Já sabia que este dia ia ser longo, maior do que qualquer outro, mas nunca imaginei que fosse tão longo. Acordei por volta das 8e30 da manhã. Arranjei tudo, fiz-me caracol e pus-me ao caminho. Mais uma partida, mais uma viagem para outro ponto do globo. Mas esta entusiasmava-me especialmente. Ia atravessar o Pacifico batendo no pólo e viver o mesmo dia duas vezes... tal como Júlio Verne imaginou um dia, antes de alguém ter pensado que isso seria possível, quando deu a vitória a Phileas Fogg na aposta da volta ao mundo em 80 dias. Sendo ou não tempo suficiente para dar essa volta, o que Verne queria mostrar, eu pude viver com esta viagem. Saindo em direcção a leste, regressando pelo oeste, ganha-se um dia na vida! Quando disse a alguém que estava entusiasmada com esta viagem por ir ganhar um dia, esse alguém retorquiu que quando eu voltasse voltava a perde-lo, só que eu não ia voltar... ia seguir! Ia andar para a frente mais depressa que o próprio tempo para um local que vive antes do lugar convencionado como o de partida, desafiando o curso das horas e posicionando-me no passado. Uau!
Como ia dizendo, fiz-me à estrada em busca do aerobus, esse suttle que nos leva ao aeroporto, com tempo suficiente para que tudo corresse bem. Dentro ao autocarro, para mostrar a alguém em que companhia ia voar, para saber a porta de entrada a escolher, reparo na hora do embarque. Era às 17e50 da tarde, e não às 13e05 como estava na minha cabeça desde há tempo vá se lá saber porquê. Quando cheguei ao aeroporto confirmei que de facto a hora do voo era mesmo essa e sentei-me calmamente algures a inventar de tudo para acelerar o andamento das horas. Este dia já de si era maior, e eu, com um parvo engano, ainda consegui criar condições para o viver ao minuto... Escrevi, vaguei pelo aeroporto, sentei-me na mala/casa a ler o guia da América do Sul, única leitura de momento, à espera que abrisse o check-in. Esperei pela hora de embarque... Subi a bordo, finalmente!
A viagem ameaçava ser longa e aborrecida. Eram 10 horas de voo e ainda faltavam algumas para ir dormir. Quando entro no avião e vejo que o meu lugar é a meio das cadeiras do meio irrito-me por me ter deixado sujeitar mais uma vez à escolha aleatório da máquina que não sabe que prefiro a janela. Sento-me a pedir desculpa pelo incómodo, com cara de que todos me devem e ninguém me paga sem razão nenhuma. Um olá alegre do austríaco loiro com uma cómica barbicha e um lenço ao pescoço, cumprimenta-me matando aquela cara feia e fazendo nascer de novo o sorriso. Do outro lado, um outro olá contagiante, desta vez australiano, sem qualquer vontade de sossego nas próximas horas voltou a fazer-me esquecer o inacessível e claustrofobico lugar que a insensível máquina me dera, e tornou a viagem mais animada ainda, sem sequer ter começado. Rapidamente esqueço a longa distância da janela e sinto a confortável lembrança que a escuridão da noite esconderá a eventual vista do pólo. Antes de ligarem os motores já os lugares do meio da fila 17 estavam em movimento. Fizemo-nos milionários atingindo com comunhão de conhecimentos, com a ajuda indispensável do quarto elemento neozelandês da animada fila, o topo máximo da escala do jogo desse magnifico ecrã que entretém os passageiros de viagens de longo curso, cansámos Lorena com intermináveis pedidos para encher o copo, partilhámos histórias de vida passada e futura, e eu ainda dormi um curto sono até ao pequeno almoço. Acabou por ser a parte do(s) dia(s) mais animada. Aterrando em Santiago eu era a única que não estava em trânsito. Despedimo-nos com as normais trocas de mails e um até um dia, por aí no mundo.
É estranha a sensação de estar a viver o mesmo momento outra vez. Sabendo do calendário, ao contrário do personagem de Júlio Verne, foi aqui que vivi a volta ao mundo. Não sabendo em que dia estava nada me fazia pensar nisto, sucumbia ao cansaço do normal jet-leg ou tentava contra ele. Fi-lo na mesma, lutei contra ele e vivi o dia mais longo...
Faço-me à cidade com calma e vagar, já que tenho tempo extra. Vou almoçar outra vez no mesmo dia, porque são outra vez horas de almoço! Encontro Santiago vazia como em dia de Natal onde tudo está reunido no calor do lar em família. As ruas estão frias e silenciosas, as escassas e aleatórias pessoas com que cruzo parecem ir para casa depois de uma saída rápida para comprar algo de desapareceu inesperadamente da despensa. Senti-me sozinha. Em dia de comemoração da independência do país, feriado que antecede o feriado do festival militar, obriga o governo Chileno a criar na segunda feira uma tolerância de ponto que esvazia a cidade a mais de metade para umas mini férias fora da metrópole. Até o famoso smog, aquela conhecida camada de poluição que categoriza Santiago no terceiro lugar do ranking das cidades mais poluídas do mundo, desapareceu durante estes dias...
Uma ida à embaixada portuguesa, que mesmo em dia de fiesta me recebe de braços abertos, e Amanda, uma americana a dar aulas de inglês no Chile, através de um programa de voluntariado, que conheci pela sua irmã em Timor, preencheram-me um pouco deste vazio e trouxeram-me a vontade de conhecer mais a cidade e arredores, desmantelando a solidão. Com Amanda tomei um café, muita conversa, e dei um passeio curto até à Praça das Armas, local por onde terá começado a construção desta cidade que exibe uma estatua do seu conquistador Pedro de Valdivia e outros edifícios do seu tempo misturados com a modernidade de agora. Vou desbravar mais desta capital chilena.
