Sábado de manhã, bem cedinho, o barco esperava-nos fundeado perto da costa, para nos levar até essa magnifica ilha em frente a Dili, onde ainda há menos de 70 anos o povo vivia como na idade da pré-história. Éramos 8, o Pedro e as filhas, Inês e Violeta, a Sara, o Bruno, a Maria João, o Luís e eu. Embarcámos num botezinho que nos levou até ao barco do Jimmy e voltámos a desembarcar num barquinho local que nos levou até ao cais de Atauro, melhor dizendo, à praia. Por aqui andámos até à “praça” principal, um pequeno alargar da única estrada da ilha, onde existe um mercado e um pequeno ajuntamento de pessoas. Aqui esperámos pelo carro, a carrinha branca, como era ali conhecida, onde na caixa aberta nós e as nossas malas iríamos até ao eco-resort onde iríamos ficar. Um conjunto de cabanas de bambu, cobertas de colmo, implantadas num palmeiral em cima da praia, com caminhos de perdas no meio de um chão de erva entre as casas, era o nosso poiso. Uma delicia. O banho era de balde, dentro de um muro redondo, sem tecto, com folhas de palmeira e outra vegetação a decorar. A casa de banho era ao lado, noutro cilindro de alvenaria, com apenas um buraco em cima de uma espécie de cadeira, onde dentro seria um saco para depois recolher e deitar no eco-ponto. Estávamos bem perto da natureza.
Depois de confortavelmente instalados e um cafezinho bem timorense tomado, íamos de novo apanhar um barco, para experimentar uma praia que diziam ser lindíssima, na ponta mais ocidental da ilha. Desta vez era um barquinho típico local, um casco curto, estreito e comprido equilibrado com dois troncos, um de cada lado, que o tornava um trimaran bem estável e seguro. Um motorzinho fora de borda, dois timoneiros, um ajudante cuja a tarefa era tirar a água do barco, e nós, os tripulantes, arrumados em fila indiana ao longo de todo o convés.
A lenta viagem até Acrema foi acelerada pela admiração constante da paisagem subaquática e da vista terrestre. Naquela água a todo o momento dava vontade de mergulhar, de ir ter com aquele chamativo e colorido fundo. Entre músicas, fotografias e deslumbramento do cenário, fomos navegando até ao destino. Chegámos finalmente ao paraíso, uma praia de areia branca, onde os diferentes fundos definiam milhões de azuis diferentes, onde a densa vegetação nos separava da montanha atrás do areal...
A praia pedia que ficássemos, uns passeios até à ponta, uns banhos na transparência turquesa daquela água não nos despertavam qualquer vontade de sair dali. Mas tínhamos hora marcada com os timoneiros, às 3 tínhamos de voltar, era o combinado. Esticando o tempo o mais que podíamos, sem entender porque teríamos de partir tão cedo, já que o sol só se punha daí a tanto tempo, lá soltámos amarras para voltar ao resort. A volta estava tranquila. Continuávamos a admirar aqueles corais tão perto de nós... sim, estavam de facto bem perto, cada vez mais, via-se tudo a olho nu, mesmo à frente dos nossos olhos... Pareciam até estar perto demais. Conseguíamos admirar as imensas e coloridas estrelas do mar que poisavam naqueles corais sem sequer nos debruçarmos muito... o barco calava pouco, mas ainda assim não parecia o suficiente para passar ali, já que a maré ia cada vez mais baixa... Talvez fora esta a razão, que inicialmente não entendíamos, que nos obrigaria a partir tão cedo daquele paraíso. Afinal os nossos guias conhecem a sua terra, não confiar ou desafiar foi um erro.
A arca do Bruno ainda estava pesada, não tínhamos dado conta do imenso rosbife e de tanto pão. Distribuíram-se sandwichs pelos nossos tão atenciosos e amigos timoneiros, e aos locais que nos olhavam como típico grupo de turistas perdido em parte incerta sem o mínimo de conhecimento da vida naquela ilha, demos-lhes um pacote de bolachas que para um genuíno agradecimento nos retribuíram com uma carapaça de tartaruga embebida em óleo polidor. A carrinha não chegava, a dia ia acabando e a impaciência pura com um pragmatismo ingénuo de uma criança de 7 anos, fazia a Violeta sugerir a todo o segundo que fossemos andando a pé. A carrinha com certeza que nos vê e nessa altura apanhamos boleia... óbvio... “Alguém quer Camembert?” Perguntava o Bruno no meio daquele ambiente selvagem, que nos fazia gargalhar de tão bizarra combinação de queijo importado numa ilha deserta...
A volta a casa foi rápida. Chegámos antes da noite, em mais uma caixa aberta, admirando os imensos penhascos que nos traziam o coração à boca em cada curva que a roda da carrinha passava tangente ao precipício, mas deixando-nos mais um magnifico ponto de vista daquela espantosa ilha.
Para o jantar esperava-nos um peixe grelhado encomendado antes da partida para a inimaginável aventura do dia. Na cabana sem paredes, sala de convívio e de refeições, sentados à mesa em almofadas no chão, passámos ali uma noite bem agradável ao som da selecção de música da Sara, à luz de lanterna a petróleo, com o barulho da natureza de fundo.
No dia seguinte desfrutámos a praia em frente ao Resort. Banhos difíceis de acabar, um sol que não cessava, uma tranquilidade anestesiante... A volta no barco do Jimmy estava prevista para 3h da tarde. Escaldados do dia anterior, não ousaríamos por nada sugerir prorrogação de horário, embora apetecesse bastante. Se é às 3 que barco tem de sair, assim será para nós. O vento levantou-se antes do esperado e as ondas atrasaram a corrida. Dili ainda demorou a chegar, e o mar não me deixou nem um cm2 seca...
Um belo fim de semana na Ilha de Atauro!
Até logo.
2 comments:
Se fosse invejoso esse sentimento estaria num ponto alto.
Gostei do ecoponto.
Beijos do 1º
M-A-R-A-V-I-L-H-A...
faça favor, continue!!
bjo
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