afável e genuíno povo vietnamita e esconde por vezes esta simpatia e vontade de ajudar que existe em cada um deles, encontrei na Peace house o mais genuíno instinto para com o visitante.
Mr. Bang, o segurança de título, o faz tudo de vocação, empurra-me para esta observação a todo o momento. Profere o meu nome à boa maneira vietnamita, prolongando e acentuando a última sílaba da palavra, ritaaá, quando me chama para jantar com aquele sorriso irresistível, que me faz devolver o mesmo transmitindo uma alegria imensa para experimentar mais uma iguaria deste país, esquecendo a vontade do chá e torradas porque são 6 da tarde. É o melhor amigo de todos que por aqui passam. Lança umas palavras de inglês, de vez em quando com auxílio de um pequeno livro, para não deixar que a diferença entre línguas seja bloqueio de comunicação.
A chegada no fim de semana deu para me instalar com calma, saber pormenores do ansiado trabalho e conhecer as acomodações e as normas de conduta da casa. Os quartos são de 4 pessoas, uma casa de banho por piso, e o escritório, a sala de jantar, a sala de aula e o espaço de convívio partilham o mesmo espaço. A cada voluntário estrangeiro que chega é adjudicado um vietnamita para o ajudar na integração do país, das pessoas, da cultura, da língua. Sem fugir à rega conheci a minha supporter logo no dia em que cheguei. Hang, estudante de universidade, que encontra na VfPV a oportunidade de conhecer pessoas de todo o mundo e desenvolver os seus conhecimentos de inglês, mostrou-me também a afectividade deste povo. Fez-me uma visita guiada à cidade, foi professora de conhecimentos básicos de vietnamita e desfazendo-se em sorrisos que transbordavam um imenso orgulho em poder mostrar o seu pais a estrangeiros, disponibilizava-se a todo o momento para o que fosse preciso. Não pude deixar de lhe devolver umas aulas de português, que cheia de vontade de se mostrar conhecedora do meu país, cativou-me com um “bom dia” e um “até logo” para que lhe explicasse mais e mais.
O trabalho dividiu-se nas duas semanas. Durante a primeira, na tentativa de me embrulhar na verdadeira razão de existir da VfPV impingi-me para participar e ajudar num dos workcamps da organização. A recepção à ideia foi a melhor, claro que fazia todo o sentido uma visita ao terreno para aumentar a qualidade e a fiabilidade do trabalho. Depois dos dois primeiros dias no escritório, de planeamento de actividades, de criação do National Profile, outra das iniciativas promovidas pela VfPV para o conhecimento intercultural entre os voluntários que por ali passam, estrangeiros ou nacionais, estava preparada para conhecer o campo. Foram só mas muito produtivos 3 dias a viver com locais que gentilmente cedem a sua casa para albergar os voluntários. Em frente é uma das SOS Village espelhadas pela mundo, que alberga crianças orfans, e lhes dá todos as condições para que aos 18 anos possam escolher uma vida e lançarem-se sozinhos sem medo e sem entraves. Vão à escola, têm aulas extra na vila e condições para actividades extra curriculares.
De manhã ajudamos na pintura do gradeamento da vila, para não deixar perder o simpático e arranjado aspecto desta escola interna, e a seguir ao almoço e ao fim da tarde são as aulas de inglês. Durante os tempos livres ainda jogávamos futebol ou badmington com as crianças. Foram dias bem passados com as duas Trangs, nome bem comum no Vietname, e com Julianne e Yanne, jovens estudantes franceses, que muito de produtivo trouxeram à minha investigação pessoal, e ao trabalho a desenvolver para a organização, da maneira como partilharam a experiência.
Um dos pontos obrigatórios de visita para quem está em Hanoi, são as famosas imensas ilhas, dizem ser 3000, de pedra espalhadas pela vasta baía de Ha Long, que como conta a lenda terão sido criadas pelo desaguar do dragão das montanhas no mar… Sem companhia de algum voluntário que pudesse querer vir, fui sozinha. Inscrevi-me numas das milhares de excursões que partem todos os dias para este sítio nomeado património mundial e integrei um grupo de outros viajantes, acompanhados ou não. O programa estava feito, eram dois dias e uma noite no barco, com direito a refeições, uma hora de canoa, e banhos no mar com água a 33 graus. Tudo com horário preestabelecido. Mesmo com hora marcada até para o descanso, foram dois dias bem passados. Lembro os tempos de Elorne, daquelas férias com o Avô de porto em porto, contornado a costa portuguesa e espanhola até entrar no mediterrâneo, a adormecer ao som das irrequietas adriças, com um embalar que nos traz o sono sem darmos por isso. O grupo era animadamente heterogéneo. Trocámos feriados e formas de passar o Natal ou o significado da Páscoa e do dia de Acção de Graças. Viajámos pelo mundo à volta das gigantescas pedras, entre banhos e canoas e serão ao luar, desde da Nova Zelândia, até à rara Estónia, passando pelos Estados Unidos, e pelas já comuns Inglaterra e Holanda, onde mais uma vez Portugal aparecia pela primeira vez.
