Saturday, November 10, 2007

Lago Titicaca

Navegável é o mais alto do mundo, acima dos 2000 metros é o maior, e da América do Sul é o mais vasto. Mas muito mais além de posições de rankings geográficos tem este lago que mostrar. Lendas, histórias e mitos são contados aos turistas de forma organizada replicando a antiga ou ainda existente vida das gentes do lago. Também nós ingressamos numa visita organizada.

Chegámos a Puno, cidadezinha nas margens peruanas do grande lago, e fomos recebidos com um dos nasceres do sol mais incríveis e coloridos que já vi. A começar assim, mal podia esperar por esse tour às ilhas do Titicaca. Seriam dois dias de visita às ilhas com uma noite em casa dos habitantes da ilha de Amantaní. Era a parte do programa que mais me engodara. Ser hospede de um nativo... como seria? O que é que nos esperava? A curiosidade e a expectativa eram grandes.
Antes de embarcar, no cais de Puno, diz-nos o guia que temos 10 minutos até entrarmos nesse grande e profundo lago. “Podem comprar qualquer coisa para a família anfitriã”. Fizemos como manda o suposto e dirigimo-nos ao barco.

A primeira paragem foi na ilha de Uros, aquela que mais conhecido além fronteiras torna o Titicaca. Usando da matéria prima disponível, as imensas plantações de totora ou junco, os povos pré-inkas, índios Uros, pioneiros na conquista do lago faziam as suas ilhas flutuantes, e dela as suas casas, as suas embarcações, e até a sua alimentação. Por falta de terra para se estabelecerem encontraram nesta erva que cresce no lago uma forma de sustento. Hoje em dia a doutrina acerca destas gentes divide-se. A ilha é apenas turística ou ainda há quem viva nestas casas de junco. Quando nos aproximamos de uma das ilhas flutuantes, mulheres com vestes típicas acenam-nos com boas vindas ajudando-nos de sorriso na cara a desembarcar em suas casas. Montam o cenário perfeito para enaltecer o olho do turista, fotografar o que já está em todos os postais, e ainda fazer uns trocos com umas vendas de artesanato local. Mascaram-se de propósito para os receber e cantam a música dos seus antepassados. Visitamos as casas, provamos o junco, aprendemos como e porquê aquelas ilhas existem, e percebemos porque tantas das suas casas têm painéis solares nos telhados. Afinal há ainda quem viva nestas ilhas. Sendo ou não esta a doutrina certa, a que o guia defende, saí da ilha de Uros já sem ressentimento por me ter metido no tour mais turístico de sempre, mas com a sensação de que pude ver como viveram em tempos (ou como ainda vivem) famílias inteiras numa ilha flutuante num dos maiores lagos do mundo. Desde dessa manhã apercebi-me que ia visitar um museu em ponto real, com representações verdadeiras do que foi ou ainda é a vida no lago Titicaca.

Seguimos viagem até à próxima ilha, a hospitaleira. Fomos recebidos mais uma vez por locais mostrando a sua mais típica indumentária e com o seu mais genuíno e gracioso sorriso que me enterneceu por completo. Os habitantes de Amantaní além de viverem dos recursos naturais que dá a terra, sustentam-se muito com as visitas destes tours de turistas que lhes pagam uma diária e muitas vezes lhes levam mantimentos ou presentes para os mais pequenos. Em troca do pagamento estas famílias dão-nos dormida, comida bem típica e bastante boa, e uma óptima companhia, mostrando-nos como vivem. Mais uma cultura nas ilhas do Titicaca que tivemos oportunidade de conhecer, e esta de uma forma tão próxima e tão real. Hilária recebeu-nos com poucas palavras mas flagrante felicidade. Viúva com 4 filhos, sustenta e gere a casa com alegria e destreza. Sem nunca deixar a sua roca que fia sem cessar, Hilária guia-nos aos pontos de encontro com o guia e os outros turistas, deixando um sorriso de agradecimento e satisfação quando segue ao seu labor. Nem à noite a organização parou. Uma festa com música local, vestidos a rigor, encheu-nos o animo e fez-nos dançar.
Na manhã seguinte, depois de mais um rico pequeno almoço da nossa anfitriã, despedimo-nos com agradecimento e seguimos a visitar mais uma ilha.

Cada ilha, cada tradição, cada costume, cada forma de viver. Em Taquile, a última ilha visitada, resistindo ainda uma comunidade indígena, os códigos são vários. Os homens mostram no barrete, parecido na forma com o do nosso campino ribatejano, o estado civil. Solteiro é branco, de cor é casado. São eles que costuram os mais conhecidos têxteis, e segundo os próprios dos melhores, do Peru. Num caminho à volta desta ilha menos dependente da actividade turística, conhecemos as suas gentes, os seus hábitos, e acabámos o tour num bom almoço de convívio.

Além do lado peruano do lago deste enorme altiplano, também a Bolívia detém uma parte das suas águas. Em 40% o lado boliviano mostra os seus encantos, histórias e mitos deste lago que um dia foi mar. A Ilha do Sol, que segundo a lenda andina foi o berço da civilização Inka, também se deixa visitar com mais lendas dos tempos deste povo. Desde Copacabana sai um barco que nos leva até essa ilha do deus Inka. Depois de um passeio em seu redor, voltámos ao barco e voltámos a terra. Seguimos viagem em direcção à capital boliviana, deixando o lago adormecido na sua forma de um Puma, o felino adorado deste povo andino.

Até logo!

4 comments:

vasques said...

Ritinha,

Que bom continuar a ter noticias tuas...pelo que vejo continuas em grande.
grandes também são os teus testemunhos.

Muitos beijinhos
carmo e quase Zé maria

Anonymous said...

Priminha

nem sei o que escrever quando leio as vossas linhas......INVEJA....já sabem quem são os vossos anjinhos?
beijinhos
mariana

Anonymous said...

gostei das mulheres da nazaré....e claro do resto
bjs
tconstança

Anonymous said...

Olá Rita. Não fazes ideia como "estou aqui"! Um amigo falou-me que lê avidamente um blogue espectacular de uma rapariga que faz trabalhos em ONGs por todo o mundo e ao mesmo tempo vai fazendo uma volta ao mundo...de repente lembrei-me de ti e disse-lhe que te conhecia e que tu tb estavas a ter uma aventura que me parecia semelhante! Hoje consultei o blogue que ele me falou e surpresa...encontrei-te lá....Esse meu amigo agora já "vê" a vossa viagem através tb da leitura do teu blogue. Há e por cá (AZP) tudo diferente...eu por exp. já não estou na DFPE…Bem, mas isso agora não interessa nada! Beijinho