Sentada numa qualquer esplanada na esquina de uma pedonal com uma passadeira agitada de uma rua com trânsito, esperava que Lizze viesse lá de dentro do café. Em frente um quiosque a vender flores e outro ao lado de jornais, revistas e cigarros. Na minha mesa, poisada na quase calçada desenhando entre preto e branco figuras diversas tapadas por pombos que procuram migalhas ou fogem da gente que passa, um saudoso expresso curto e quente bem tirado. O barulho da cidade acordada, num desinquieto e banal dia de uma normal semana ocupada, é acalmado com o Frank Sinatra do saxofone de mais um habitual animador de rua em busca de uns trocos. As pessoas que cruzam aquela esquina, correm na azáfama urbana declarando visivelmente o estilo óbvio de militantes da sociedade moderna e misturam-se com flagrantes turistas de todas as partes que passeiam sem ou com destino numa cidade esplendorosamente cheia de vida, movimento e encanto, que se mostra tão acolhedora...
Por momentos senti que tudo isto acontecia em Lisboa. O cenário era familiar, mais que conhecido. Lizze chegou. Acabámos o nosso café e seguimos em busca do nosso destino pela pedonal... ela procurava um livro, e eu tentava saciar o meu já habitual vicio de postais...
Encontrei na capital argentina uma cidade charmosa, cheia de encantos que nos deslumbram e nos enfeitiçam. Atravessada pela maior e mais importante Avenida 9 de Julho, alusiva ao dia da independência do país no ano de 1816 e com o enorme Obelisco a meio, a cidade mostra o seu plano urbanístico evidente, mas que a mim me faz perder o rumo ao avistar esse altíssimo pilar de mármore tributo aos 400 anos da cidade em 1936, de tantos pontos de vista diferentes. As ruas largas ladeadas de árvores que escondem grandes varandas de pedra de prédios antigos de bom aspecto fazem lembrar um pouco Madrid. Grande e ampla, sem se dar conta, esta cidade deixa-se pisar facilmente. Andar a pé é muito cómodo. Evitando o metro que esconde debaixo de terra os encantos e recantos de uma cidade quase europeia, ou os autocarros que demoram por seguirem o sentido único da maior parte das ruas e avenidas (sentido esse que acabou por ser a minha tábua de salvação para a orientação), deslocávamo-nos com o próprio passo sem queixumes ou dificuldade... degustando a rotina da cidade.
Por momentos senti que tudo isto acontecia em Lisboa. O cenário era familiar, mais que conhecido. Lizze chegou. Acabámos o nosso café e seguimos em busca do nosso destino pela pedonal... ela procurava um livro, e eu tentava saciar o meu já habitual vicio de postais...
Encontrei na capital argentina uma cidade charmosa, cheia de encantos que nos deslumbram e nos enfeitiçam. Atravessada pela maior e mais importante Avenida 9 de Julho, alusiva ao dia da independência do país no ano de 1816 e com o enorme Obelisco a meio, a cidade mostra o seu plano urbanístico evidente, mas que a mim me faz perder o rumo ao avistar esse altíssimo pilar de mármore tributo aos 400 anos da cidade em 1936, de tantos pontos de vista diferentes. As ruas largas ladeadas de árvores que escondem grandes varandas de pedra de prédios antigos de bom aspecto fazem lembrar um pouco Madrid. Grande e ampla, sem se dar conta, esta cidade deixa-se pisar facilmente. Andar a pé é muito cómodo. Evitando o metro que esconde debaixo de terra os encantos e recantos de uma cidade quase europeia, ou os autocarros que demoram por seguirem o sentido único da maior parte das ruas e avenidas (sentido esse que acabou por ser a minha tábua de salvação para a orientação), deslocávamo-nos com o próprio passo sem queixumes ou dificuldade... degustando a rotina da cidade.
