Viajar é talvez uma das melhores formas de descansar da vida que a urbe tanto nos cansa. E qualquer que seja a forma, está no seu conteúdo a verdadeira viagem.
Pela tranquilidade e alienação total que proporciona, viajar no barco do avô sempre foi um dos maiores privilégios que tive. No mar, a terra é vista como um cenário animado, fazendo-me imaginar onde colocar cada pessoa, cada casa, cada experiência. Faz levantar o voo da imaginação, e deixa-me brincar com as peças, montando a cidade ideal e tão real como o imaginário o deixa ser.
Largando Lisboa rumando ao sul, deixa-se que o vento controle a velocidade e a rota, e navegamos durante dias até àquele que poderia ser considerado o mais belo paraíso luso para o descanso. Aquela que pode ser uma das mais belas praias de sempre. Ou um dos sítios que se pode classificar como um dos melhores destinos para esquecer a agitada rotina que nos atinge… Dobrando o Espichel, depois São Vicente, logo a ponta da piedade, e por fim Santa Maria, alinhamos o farol e o marco geodésico pelo través e aproamos à entrada do canal para a Ria Formosa. O vento dá-nos a tranquilidade e o silêncio do motor desligado, o sol consola-nos na manhã quente algarvia e leva-nos até à primeira bóia balizadora dos fundos permitidos.
Do bugio a São Vicente, para chegar a Lagos, precisámos de 2 dias. Avarias comuns, que mostram os ossos deste ofício ditaram as horas de saída. Foram duas manhãs perdidas em reparos e arranjos. Mas daqui íamos seguros que solidamente e sem que imprevistos ou traições do motor nos mudassem alguns planos para chegar ao mais ansiado destino. No diário de bordo ficou registado que em Sines, a primeira paragem, entrámos já passava das dez da noite. Para primeira atracagem desta tripulação, que velejava pela primeira vez junta, tudo correu bastante bem, não fossem as indicações do comandante as melhores, como nos habituara desde sempre.
Ao largo do último cabo que deixa a costa oeste para dar lugar à do sul, as escarpas dançam ao som das mais variadas cores e feitios. Procuramos pelo binóculo reconhecer em terra construções familiares, adivinhando estradas, vilas e lugares, onde sabemos já ter estado. A cada identificação uma vitória, uma peça encaixada na construção do mundo ideal. Do Portugal que gostamos e queremos. Do mar as vistas são as mais frágeis e as mais manejáveis. Dão-nos a sensação de uma supremacia ingénua e delicada, como que um domínio sobrenatural capaz de criar a perfeição pelo poder daquela imaginação.
Ainda o sol não estava a pique já nós estávamos fundeados na tranquila baía da ria, em frente à culatra. Essa tal ilha que, para mim, podia ocupar o primeiro lugar no ranking das melhores escapadelas lusas. Ali podíamos ficar dias e dias, sem qualquer urgência ou necessidade de civilização. Mas ficámos dois: o da chegada e o da partida. Não fossem os imprevistos técnicos que qualquer oficio está sujeito, estivemos naquele paraíso menos tempo que desejaríamos. A paz que pairava na paisagem ouvia-se como o cantar embalador dos sonos de criança. A praia, do outro lado da ilha, na preia-mar, oferecia-nos uma vista da mais bela natureza, desfocando qualquer sinal de construção humana, que pudesse estragar a fotografia. As cores que nos deu o sol no seu momento de recolha ficam além de qualquer tentativa de representação. Saem da imaginação, vendo a sua existência menos provável que o raio verde, que ainda se mostrou tão efémero como o nosso piscar de olhos.
Como poderei eu ter visto mundo antes de conhecer os paraísos que a minha própria terra oferece…? Mais reitero que aqui existe o que há de melhor no mundo.
Usando as ideias de Ortega e Gasset, ouso dizer que a paisagem é o meio, e cada um de nós vê a sua paisagem. Mas aquela paisagem que ali deslumbrávamos disse-se unanimemente magnífica, fossem quais fossem os olhos que a observavam. Entre todos concordámos a magnitude daquele lugar. E os meus olhos viam e sentiam a tranquilidade e o descanso de uma vida fora da vida, montada pelos sonhos, real como o sentimento do momento.
