Monday, August 24, 2009

Maravilhas de Portugal II

Só depois de lá estar me apercebo da saudade que aquela praia me fazia sentir faz tempo. Pode tudo mudar, pode tudo evoluir, pode até tornar-se impessoal, mas o que se lá viveu não se esquece, e a maravilha da natureza continua a ditar o que sempre proferi daquele lugar. Mais uma beleza natural aqui tão perto, ao nosso lado. A memória do passado emerge cada vez que a visito. A recordação imortaliza a vista. Protege-a de qualquer aberração edificada a tentar amachucar a envolvente. Essa paisagem, para mim, será sempre a que trago comigo. Aquela que criei com o que vivi e com o que vivo. Volto a ser influenciada pelas reflexões de Ortega, que mais uma vez me inspira confirmando nas suas palavras as ideias alojadas em mim há tanto.

O areal selvagem ainda longe da mão urbana é culpado da minha conservada convicção. O progresso visita aquela vida piscatória, como qualquer outra que tem no turismo muito do sustento, mas deixa que ela se mantenha o nosso refúgio de férias como desde o primeiro ano, ainda antes de ter capacidade de materializar o sentimento fincado até hoje.
Nem eventual longo caminho nos inibe de querer sair para lá, longe é onde não se quer ir. As alternativas de rota são várias, quebrando a monotonia da viagem que ás vezes me invade só por culpa do meu imaginário criador de imagens irreais e manipuladoras de vontades. Desta vez, fugindo a Foros de Pouca Farinha, evitando Vila Franca do Rosário ou Ribeira da Azenha, apanho a estrada de Gasparões. Quantos mais lugares nos esconde o mapa? São inúmeras as aldeias, vilas, aglomerados de casas que vivem em tom de urbe, que nos ditam a certeza do caminho certo, adivinhando o tempo para a chegada. É ao passar o café Rita, depois daquele redondel que se mostra estanque, mantido há anos igual, orientando para diferentes zonas do sudoeste alentejano, que sei que a chegada não tarda. A entrada da vila, cada vez é mais antes de chegar, torna a tabuleta que indica 1 Km obsoleta, mas continua a criar o frio impaciente na barriga que acelera o pulsar vertiginosamente. Já não aguento a ânsia… essa tabuleta peca por defeito em relação à verdadeira distância para chegar a casa, aquela longe do centro urbano, de onde o descanso e o repouso não saem e nos esperam sempre de braços abertos.

Arrisco dizer que melhor ócio do que aquele é difícil. Ali, naquela paz ao som da natureza em bruto, o mar grita-nos a intensidade da sua raiva, ou sem se fazer ouvir mostra-se o mais calmo. A luz de fim de tarde rouba o tempo, faz crer que estou parada no curso das horas. Nada se move, nada acontece, a calmaria ouve-se e desfruta-se.

Ainda que num refúgio longe do que nos faz andar, do que nos move, a partilha do espaço com outros habituais, do lugar amantes fiéis como eu, torna-o mais encantador. Não podemos eremitar e mantermo-nos felizes. A sociabilidade do ser é necessária à sua ventura. O individualismo provoca frio, petrifica o sentimento. A vida não nos foi dada para o isolamento. Ali, naquele lugar, de nome que mente, de gentes sãs, de férias e descanso, hei de continuar a querer ir. Ali, àquele lugarzinho de Portugal, que será sempre para mim lugarzinho, hei de querer voltar incessantemente. Onde quem está me recebe com vontade, onde quando não vou me estranham, onde haverá sempre o melhor ócio.
Princesa do Alentejo, até logo.

6 comments:

Anonymous said...

GRANDE Rita! Sem palavras... é isso mesmo. Beijos
Ana MSG

Anonymous said...

Que espectáculo!
Eu que não era mas que agora também já me sinto um bocadinho de lá, digo e repito: que te recebo com vontade e que quando não vais te estranho!
bjs
Ana de Sousa

Anonymous said...

Falas de Esterreja, não é? Pas

Anonymous said...

Rita,

Incrivel!

lee said...

Nada como voltar a "casa".

bjs

Lee´s

Clara Marina de Sousa said...

Realmente é uma experiência espetacular.
A maneira como este blogue espõe todas as experiencia passadas durante esta maravilhosa viagem, faz-nos entrar de tal maneira que parece estarmos lá também.
Os meus PARABÉNS por este blogue e por todas as experiências que passou durante esta viagem.

Beijos,

Clara Sousa