Chegámos numa terça-feira ao aeroporto dos voos domésticos de Buenos Aires. A euforia da chegada não nos calava. Para mim era a primeira vez, mas a Carmo conhecia os encantos da cidade e o seu entusiasmo contagiou-me desde logo. Mal podia esperar para ver o que desde o levantar voo em El Calafate ouvia... Procurámos o poiso ideal seguindo a sugestão do nosso melhor amigo guia, e aproveitámos a vida da grande cidade de Buenos Aires desde logo. Sabíamos que amigos de paragens de outrora coincidiam connosco na cidade. Uns de um lado, outros de outro, vindos de La Paz ou da Navimag, tínhamos animação de sobra. Juntámos hostes e formámos um grupo que viveu a cidade mais dias do que os que preenchiam os nossos planos inicias.
Bons Ares é um nome que veste melhor que qualquer outro esta capital cultural da América do Sul. A sua vida boémia, cultural e artística dá-lhe um encanto único. De bairro em bairro, percorrendo e vivendo o que cada qual mais tem para mostrar, vasculhávamos pelos cantos os seus encantos. Felizes coincidências, ou fortunas do acaso, levaram-nos a lugares menos típicos frequentados pelas gentes locias. Para um salão de baile onde às quartas feiras se pratica e ensina o tango ao som da banda residente subimos curiosos atrás da música que invadia a rua. Num bar no bairro de San Telmo, o boémio e mais antigo da cidade, um concerto instrumental deliciou-nos e prendeu-nos numa noite que prometêramos entre nós ser calma. Indo atrás do diz-que-disse-que-é-bom, fomos assistir a uma performance de batuques que entram pelo fim de tarde a dentro das segundas feiras dos jovens alternativos da cidade de Buenos Aires. Dentro ou fora da rota desenhada pelos guias, os lugares de convívio na cidade são mais que muitos. Seguindo e saindo do suposto, fomos visitando ao sabor da vontade e do entusiasmo.
Além dos imensos bares e cafés inundados de ofertas variadas de shows de tango, ou simples bons ambientes de tertúlias, também de dia os encantos da cidade do design argentino mostram muito de si...
Em La Boca vive-se intensamente os ópios do povo argentino. Tango e Futebol. El Caminito, zona portuária de casas multicoloridas, pintadas com as sobras das tintas que os barcos já não queriam, mostra hoje um jogo de cores estudadas para manter a antiga tradição e encher o olho do turista, não deixando de encantar. Ao almoço come-se o famoso assado, que à boa maneira argentina demora horas pois o fogo não toca na carne que grelha, e vê-se dançar o verdadeiro tango.
Também não pudemos escapar ao nosso pezinho de dança com o profissional. Maravilhou-me assistir àquele tango de rua, que mais do que pura diversão dos que o praticam, que se vê a olho nu nos seus próprios olhos, existe para recolher trocos no chapéu. Mas que assim seja, não deixa de encantar tantos e mais turistas como eu, que deixam cair as moedas para que não pare nunca uma animação tão típica, que traz tantos bons ares!
Ali em La Boca, onde não se dança o Tango, joga-se o futebol. Em dia do último jogo da liga nacional argentina fomos à La Bombonera, onde em casa e já sem possibilidade de ascensão ao titulo o Boca Júnior defrontava com a mesma paixão de quando luta pela taça, Lanus, que tinha naquele jogo todo o seu futuro. Mais um espectáculo do povo argentino. Mesmo sem ter nada a perder os jogadores da equipa de Diego Maradona, que não perde um jogo em La Boca para apoiar o seu clube, jogaram de alma e coração da mesma forma que a sua claque gritava e cantava do fundo dos pulmões o imenso reportório de incentivo à equipa, sem nunca parar ou desanimar. Foi dos jogos de futebol mais emocionantes que vivi! Gritei pelo Boca Júnior como se fosse o nosso Sporting, com aquela devoção sentida, acreditando na vitória até ao fim, na vitória de uma equipa unida que jamais desilude o seu adepto... A emoção do estádio fazia-o vibrar, fazia-me vibrar com eles.