Obrigada Avô.
Até logo.
Pela tranquilidade e alienação total que proporciona, viajar no barco do avô sempre foi um dos maiores privilégios que tive. No mar, a terra é vista como um cenário animado, fazendo-me imaginar onde colocar cada pessoa, cada casa, cada experiência. Faz levantar o voo da imaginação, e deixa-me brincar com as peças, montando a cidade ideal e tão real como o imaginário o deixa ser.
Largando Lisboa rumando ao sul, deixa-se que o vento controle a velocidade e a rota, e navegamos durante dias até àquele que poderia ser considerado o mais belo paraíso luso para o descanso. Aquela que pode ser uma das mais belas praias de sempre. Ou um dos sítios que se pode classificar como um dos melhores destinos para esquecer a agitada rotina que nos atinge… Dobrando o Espichel, depois São Vicente, logo a ponta da piedade, e por fim Santa Maria, alinhamos o farol e o marco geodésico pelo través e aproamos à entrada do canal para a Ria Formosa. O vento dá-nos a tranquilidade e o silêncio do motor desligado, o sol consola-nos na manhã quente algarvia e leva-nos até à primeira bóia balizadora dos fundos permitidos.
Do bugio a São Vicente, para chegar a Lagos, precisámos de 2 dias. Avarias comuns, que mostram os ossos deste ofício ditaram as horas de saída. Foram duas manhãs perdidas em reparos e arranjos. Mas daqui íamos seguros que solidamente e sem que imprevistos ou traições do motor nos mudassem alguns planos para chegar ao mais ansiado destino. No diário de bordo ficou registado que em Sines, a primeira paragem, entrámos já passava das dez da noite. Para primeira atracagem desta tripulação, que velejava pela primeira vez junta, tudo correu bastante bem, não fossem as indicações do comandante as melhores, como nos habituara desde sempre.
Ao largo do último cabo que deixa a costa oeste para dar lugar à do sul, as escarpas dançam ao som das mais variadas cores e feitios. Procuramos pelo binóculo reconhecer em terra construções familiares, adivinhando estradas, vilas e lugares, onde sabemos já ter estado. A cada identificação uma vitória, uma peça encaixada na construção do mundo ideal. Do Portugal que gostamos e queremos. Do mar as vistas são as mais frágeis e as mais manejáveis. Dão-nos a sensação de uma supremacia ingénua e delicada, como que um domínio sobrenatural capaz de criar a perfeição pelo poder daquela imaginação.
Ainda o sol não estava a pique já nós estávamos fundeados na tranquila baía da ria, em frente à culatra. Essa tal ilha que, para mim, podia ocupar o primeiro lugar no ranking das melhores escapadelas lusas. Ali podíamos ficar dias e dias, sem qualquer urgência ou necessidade de civilização. Mas ficámos dois: o da chegada e o da partida. Não fossem os imprevistos técnicos que qualquer oficio está sujeito, estivemos naquele paraíso menos tempo que desejaríamos. A paz que pairava na paisagem ouvia-se como o cantar embalador dos sonos de criança. A praia, do outro lado da ilha, na preia-mar, oferecia-nos uma vista da mais bela natureza, desfocando qualquer sinal de construção humana, que pudesse estragar a fotografia. As cores que nos deu o sol no seu momento de recolha ficam além de qualquer tentativa de representação. Saem da imaginação, vendo a sua existência menos provável que o raio verde, que ainda se mostrou tão efémero como o nosso piscar de olhos.
Como poderei eu ter visto mundo antes de conhecer os paraísos que a minha própria terra oferece…? Mais reitero que aqui existe o que há de melhor no mundo.
Usando as ideias de Ortega e Gasset, ouso dizer que a paisagem é o meio, e cada um de nós vê a sua paisagem. Mas aquela paisagem que ali deslumbrávamos disse-se unanimemente magnífica, fossem quais fossem os olhos que a observavam. Entre todos concordámos a magnitude daquele lugar. E os meus olhos viam e sentiam a tranquilidade e o descanso de uma vida fora da vida, montada pelos sonhos, real como o sentimento do momento.
Obrigada Avô.
Até logo.
2 comments:
UAU!
Voltasti!
bjs,
Lee´s
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