A volta foi cedo. Eram 6 da tarde, a bater no jantar, quando chego de novo à Peace House. Mais um grupo de novos voluntários chegara naquele fim de semana. Uns iriam integrar um campo no dia seguinte, outros iriam ficar a viver ali e iriam trabalhar em locais diferentes, com tarefas diferentes, também de acordo com os seus conhecimentos anteriores.
Nesta semana o principal objectivo era a formação de Sábado. Vinha aí o grupo de voluntários, cheios de expectativas e cheios de força, para saber tudo sobre viajar e trabalhar como voluntário. Também nesta semana fiquei a substituir uma voluntária dinamarquesa que tinha tirado umas férias, nas aulas de inglês. Eram às 7 da tarde, logo depois do jantar. Participava ainda nas aulas de Abby, uma das americanas do grupinho que ficou na casa, que insistia que bastava uma outra presença, ainda que calada, para lhe dar confiança. Sempre era uma ajuda para mim também pois não só aprendia mais para ensinar como preparávamos as aulas juntas e dividíamos ideias.
Entre o trabalho de todas, houve tempo para algumas saídas. Como éramos 4, facilmente partilhávamos táxi para ir à cidade. Fomos ver o acordar de Hanoi, que por influência chinesa, enche o lago de ginásticas, danças e Tai Chi. Deambulámos pelo velho quarteirão apreciando a vida da cidade, visitámos galerias de arte e ainda assistimos a um espectáculo de marionetas na água contando as várias histórias, hábitos e lendas do povo Vietnamita. Temi o pior quando começou, sem conhecer minimamente a língua, não iria perceber nada do que se ia passar, mas com a ajuda do guião com os títulos das músicas em inglês acabou por ser um espectáculo bem giro, muito fácil de perceber.
Hanoi é uma cidade confusa, mas ao mesmo tempo charmosa. No lago vive um grande ser que dizem ser parecido com um tartaruga, que traz sorte e felicidade a quem o vê. Refugia-se no pagode assente na ilha inacessível e viverá eternamente. Os vendedores nas ruas levam as suas cestas de comida, fruta ou flores, penduradas nas cordas das extremidades do pau que carregam ao ombro, vagueando para cima e para baixo, levando-nos ao mais típico cenário vietnamita, mesmo na cidade grande.
O trânsito é de fugir. A quantidade de motas que circulam na cidade é provavelmente superior à das pessoas. As regras de trânsito foram substituídas por usos e costumes que só quem cá vive saberá seguir. Andam milhões de motas numa só faixa de rodagem como se fossem 5, parecendo um carreiro de formigas na lavoura do dia a dia. A aproximação de um cruzamento não é razão suficiente para abrandar a marcha, muito menos para usar o travão, como que uma migalha que cai no dito carreiro, deixando as formigas aparentemente baralhadas e sem direcção, mas que num ponto mais à frente continuam o seu percurso como se dele nunca tivessem saído, sabendo exactamente que direcção seguir. Ver as (anárquicas) formigas a seguirem carreiro depois da confusão é muito engraçado mas ser uma delas não é para mim, sou pouco dada a sensações de limite. Quando pensei que era em Hanoi que alugava uma motinha destas para andar pela cidade, mal imaginava o treino que é preciso. São meses de aprendizagem empírica, pois não há livro que descreva este código. Confesso aqui, sem medo e sem preconceito, que mesmo o lugar do pendura me causa alguma angústia. As minhas idas à cidade ficaram limitadas à vontade das restantes, era preciso 3 pessoas para valer a pena partilhar táxi…
A formação de sábado correu bem. Todos participaram, e na parte das diferenças culturais, as americanas Abby e Soraya, a Japonesa Asuka e ainda a Filipina Ginny deram o seu contributo. Foi engraçado ver como é importante explicar a um vietnamita que a rua só se atravessa quando os carros estiverem parados, não havendo a regra do ir sem olhar e sem mudar a velocidade pois as motas que se desviem… Não esperem encontrar na Europa, Estados Unidos ou mesmo Japão um tratamento especial a quem é estrangeiro, só porque o é e vê-se que é, pois a sua presença não é rara ou especial como aqui nos sentimos… Á tarde foram actividades variadas, com a presença do grupo de coreanos que tinha chegado nessa semana para ficar 10 dias a trabalhar com a Peace House, tal como estes iriam ser lá fora. Foram uma ajuda preciosa com um empenho especial.