Mais e outros bairros preenchem esta cidade. Cada qual com o seu próprio ícone. Na Recoleta, o bairro chique e turístico da cidade, mora o Robin dos bosques argentino - Evita Peron, odiada e amada na mesma medida, descansa no cemitério mais visitado do mundo, diria eu. Em Palermo na praça principal, ergue-se um mercado de rua e enche os cafés que o rodeiam. A casa rosada, morada do poder executivo argentino, dá para a Praça de Maio, a mais importante praça da cidade. Pelos seus museus, jardins e monumentos alusivos à atribulada história da mais europeia cidade da América do Sul, ocupam-se os dias sem cansar e a descansar. Ao desfrutar do que a cidade tem para oferecer, acabei por não encontrar a conhecida arrogância dos argentinos (a não ser nos condutores de autocarros, que parece que se esforçam para dificultar a vida a qualquer pessoa que se mostra mais perdida). Todas as pessoas se mostraram afáveis. Sempre e em qualquer situação, todo e qualquer transeunte nos ajuda mais do que lhe pedimos. O grande crash do peso argentino, que o fez cair em flexa, depois deste viver a par do Dólar americano, levou o país a um nível mais baixo do que estavam habituados. "Para vocês, europeus, vir a Argentina é fácil e é barato", diz-me um qualquer taxista com o seu misto de conformismo e descontentamento do sistema actual do seu país, mas contente por saber que tantos europeus continuam a vir, e gostam cada vez mais da sua tão rica cidade.
A saída de Buenos Aires estava difícil. A sua agitada vida gerava uma inércia para avançar em planos e programações de outros destinos. Mas a viagem continua, com ela queremos seguir... determinado o dia da partida, tínhamos ainda tempo para ocupar. O nosso autocarro era só ao principio da noite, havia ainda um dia inteiro pela frente. Apanhámos o comboio em direcção a Tigre. Bem fora do centro este bairro vive nas margens de canais do rio de la Plata, aquele que banha Buenos Aires. O centro está arranjadinho, bem parecido, acolhedor. Um mercado mostra os encantos artesanais argentinos, e os canais do rio deixam-nos passear de barco admirando e constatando como deve ser bom viver ali... que diferente que isto é da cidade que acabara de conhecer.
De volta ao centro, evitando as despedidas, que como sempre são a parte mais difícil da saída, seguimos para a mais confusa e ocupada estação de autocarros que vira até hoje, para seguirmos para Puerto Iguaçu. A Lizze vinha connosco... Ficou tão contente com a nossa proposta como nós com a sua aceitação! Iguaçu em 15 horas...
Até logo!
Além dos imensos bares e cafés inundados de ofertas variadas de shows de tango, ou simples bons ambientes de tertúlias, também de dia os encantos da cidade do design argentino mostram muito de si...
Em La Boca vive-se intensamente os ópios do povo argentino. Tango e Futebol. El Caminito, zona portuária de casas multicoloridas, pintadas com as sobras das tintas que os barcos já não queriam, mostra hoje um jogo de cores estudadas para manter a antiga tradição e encher o olho do turista, não deixando de encantar. Ao almoço come-se o famoso assado, que à boa maneira argentina demora horas pois o fogo não toca na carne que grelha, e vê-se dançar o verdadeiro tango.
Também não pudemos escapar ao nosso pezinho de dança com o profissional. Maravilhou-me assistir àquele tango de rua, que mais do que pura diversão dos que o praticam, que se vê a olho nu nos seus próprios olhos, existe para recolher trocos no chapéu. Mas que assim seja, não deixa de encantar tantos e mais turistas como eu, que deixam cair as moedas para que não pare nunca uma animação tão típica, que traz tantos bons ares!
