No meio do Oceano Pacífico, um dos vértices polinésio intitula-se o Umbigo do Mundo. O seu isolamento pela longa distância de qualquer outro ponto terrestre e pelo acidentado acesso do contorno geográfico legitimam esta auto análise. Esta ilha, o ponto habitado mais isolado do globo, era desde há muito um destino de viagem que eu ambicionava bastante, daqueles que de tão inalcançáveis que pensamos serem pairam eternos nos sonhos perdendo a sua qualidade de real.
Quando aterrámos na Ilha da Páscoa, depois de 5 horas de voo desde o sítio mais perto, recordei os meus sonhos antigos. Fui buscar as minhas imaginárias imagens para as comparar com as que presenciava agora, as reais, que afinal existiam. Não consegui. Continuei a vaguear no sonho, no meu próprio embalo, desejando não acordar...
Desde o início da viagem, em Fevereiro passado, passámos por muitos sítios diferentes, cada um com a sua própria identidade separando-se uns dos outros como azeite na água. Visitámos monumentos que espalham diferentes formas de viver, praças que reúnem diferentes culturas, cafés que ensaiam costumes raros, e a cada mudança uma nova sensação, uma nova análise, um novo beber. A cada mudança faço o exercício de esvaziar o copo cheio de pessoas que conheci, amizades que criei, povos que descobri e que me encantaram e culturas que me conquistaram, para poder encher de novo com mais amigos, mais povos, mais culturas. Aproveito a viagem de saída para guardar o conteúdo do copo no frasco das recordações. Sei que a qualquer hora qualquer pormenor, em vez de passar despercebido faz saltar a tampa de um ou mais destes preciosos frascos que tenho vindo a acumular na minha bagagem emocional. No avião de Santiago para Hanga Roa, a cidade da Ilha da Páscoa, voltei ao exercício do costume, estreei mais um frasco. A partilha com a Carmo, de experiências e vivências dos mesmos lugares, das mesmas gentes, das mesmas paisagens, vividos em alturas diferentes e de formas diferentes com companhias diferentes, trouxe-nos uma troca que transbordou o frasco das recordações neozelandesas e reabriu outros frascos antigos com memórias novas. Constato mais uma vez que a partilha é a melhor maneira de arrumar emoções, de encher mais frascos.
Finalmente as nossas malas aparecem no tapete rolante para podermos partir em busca de sítio para ficar. Facílimo. Escolhemos um dos hóstias que todas as terças às 11e30 montam a sua banca publicitária para angariar o número máximo de turistas que acaba de chegar. Ficámos no melhor, pela nossa análise. A dona Teresa, mãe, avó, dinâmica, conhecida por todos, serve os melhores pequenos almoços da ilha, assim definimos nós pela surpresa diária que nos preparava a simpática senhora.
Nos meus sonhos, esta ilha era deserta, ou talvez habitassem índios de riscas na cara e colares de flores dançando aos seus heróis de pedra agradecendo por existirem. Mas as enormes estátuas de pedra, os moais, construídas há centenas de anos, representando os chefes das várias tribos que disputavam o território e que des-pululavam e pululavam a ilha sucessivamente pelo domínio da terra, afinal eram reais. Tão reais como imponentes. Os seus rostos todos iguais mas cada um com o seu feitio, olhavam-nos numa simpatia cativante que mesmo calados como uma pedra faziam companhia de gente. Tal como andavam e falavam nos meus sonhos. Na realidae até os podia ouvir...
Quando aterrámos na Ilha da Páscoa, depois de 5 horas de voo desde o sítio mais perto, recordei os meus sonhos antigos. Fui buscar as minhas imaginárias imagens para as comparar com as que presenciava agora, as reais, que afinal existiam. Não consegui. Continuei a vaguear no sonho, no meu próprio embalo, desejando não acordar...