Até logo
Como ia dizendo, fiz-me à estrada em busca do aerobus, esse suttle que nos leva ao aeroporto, com tempo suficiente para que tudo corresse bem. Dentro ao autocarro, para mostrar a alguém em que companhia ia voar, para saber a porta de entrada a escolher, reparo na hora do embarque. Era às 17e50 da tarde, e não às 13e05 como estava na minha cabeça desde há tempo vá se lá saber porquê. Quando cheguei ao aeroporto confirmei que de facto a hora do voo era mesmo essa e sentei-me calmamente algures a inventar de tudo para acelerar o andamento das horas. Este dia já de si era maior, e eu, com um parvo engano, ainda consegui criar condições para o viver ao minuto... Escrevi, vaguei pelo aeroporto, sentei-me na mala/casa a ler o guia da América do Sul, única leitura de momento, à espera que abrisse o check-in. Esperei pela hora de embarque... Subi a bordo, finalmente!
A viagem ameaçava ser longa e aborrecida. Eram 10 horas de voo e ainda faltavam algumas para ir dormir. Quando entro no avião e vejo que o meu lugar é a meio das cadeiras do meio irrito-me por me ter deixado sujeitar mais uma vez à escolha aleatório da máquina que não sabe que prefiro a janela. Sento-me a pedir desculpa pelo incómodo, com cara de que todos me devem e ninguém me paga sem razão nenhuma. Um olá alegre do austríaco loiro com uma cómica barbicha e um lenço ao pescoço, cumprimenta-me matando aquela cara feia e fazendo nascer de novo o sorriso. Do outro lado, um outro olá contagiante, desta vez australiano, sem qualquer vontade de sossego nas próximas horas voltou a fazer-me esquecer o inacessível e claustrofobico lugar que a insensível máquina me dera, e tornou a viagem mais animada ainda, sem sequer ter começado. Rapidamente esqueço a longa distância da janela e sinto a confortável lembrança que a escuridão da noite esconderá a eventual vista do pólo. Antes de ligarem os motores já os lugares do meio da fila 17 estavam em movimento. Fizemo-nos milionários atingindo com comunhão de conhecimentos, com a ajuda indispensável do quarto elemento neozelandês da animada fila, o topo máximo da escala do jogo desse magnifico ecrã que entretém os passageiros de viagens de longo curso, cansámos Lorena com intermináveis pedidos para encher o copo, partilhámos histórias de vida passada e futura, e eu ainda dormi um curto sono até ao pequeno almoço. Acabou por ser a parte do(s) dia(s) mais animada. Aterrando em Santiago eu era a única que não estava em trânsito. Despedimo-nos com as normais trocas de mails e um até um dia, por aí no mundo.
É estranha a sensação de estar a viver o mesmo momento outra vez. Sabendo do calendário, ao contrário do personagem de Júlio Verne, foi aqui que vivi a volta ao mundo. Não sabendo em que dia estava nada me fazia pensar nisto, sucumbia ao cansaço do normal jet-leg ou tentava contra ele. Fi-lo na mesma, lutei contra ele e vivi o dia mais longo...
Faço-me à cidade com calma e vagar, já que tenho tempo extra. Vou almoçar outra vez no mesmo dia, porque são outra vez horas de almoço! Encontro Santiago vazia como em dia de Natal onde tudo está reunido no calor do lar em família. As ruas estão frias e silenciosas, as escassas e aleatórias pessoas com que cruzo parecem ir para casa depois de uma saída rápida para comprar algo de desapareceu inesperadamente da despensa. Senti-me sozinha. Em dia de comemoração da independência do país, feriado que antecede o feriado do festival militar, obriga o governo Chileno a criar na segunda feira uma tolerância de ponto que esvazia a cidade a mais de metade para umas mini férias fora da metrópole. Até o famoso smog, aquela conhecida camada de poluição que categoriza Santiago no terceiro lugar do ranking das cidades mais poluídas do mundo, desapareceu durante estes dias...
Uma ida à embaixada portuguesa, que mesmo em dia de fiesta me recebe de braços abertos, e Amanda, uma americana a dar aulas de inglês no Chile, através de um programa de voluntariado, que conheci pela sua irmã em Timor, preencheram-me um pouco deste vazio e trouxeram-me a vontade de conhecer mais a cidade e arredores, desmantelando a solidão. Com Amanda tomei um café, muita conversa, e dei um passeio curto até à Praça das Armas, local por onde terá começado a construção desta cidade que exibe uma estatua do seu conquistador Pedro de Valdivia e outros edifícios do seu tempo misturados com a modernidade de agora. Vou desbravar mais desta capital chilena.
Até logo
7 comments:
Bjs do novamente 1º. Já não saboreava destas há muito.
Ritinha,
mais um testemunho fantástico.
Agora és o meu livro de mesinha de cabeceira, qdo a gravidez me deixa...
Um grande beijinho
Carmo B. Vasques
Rita
Fez-me lembrar as minhas idas intermináveis de avião no banco do meio ... e estou ansiosa por saber o que se passa dentro das pedras de santiago bjs tconstança
A escrita e a viagem estão cada vez mais reais. Sentimos, pela primeira vez, a contrariedade... Até te estou a ouvir: "Bolas!"
Cada vez esta miuda escreve melhor...Adorei a descrição no avião. perfeita!beijos da prima Mafalda
Onde andas??????????????
Ritinha,
Então, não nos dás mais noticias?
snif...
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