A vontade de vir embora era apenas puxada pelo próximo passo, hábitos que criei da vida nómada que levo desde os últimos quatro meses. Mas a vontade de ficar era muita. O trabalho correu bem, foi bom, e muito produtivo para mim. Com as pessoas criei relações, amizades, vontade de manter contacto. Foram dias que por serem poucos foram intensos, e de uma forma natural pareceram meses. Não deixaram de se tirar as últimas fotos de grupo, para mais tarde recordar, e até um adeus me acompanhou até o táxi se perder de vista. Levo muito de Hanoi, da Peace House, levo essencialmente boas recordações e boas amizades.
Ate logo.
A volta ao Vietname estava então prevista no calendário. A Carmo tinha os seus compromissos profissionais do outro lado do Atlântico e eu os meus aqui, neste país da Indochina francesa. Depois de uma busca pelas ofertas da rede, Volunteers for Peace Vietnam (VfPV) foi o escolhido. Prometi-lhes em euros 15 dias e eles, entusiasmados com o propósito que me trouxe, talvez por fugir um pouco do standard, tinham trabalho de sobra para me dar, e a vontade de corresponder era muita. Não vinha através de nenhuma organização do meu país, nem de qualquer outra parceira do tipo Travel-to-Teach, o contacto com eles foi directo e a proposta que tinham para mim, depois de saberem do meu intento de querer investigar sobre a comunicação nas ONG, era no desenvolvimento da mesma e da interacção dos voluntários com promoção multicultural. Outra tarefa, e talvez a mais importante, era uma formação a um grupo de voluntários vietnamitas que irá integrar projectos no estrangeiro este verão, sendo a primeira vez que viaja além fronteiras, onde as questões das diferenças culturais seriam um dos pontos mais importantes do dia. O desafio, a obrigação, a responsabilidade, esperavam-me nestas 2 semanas. Estava cheia de força para me dedicar intensamente ao trabalho.
Longe do centro da cidade grande, onde a luta urbana corrompe o afável e genuíno povo vietnamita e esconde por vezes esta simpatia e vontade de ajudar que existe em cada um deles, encontrei na Peace house o mais genuíno instinto para com o visitante.
Mr. Bang, o segurança de título, o faz tudo de vocação, empurra-me para esta observação a todo o momento. Profere o meu nome à boa maneira vietnamita, prolongando e acentuando a última sílaba da palavra, ritaaá, quando me chama para jantar com aquele sorriso irresistível, que me faz devolver o mesmo transmitindo uma alegria imensa para experimentar mais uma iguaria deste país, esquecendo a vontade do chá e torradas porque são 6 da tarde. É o melhor amigo de todos que por aqui passam. Lança umas palavras de inglês, de vez em quando com auxílio de um pequeno livro, para não deixar que a diferença entre línguas seja bloqueio de comunicação.
A chegada no fim de semana deu para me instalar com calma, saber pormenores do ansiado trabalho e conhecer as acomodações e as normas de conduta da casa. Os quartos são de 4 pessoas, uma casa de banho por piso, e o escritório, a sala de jantar, a sala de aula e o espaço de convívio partilham o mesmo espaço. A cada voluntário estrangeiro que chega é adjudicado um vietnamita para o ajudar na integração do país, das pessoas, da cultura, da língua. Sem fugir à rega conheci a minha supporter logo no dia em que cheguei. Hang, estudante de universidade, que encontra na VfPV a oportunidade de conhecer pessoas de todo o mundo e desenvolver os seus conhecimentos de inglês, mostrou-me também a afectividade deste povo. Fez-me uma visita guiada à cidade, foi professora de conhecimentos básicos de vietnamita e desfazendo-se em sorrisos que transbordavam um imenso orgulho em poder mostrar o seu pais a estrangeiros, disponibilizava-se a todo o momento para o que fosse preciso. Não pude deixar de lhe devolver umas aulas de português, que cheia de vontade de se mostrar conhecedora do meu país, cativou-me com um “bom dia” e um “até logo” para que lhe explicasse mais e mais.