Desde o início da viagem, em Fevereiro passado, passámos por muitos sítios diferentes, cada um com a sua própria identidade separando-se uns dos outros como azeite na água. Visitámos monumentos que espalham diferentes formas de viver, praças que reúnem diferentes culturas, cafés que ensaiam costumes raros, e a cada mudança uma nova sensação, uma nova análise, um novo beber. A cada mudança faço o exercício de esvaziar o copo cheio de pessoas que conheci, amizades que criei, povos que descobri e que me encantaram e culturas que me conquistaram, para poder encher de novo com mais amigos, mais povos, mais culturas. Aproveito a viagem de saída para guardar o conteúdo do copo no frasco das recordações. Sei que a qualquer hora qualquer pormenor, em vez de passar despercebido faz saltar a tampa de um ou mais destes preciosos frascos que tenho vindo a acumular na minha bagagem emocional. No avião de Santiago para Hanga Roa, a cidade da Ilha da Páscoa, voltei ao exercício do costume, estreei mais um frasco. A partilha com a Carmo, de experiências e vivências dos mesmos lugares, das mesmas gentes, das mesmas paisagens, vividos em alturas diferentes e de formas diferentes com companhias diferentes, trouxe-nos uma troca que transbordou o frasco das recordações neozelandesas e reabriu outros frascos antigos com memórias novas. Constato mais uma vez que a partilha é a melhor maneira de arrumar emoções, de encher mais frascos.
Finalmente as nossas malas aparecem no tapete rolante para podermos partir em busca de sítio para ficar. Facílimo. Escolhemos um dos hóstias que todas as terças às 11e30 montam a sua banca publicitária para angariar o número máximo de turistas que acaba de chegar. Ficámos no melhor, pela nossa análise. A dona Teresa, mãe, avó, dinâmica, conhecida por todos, serve os melhores pequenos almoços da ilha, assim definimos nós pela surpresa diária que nos preparava a simpática senhora.
Nos meus sonhos, esta ilha era deserta, ou talvez habitassem índios de riscas na cara e colares de flores dançando aos seus heróis de pedra agradecendo por existirem. Mas as enormes estátuas de pedra, os moais, construídas há centenas de anos, representando os chefes das várias tribos que disputavam o território e que des-pululavam e pululavam a ilha sucessivamente pelo domínio da terra, afinal eram reais. Tão reais como imponentes. Os seus rostos todos iguais mas cada um com o seu feitio, olhavam-nos numa simpatia cativante que mesmo calados como uma pedra faziam companhia de gente. Tal como andavam e falavam nos meus sonhos. Na realidae até os podia ouvir...
Viemos para ficar 5 dias, era o calendário possível da linha aérea chilena. Para percorrer as estradas pouco cimentadas e escassas da ilha e para visitar muito mais que os moais que celebrizaram a Ilha da Páscoa em todo o mundo e nos meus sonhos, alugámos por dois dias uma moto4. Fomos a todos os pontos possíveis de ir por estrada. E ainda fizemos um trekking...
Visitámos os 3 vulcões que originaram a formação de uma ilha só. O primeiro foi o Rana Kau, perto de Orongo, a zona dos homens-passáro, os grandes ídolos dos nativos por terem a liberdade de abrir asas e voar ao mundo coisa impossível para o humano. Aos nativos mais corajosos subia-lhes a vontade de desafiar a natureza e atiravam-se do alto do vulcão ao mar para tentar de alguma forma chegar ao Mundo.
Desta impressionante cratera inimaginável nas minhas imaginárias imagens, partimos em busca de mais pontos de visita. Encontrámos lugar de almoço na companhia dos sete moais, os únicos que olham o mar na esperança de ver o seu povo de outras terras protegido, pois todos os outros olham para terra para protegerem o seu próprio povo. Foi daqui que partimos para o nosso trekking. Este segundo vulcão, o cume mais alto de todos, mostra-nos uma vista de mar a 360 graus, a verdadeira sensação de estar numa ilha. Rodo em torno de mim mesma e o que vejo sempre é mar. Subimos, subimos, subimos até alcançar a vista mais impressionante que vivi, muito além do alcance da máquina e mesmo dos meus olhos. A vontade de voar, de deixar que o vento me leve, trouxe-me de novo ao sonho.
Também o monte Rano Rarakuno foi alvo das nossas máquinas, dos nossos olhares, de mais uma constatação da minha ainda incrédula possibilidade de estar onde estava. Deste terceiro vulcão sai a matéria-prima dos moais, o único lugar da ilha com este tipo de pedra. Chamam-lhe a “fábrica dos moais”. Foi o que nos disseram os miúdos que viviam em frente da dona Teresa, que tanto nos ensinaram da sua terra, do povo Rapa Nui, em alguns passeios pela cidade que desfrutámos com eles. Daqui avistam-se os 15 moais, local escolhido para contemplar o crepúsculo, mas nesse dia o sol não quis nascer, ficando inibido pelas nuvens carregadas de chuva. O casal americano com quem fomos naquela madrugada, viaja pelo mundo de barco à vela. Deixaram a sua “casa” no México, voaram até ao lugar impossível de se chegar à vela e ficaram instalados na porta ao lado da nossa em casa da dona Teresa. Das suas imensas viagens ao longo de toda a vida, por terra e mar coleccionavam um sem número de frascos cheios de conteúdos para relembrar e partilhar.
