Sem perder tempo e de sorriso orgulhoso e ansioso por nos mostrar o seu quotidiano (diurno, mas principalmente nocturno) Eva, a filha de José, não nos deixou um minuto sequer... mostrou-nos a vida social de Lima, outros lugares obrigatórios de visita, um pouco do centro histórico na parte antiga da cidade, e uma imensa e sempre presente atenção ao nosso bem estar. Património cultural do Peru, o Pisco foi o a primeira coisa apresentada por Eva. Feito de uma uva especial, plantada em determinadas zonas, o Pisco bebe-se sour. Um cocktail à base desta aguardente única com, além de outras coisas, ovo, bebe-se por todo o Peru não podendo não provar várias vezes... Assim o fizémos. Estávamos no Peru.
A Cidade dos Reis, como lhe chamou Francisco Pizarro, conquistador do Peru ao serviço da coroa espanhola, é uma cidade grande. Mantém as heranças dos tempos coloniais no centro, erguendo na Praça de Armas os habituais edifícios de Governo e a Catedral, modelo que é tomado por qualquer centro urbano no Peru e da América do Sul espanhola, ou antigo Novo Mundo. Desenvolve-se ao seu redor repartindo-se em distritos. O nosso era La Molina, uma área residencial, simpática, calma, e muito segura. Dominando a nossa zona, já nos deslocávamos relativamente bem. O trânsito, alguma confusão, mercados de rua sem arrumação, anarquias instaladas em alguns lugares, levaram-me à Índia... Aquele autocarro que passa com o pica empoleirado na porta aberta gritando o destino da sua micro em muito pouco difere do sistema de transportes públicos indianos. Todos propagandeiam o seu percurso como sendo o melhor, mostrando no entanto por dentro do pequeno autocarro passageiros além da lotação permitida, como sardinhas em lata...
Em montes marginais na periferia da cidade, terras de ninguém são invadidas por comunidades preenchendo a encosta de casas feitas de tijolo sem reboco. Aqui também chegou a Oikos, para ajudar a munir a zona de infra-estruturas básicas ao desenvolvimento dessas novas comunidades. Muros de suporte que evitem desmoronamentos da encosta, sistemas de esgotos, e acessos de escadas foram construídos. Com a mão de obra local, que se divide pelos dias da semana e a ajuda da Oikos, mais um bairro da cidade de Lima, bem diferente dos que conhecíamos até então, se desenvolve de forma sustentada, fazendo crescer a enorme cidade.
Mais do que o prazer de uma paragem maior para evoluir na pesquisa e da possibilidade de ver o menos acessível Peru andino, a Oikos e a sua família deram-nos o conforto de um lar e a oportunidade de viver num dia-a-dia local, que tanto se aproxima do nosso vivendo os mesmos hábitos, preocupações, entusiasmos e ambições... Já nos sentíamos em casa, e a casa já nos sentia como tal. Ao entrar a casa recebia-nos Bonga, abanando o rabo manisfestando óbvia saudade e reclamando tanta ausência...
Até logo!