O trabalho dividiu-se nas duas semanas. Durante a primeira, na tentativa de me embrulhar na verdadeira razão de existir da VfPV impingi-me para participar e ajudar num dos workcamps da organização. A recepção à ideia foi a melhor, claro que fazia todo o sentido uma visita ao terreno para aumentar a qualidade e a fiabilidade do trabalho. Depois dos dois primeiros dias no escritório, de planeamento de actividades, de criação do National Profile, outra das iniciativas promovidas pela VfPV para o conhecimento intercultural entre os voluntários que por ali passam, estrangeiros ou nacionais, estava preparada para conhecer o campo. Foram só mas muito produtivos 3 dias a viver com locais que gentilmente cedem a sua casa para albergar os voluntários. Em frente é uma das SOS Village espelhadas pela mundo, que alberga crianças orfans, e lhes dá todos as condições para que aos 18 anos possam escolher uma vida e lançarem-se sozinhos sem medo e sem entraves. Vão à escola, têm aulas extra na vila e condições para actividades extra curriculares.
De manhã ajudamos na pintura do gradeamento da vila, para não deixar perder o simpático e arranjado aspecto desta escola interna, e a seguir ao almoço e ao fim da tarde são as aulas de inglês. Durante os tempos livres ainda jogávamos futebol ou badmington com as crianças. Foram dias bem passados com as duas Trangs, nome bem comum no Vietname, e com Julianne e Yanne, jovens estudantes franceses, que muito de produtivo trouxeram à minha investigação pessoal, e ao trabalho a desenvolver para a organização, da maneira como partilharam a experiência.
Um dos pontos obrigatórios de visita para quem está em Hanoi, são as famosas imensas ilhas, dizem ser 3000, de pedra espalhadas pela vasta baía de Ha Long, que como conta a lenda terão sido criadas pelo desaguar do dragão das montanhas no mar… Sem companhia de algum voluntário que pudesse querer vir, fui sozinha. Inscrevi-me numas das milhares de excursões que partem todos os dias para este sítio nomeado património mundial e integrei um grupo de outros viajantes, acompanhados ou não. O programa estava feito, eram dois dias e uma noite no barco, com direito a refeições, uma hora de canoa, e banhos no mar com água a 33 graus. Tudo com horário preestabelecido. Mesmo com hora marcada até para o descanso, foram dois dias bem passados. Lembro os tempos de Elorne, daquelas férias com o Avô de porto em porto, contornado a costa portuguesa e espanhola até entrar no mediterrâneo, a adormecer ao som das irrequietas adriças, com um embalar que nos traz o sono sem darmos por isso. O grupo era animadamente heterogéneo. Trocámos feriados e formas de passar o Natal ou o significado da Páscoa e do dia de Acção de Graças. Viajámos pelo mundo à volta das gigantescas pedras, entre banhos e canoas e serão ao luar, desde da Nova Zelândia, até à rara Estónia, passando pelos Estados Unidos, e pelas já comuns Inglaterra e Holanda, onde mais uma vez Portugal aparecia pela primeira vez.
A volta foi cedo. Eram 6 da tarde, a bater no jantar, quando chego de novo à Peace House. Mais um grupo de novos voluntários chegara naquele fim de semana. Uns iriam integrar um campo no dia seguinte, outros iriam ficar a viver ali e iriam trabalhar em locais diferentes, com tarefas diferentes, também de acordo com os seus conhecimentos anteriores.
Nesta semana o principal objectivo era a formação de Sábado. Vinha aí o grupo de voluntários, cheios de expectativas e cheios de força, para saber tudo sobre viajar e trabalhar como voluntário. Também nesta semana fiquei a substituir uma voluntária dinamarquesa que tinha tirado umas férias, nas aulas de inglês. Eram às 7 da tarde, logo depois do jantar. Participava ainda nas aulas de Abby, uma das americanas do grupinho que ficou na casa, que insistia que bastava uma outra presença, ainda que calada, para lhe dar confiança. Sempre era uma ajuda para mim também pois não só aprendia mais para ensinar como preparávamos as aulas juntas e dividíamos ideias.
Entre o trabalho de todas, houve tempo para algumas saídas. Como éramos 4, facilmente partilhávamos táxi para ir à cidade. Fomos ver o acordar de Hanoi, que por influência chinesa, enche o lago de ginásticas, danças e Tai Chi. Deambulámos pelo velho quarteirão apreciando a vida da cidade, visitámos galerias de arte e ainda assistimos a um espectáculo de marionetas na água contando as várias histórias, hábitos e lendas do povo Vietnamita. Temi o pior quando começou, sem conhecer minimamente a língua, não iria perceber nada do que se ia passar, mas com a ajuda do guião com os títulos das músicas em inglês acabou por ser um espectáculo bem giro, muito fácil de perceber.