Visitámos a praia de Anakena, onde também moais virados para terra para olhar pelo seu povo embelezam os olhos do turista, alinhados e arrumados embutidos na paisagem tropical de água turquesa, areia branca e palmeiras em redor. Apesar do tão cobiçado clima das outras ilhas polinésias não visitar tanto assim a ilha da Páscoa, as fortes rajadas de sol que ultrapassam as nuvens levam pessoas a banhos fora de época. Nós por nós aproveitámos esse sol com uma sestazita na relva do lado que nos trouxe um cheirinho a verão.
De todas as perspectivas e cenários que olho os moais, deambulo em pensamentos entre o sonho e a realidade, percebendo que não vale a pena distingui-los porque se completam. O que um dia imaginei agora cubro com mais e mais imagens que enriquecem e realizam o sonho de outrora.
Mais ainda além do que eu imaginava, a cidade que alberga os quase 4 mil habitantes desta ilha, encantou-me. Uma cidade pacata, com vida além do turismo, arranjada e arrumada, que dava gosto andar. O perfume constante no ar deixa-me andar suspensa no espaço sem nada visivel que me sustente. O mais antigo meio de transporte do homem ainda hoje passeia naquelas ruas como veículo do povo Rapa Nui. Chilenos que fazem lembrar os chilenos que eu imaginava chilenos, transportam-se nos seus cavalos como se de mota ou de carro. Selvagens ou domesticados são mais que os cães e fazem companhia aos nossos amigos moais por toda a ilha.
Foram dias mais que perfeitos. Desfrutámos de todos os pontos arqueológicos do mapa com a azáfama que o turista pede e vivemos a terra e o povo com a tranquilidade que o viajante tanto gosta. O sonho tornou-se real e encheu um grande e largo frasco de memórias.
Até logo!
Visitámos os 3 vulcões que originaram a formação de uma ilha só. O primeiro foi o Rana Kau, perto de Orongo, a zona dos homens-passáro, os grandes ídolos dos nativos por terem a liberdade de abrir asas e voar ao mundo coisa impossível para o humano. Aos nativos mais corajosos subia-lhes a vontade de desafiar a natureza e atiravam-se do alto do vulcão ao mar para tentar de alguma forma chegar ao Mundo.
Desta impressionante cratera inimaginável nas minhas imaginárias imagens, partimos em busca de mais pontos de visita. Encontrámos lugar de almoço na companhia dos sete moais, os únicos que olham o mar na esperança de ver o seu povo de outras terras protegido, pois todos os outros olham para terra para protegerem o seu próprio povo. Foi daqui que partimos para o nosso trekking. Este segundo vulcão, o cume mais alto de todos, mostra-nos uma vista de mar a 360 graus, a verdadeira sensação de estar numa ilha. Rodo em torno de mim mesma e o que vejo sempre é mar. Subimos, subimos, subimos até alcançar a vista mais impressionante que vivi, muito além do alcance da máquina e mesmo dos meus olhos. A vontade de voar, de deixar que o vento me leve, trouxe-me de novo ao sonho.
Também o monte Rano Rarakuno foi alvo das nossas máquinas, dos nossos olhares, de mais uma constatação da minha ainda incrédula possibilidade de estar onde estava. Deste terceiro vulcão sai a matéria-prima dos moais, o único lugar da ilha com este tipo de pedra. Chamam-lhe a “fábrica dos moais”. Foi o que nos disseram os miúdos que viviam em frente da dona Teresa, que tanto nos ensinaram da sua terra, do povo Rapa Nui, em alguns passeios pela cidade que desfrutámos com eles. Daqui avistam-se os 15 moais, local escolhido para contemplar o crepúsculo, mas nesse dia o sol não quis nascer, ficando inibido pelas nuvens carregadas de chuva. O casal americano com quem fomos naquela madrugada, viaja pelo mundo de barco à vela. Deixaram a sua “casa” no México, voaram até ao lugar impossível de se chegar à vela e ficaram instalados na porta ao lado da nossa em casa da dona Teresa. Das suas imensas viagens ao longo de toda a vida, por terra e mar coleccionavam um sem número de frascos cheios de conteúdos para relembrar e partilhar.