Ali em La Boca, onde não se dança o Tango, joga-se o futebol. Em dia do último jogo da liga nacional argentina fomos à La Bombonera, onde em casa e já sem possibilidade de ascensão ao titulo o Boca Júnior defrontava com a mesma paixão de quando luta pela taça, Lanus, que tinha naquele jogo todo o seu futuro. Mais um espectáculo do povo argentino. Mesmo sem ter nada a perder os jogadores da equipa de Diego Maradona, que não perde um jogo em La Boca para apoiar o seu clube, jogaram de alma e coração da mesma forma que a sua claque gritava e cantava do fundo dos pulmões o imenso reportório de incentivo à equipa, sem nunca parar ou desanimar. Foi dos jogos de futebol mais emocionantes que vivi! Gritei pelo Boca Júnior como se fosse o nosso Sporting, com aquela devoção sentida, acreditando na vitória até ao fim, na vitória de uma equipa unida que jamais desilude o seu adepto... A emoção do estádio fazia-o vibrar, fazia-me vibrar com eles.
Mais e outros bairros preenchem esta cidade. Cada qual com o seu próprio ícone. Na Recoleta, o bairro chique e turístico da cidade, mora o Robin dos bosques argentino - Evita Peron, odiada e amada na mesma medida, descansa no cemitério mais visitado do mundo, diria eu. Em Palermo na praça principal, ergue-se um mercado de rua e enche os cafés que o rodeiam. A casa rosada, morada do poder executivo argentino, dá para a Praça de Maio, a mais importante praça da cidade. Pelos seus museus, jardins e monumentos alusivos à atribulada história da mais europeia cidade da América do Sul, ocupam-se os dias sem cansar e a descansar. Ao desfrutar do que a cidade tem para oferecer, acabei por não encontrar a conhecida arrogância dos argentinos (a não ser nos condutores de autocarros, que parece que se esforçam para dificultar a vida a qualquer pessoa que se mostra mais perdida). Todas as pessoas se mostraram afáveis. Sempre e em qualquer situação, todo e qualquer transeunte nos ajuda mais do que lhe pedimos. O grande crash do peso argentino, que o fez cair em flexa, depois deste viver a par do Dólar americano, levou o país a um nível mais baixo do que estavam habituados. "Para vocês, europeus, vir a Argentina é fácil e é barato", diz-me um qualquer taxista com o seu misto de conformismo e descontentamento do sistema actual do seu país, mas contente por saber que tantos europeus continuam a vir, e gostam cada vez mais da sua tão rica cidade.
A saída de Buenos Aires estava difícil. A sua agitada vida gerava uma inércia para avançar em planos e programações de outros destinos. Mas a viagem continua, com ela queremos seguir... determinado o dia da partida, tínhamos ainda tempo para ocupar. O nosso autocarro era só ao principio da noite, havia ainda um dia inteiro pela frente. Apanhámos o comboio em direcção a Tigre. Bem fora do centro este bairro vive nas margens de canais do rio de la Plata, aquele que banha Buenos Aires. O centro está arranjadinho, bem parecido, acolhedor. Um mercado mostra os encantos artesanais argentinos, e os canais do rio deixam-nos passear de barco admirando e constatando como deve ser bom viver ali... que diferente que isto é da cidade que acabara de conhecer.
De volta ao centro, evitando as despedidas, que como sempre são a parte mais difícil da saída, seguimos para a mais confusa e ocupada estação de autocarros que vira até hoje, para seguirmos para Puerto Iguaçu. A Lizze vinha connosco... Ficou tão contente com a nossa proposta como nós com a sua aceitação! Iguaçu em 15 horas...
Até logo!
4 comments:
Está muito bem Ritinha! Com "o nosso Sporting..." é que estragaste tudo! bjosss
Com o "nosso Sporting" atingiste a perfeição...
ass: Um Rebelo qualquer
bjs
-4
Ritinha, continua em grande.
O meu filho já nasceu, é o máximo.Já só faltam 5 dias para chegares...aproveita o que falta.
Beijinhos grandes
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