Hanoi é uma cidade confusa, mas ao mesmo tempo charmosa. No lago vive um grande ser que dizem ser parecido com um tartaruga, que traz sorte e felicidade a quem o vê. Refugia-se no pagode assente na ilha inacessível e viverá eternamente. Os vendedores nas ruas levam as suas cestas de comida, fruta ou flores, penduradas nas cordas das extremidades do pau que carregam ao ombro, vagueando para cima e para baixo, levando-nos ao mais típico cenário vietnamita, mesmo na cidade grande.
O trânsito é de fugir. A quantidade de motas que circulam na cidade é provavelmente superior à das pessoas. As regras de trânsito foram substituídas por usos e costumes que só quem cá vive saberá seguir. Andam milhões de motas numa só faixa de rodagem como se fossem 5, parecendo um carreiro de formigas na lavoura do dia a dia. A aproximação de um cruzamento não é razão suficiente para abrandar a marcha, muito menos para usar o travão, como que uma migalha que cai no dito carreiro, deixando as formigas aparentemente baralhadas e sem direcção, mas que num ponto mais à frente continuam o seu percurso como se dele nunca tivessem saído, sabendo exactamente que direcção seguir. Ver as (anárquicas) formigas a seguirem carreiro depois da confusão é muito engraçado mas ser uma delas não é para mim, sou pouco dada a sensações de limite. Quando pensei que era em Hanoi que alugava uma motinha destas para andar pela cidade, mal imaginava o treino que é preciso. São meses de aprendizagem empírica, pois não há livro que descreva este código. Confesso aqui, sem medo e sem preconceito, que mesmo o lugar do pendura me causa alguma angústia. As minhas idas à cidade ficaram limitadas à vontade das restantes, era preciso 3 pessoas para valer a pena partilhar táxi…
A formação de sábado correu bem. Todos participaram, e na parte das diferenças culturais, as americanas Abby e Soraya, a Japonesa Asuka e ainda a Filipina Ginny deram o seu contributo. Foi engraçado ver como é importante explicar a um vietnamita que a rua só se atravessa quando os carros estiverem parados, não havendo a regra do ir sem olhar e sem mudar a velocidade pois as motas que se desviem… Não esperem encontrar na Europa, Estados Unidos ou mesmo Japão um tratamento especial a quem é estrangeiro, só porque o é e vê-se que é, pois a sua presença não é rara ou especial como aqui nos sentimos… Á tarde foram actividades variadas, com a presença do grupo de coreanos que tinha chegado nessa semana para ficar 10 dias a trabalhar com a Peace House, tal como estes iriam ser lá fora. Foram uma ajuda preciosa com um empenho especial.
A vontade de vir embora era apenas puxada pelo próximo passo, hábitos que criei da vida nómada que levo desde os últimos quatro meses. Mas a vontade de ficar era muita. O trabalho correu bem, foi bom, e muito produtivo para mim. Com as pessoas criei relações, amizades, vontade de manter contacto. Foram dias que por serem poucos foram intensos, e de uma forma natural pareceram meses. Não deixaram de se tirar as últimas fotos de grupo, para mais tarde recordar, e até um adeus me acompanhou até o táxi se perder de vista. Levo muito de Hanoi, da Peace House, levo essencialmente boas recordações e boas amizades.
Ate logo.
6 comments:
Uma satisfação muito grande ao ver que têm conseguido o que queriam com esta fantástica viagem. Outra satisfação ao contar os dias que faltam para as ver. Bjs do constipado
pois é... para nós começou a contagem descrescente... em breve ouviremos estes relatos de viva voz... que bom
Ritaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaá...
O máximoo.Mesmo.
:)
bjs azuis
Acabei de chegar de Vila Nova (onde te encontrei a cada esquina)e cá te vim dar uma olhadela. Mal posso esperar por sexta para te ouvir de viva voz!.
Um bj grande e até sexta!!!!
Ritinha...
Os meus sentimentos dividem-se entre as saudades que tenho de ti e das nossas conversas tão em título de terapia, a inveja (é verdade, eu sei que é um sentimento muito feio, mas este é no bom sentido) e o feliz que estou por estares a viver uma experiência que é tão importante, se não a mais importante.
O que vale é que te vou ver não tarda.
Beijos.
Olha, tomei-lhe o gosto. Sou eu outra vez. Era só para dizer que não sou nenhum anónimo repetido nem estou constipado.
Sou um novo.
É a minha primeira vez.
Beijinhos.
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