Visitámos a praia de Anakena, onde também moais virados para terra para olhar pelo seu povo embelezam os olhos do turista, alinhados e arrumados embutidos na paisagem tropical de água turquesa, areia branca e palmeiras em redor. Apesar do tão cobiçado clima das outras ilhas polinésias não visitar tanto assim a ilha da Páscoa, as fortes rajadas de sol que ultrapassam as nuvens levam pessoas a banhos fora de época. Nós por nós aproveitámos esse sol com uma sestazita na relva do lado que nos trouxe um cheirinho a verão.
De todas as perspectivas e cenários que olho os moais, deambulo em pensamentos entre o sonho e a realidade, percebendo que não vale a pena distingui-los porque se completam. O que um dia imaginei agora cubro com mais e mais imagens que enriquecem e realizam o sonho de outrora.
Mais ainda além do que eu imaginava, a cidade que alberga os quase 4 mil habitantes desta ilha, encantou-me. Uma cidade pacata, com vida além do turismo, arranjada e arrumada, que dava gosto andar. O perfume constante no ar deixa-me andar suspensa no espaço sem nada visivel que me sustente. O mais antigo meio de transporte do homem ainda hoje passeia naquelas ruas como veículo do povo Rapa Nui. Chilenos que fazem lembrar os chilenos que eu imaginava chilenos, transportam-se nos seus cavalos como se de mota ou de carro. Selvagens ou domesticados são mais que os cães e fazem companhia aos nossos amigos moais por toda a ilha.
Foram dias mais que perfeitos. Desfrutámos de todos os pontos arqueológicos do mapa com a azáfama que o turista pede e vivemos a terra e o povo com a tranquilidade que o viajante tanto gosta. O sonho tornou-se real e encheu um grande e largo frasco de memórias.
Até logo!
11 comments:
Que maravilha!! Foi bom sentir tanta felicidade nas tuas palavras!
bjo e boa viajem!
Se este era o teu sonho, tornou-se o nosso também. Eu já não queria acordar... queria aproveitar cada gota e voar um pouco também!
que inveja ....
que loucura ... deu para ver que deus existe??????
tconstança
Achei legitimitade para continuar a aspirar ir ao umbigo do mundo... pode ser que um dia! senão já tenho um frasco meu cheio das tuas memórias, não é mau!!!
Agora já posso dizer q " tenho uma amiga q já foi à ilha da Pascoa" e calar uma sala inteira de espanto. espero um dia poder ser eu a dizer que tb já o fiz.
Mtos bjs amiga, bela escrita
RSF
Tantas coisas boas! Que frasco! ;)
bjs daqui!
LEE
Espetacular. è tal e qual aquele filme "Rapa Nui, o centro do mundo"!! As vezes ponho-me a ler as tuas aventuras( assim como hoje, que estou enterrada num bloco operatório até desoras) e acho que me faltam tantos frasquinhos... Que bom viveres tudo isso, e que bom partilhares conosco, parece que por minutos estamos ai. obrigada
bjs
mafalda
Não é por não ter lido que não tinha ainda escrito presente.Bjs
Q BOM OUVIR NEWS TUAS!! Agora que os horários de msn n se encontram... Só sei mesmo de ti por aqui!
OBG por mais esta TRIP! :)
MTS BJS!
Madalena
Muito bem!
Beijinhos
Tiago Cabral
Sem desmerecer os relatos anteriores, nem desmotivar para os que se seguem, este encheu-me as medidas...absorvi cada palavra, imagem e sensação até ao tutano...fez jus ao nome que escolheste para esta fantástica "prateleira de frascos" e antecipou ainda mais a vontade de te rever e de voltar a abrir esses frascos...desculpa-me a repetição, mas é inevitável. bjs
Ga-Mary
Ritinha!
Finalmente escrevo algum comentário neste teu blog espectacular. Que saudades!!!!
Finalmente a tua tão desejada Ilha da Páscoa - The drem come true! Tenho lido os teus relatos e estou dislumbrada com o bem que escreves!!!! sem exageros! Sinto que viajo contigo. Milhoes de beijos e continua a aprioveitar bem e a partilhar connosco essa viagem de sonho. Ana
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