A cobiça desta viagem fez-nos marca-la com meses de antecedência. Foi escolher uma data aleatoriamente no calendário e seguir os passos até lá de acordo com a vontade e com o dia da ansiada partida.
O nosso copo de visitas turísticas estava cheio, cheio de paisagens merecedoras de uma boa arrumação... Não podíamos seguir de repente sem antes esvaziar este copo atestado de Bolívia. Precisávamos de descanso. No fim de tarde do dia da chegada a São Pedro, relaxando no café da praça central conhecemos Enzo e Álvaro que trabalham num desses bares/restaurantes que animam as noites dos turistas. Enzo, conhecedor do mundo, viajante por vocação, cozinheiro de profissão levou-nos a experimentar uma das tantas atracções da zona, o Sand-dune. Montados na bicicleta, prancha entre as costas e a mochila, deixámos a cidade em direcção as enormes dunas. Uma experiência diferente, engraçada, numa paisagem majestosamente desértica subimos e descemos as dunas numa manhã bem divertida.
Deixámos ao fim do dia São Pedro de Atacama em direcção a um cheirinho de patagónia argentina. Eram quase dois dias de viagem, em 3 autocarros diferentes, com uma hora de intervalo entre cada um até Bariloche. Bem preparadas para inventar formas de apresar o curso do tempo, embarcamos para Santiago, depois Osorno e dali então para Baraloche, o destino final. Nesta cidade com ambiente de estancia de ski alpina, passámos dois dias divertidos na boa companhia que conheceramos no nosso último autocarro. Henrik, Alemão, consultor de tecnologias de informação, que viaja pelo mundo durante os oito meses de licença sem vencimento que a sua empresa lhe deu, e Nicolas, o belga que vai abrir uma espécie de turismo de habitação com o pai, em Portugal!! Perto de Coimbra. Havemos de lá ir.
O dia da ansiada partida aproximava-se. De Bariloche tínhamos de seguir para Puerto Montt, porto de embarque da nossa odisseia seguinte. Mais um aborrecido e longo autocarro, uma dormida à pressa num qualquer hostal da cidade junto ao mar, e check in às 9h da manha de segunda feira. O embarque era só às 14h, até lá o tempo era livre. Fomos procurar um café e uma Internet, as formas mais que habituais para queimar de forma rápida e eficaz uma enorme porção de tempo. Marieke, uma holandesa que viaja durante 3 meses fez-nos companhia nessa manhã, e por mais quase 15 dias... Uma nova Amiga.
O, como já caracterizei, acidentado terreno das X e XI regiões do Chile impede que se ergam estradas possíveis de levar milhões de turistas por ano aos mais famosos pontos da Patagónia chilena. Assim, faze-lo de barco é opção para quase todos. Descemos então pelo prologo da patagónia que nos preparou para o que poderia vir dos seus imensos parques naturais.
A bordo formámos um grupinho mais ou menos fixo, com lugar marcado na popa do barco. Éramos 8 no nosso spot! Além de nós as duas e Marieke, a inglesa Lizze, que interrompeu o seu curso de medicina por um ano para viajar, pois mais tarde seria impossível, a holandesa Frederike que passeia entre mudança de empregos, o holandês Wouter, que vive há dois anos em Santiago, e o holandês Eelco que gere dois coffe shop em Amesterdão, mas fez uma pausa para viajar durante 2 meses na América do Sul, sendo que estas 3 primeiras semanas pela patagónia vem com sua Mãe.
Este barco, por várias razões, foi sem dúvida a melhor maneira de seguir viagem até à Patagónia. As paisagens que mostra, a tranquilidade que oferece, o grupinho de convívio que tive a sorte de encontrar, ofereceram 4 dias de descanso, placidez e boa companhia, e tudo isto em viagem. Pouco havia para fazer num grande mas limitado espaço a bordo. Depois da árdua tarefa que ocupava quase meia hora de manhã, de tomar o pequeno almoço, tínhamos de pacientemente, entre conversas, cartas, ou café e cigarros, e algumas fotografias a algum ponto interessante nas margens dos estreitos canais do Pacifico, esperar pelo almoço. Tínhamos o dia ocupado de refeição em refeição... A eficiente e atenta tripulação não perdia tempo em manter os passageiros bem informados sobre as rotas em curso e o que estava para vir. Algum ponto merecedor de visita era anunciado no altifalante impedindo qualquer hipótese de passar despercebido de qualquer máquina fotográfica. O ponto que mais me fazia ansiar por chegar era o fim dos Andes... ou melhor, a interrupção da cordilheira andina, que no ponto mais ao sul desta viagem, mergulha no Pacifico desaparecendo pouco a pouco e reaparecendo mais longe nas terras geladas da Antárctica.
Chegámos por fim a Puerto Natales, cidade que alberga quem chega ou vai partir na Navimag e quem vem para fazer o famoso W do parque natural de Torres del Paine. As tarefas são as mesmas para todos. Depois de instalados num qualquer albergue que cativou à saída do barco, segue tudo para o aluguer do material de campismo e compra de mantimentos para seguir por 5 ou 6 dias de trecking.
Nós, o grupo onde se instituiu a lei de proibição do uso do idioma dutch, foi se mantendo unido naquela tarde. Adiando o mais possível a despedida para sempre, ou até um dia, decidimos que merecíamos uma boa refeição. Um verdadeiro bife bem guarnecido na companhia do nosso velho amigo vinho. Foram uns dias bem divertidos, bem passados, com boas vistas e boas companhias.
Foi a melhor maneira de chegar à Patagónia!
Até logo.