Thursday, October 31, 2024

TUNISIA 3 – Coffee Road

 


Todas as manhãs, pela fresca, vou andar à beira do lago. Quase todas as manhãs… salvo aquelas que afinal, por alguma razão, normalmente além do meu desejo, não houve oportunidade. É refrescante e motivador. Nunca vou sozinha. Nos primeiros dias eramos 2, depois passámos a 3 e normalmente somos 4. A caminhada traz com ela momentos criados pela própria condição do momento. A conversa flui… o silêncio não incomoda, o tema pode ser tão excêntrico como comum ou mesmo filosófico. E assim começa o dia com a leveza energética necessária para o levar com aquela tranquilidade tão difícil de encontrar nos dias de hoje.

Fazemos uma hora de caminho, ir e vir ao largo do lado até chegar à estrada e voltar para trás. Já nos cruzamos com as mesmas pessoas, vemos a abrir os mesmos cafés, entendemos uma rotina que acontece neste bairro além da nossa própria, que da qual também já fazemos parte.

O desafio destas caminhadas é até chegar ao lago. Este é a 10mins do hotel. Mas tem de se atravessar uma rua larga, tipo via rápida ou grande avenida, de 3 faixas para cada lado, com um passeio no meio. Há várias passadeiras ao longo da estrada, mas para os carros, que andam num transito anárquico considerando as regras apenas como uma sugestão, não há tempo para parar e deixar passar os peões. Não só não param, como apitam se estamos a passar à frente deles, atrasando o seu curso urgente para chegar 2 segundos mais cedo ao destino. Sinto-me a infringir a lei ao estar a atravessar a estrada na passadeira dos peões, sendo eu peão… ao segundo dia já tínhamos aprendido como atravessar. Avançamos calmamente, com a mão em tom de polícia a mandar o carro parar, com os olhos fixos nos olhos do condutor como quem o hipnotiza e seguimos a marcha… sem correr, sem stress, o carro abranda ou desvia. Já lá vão quase 3 semanas, e ainda que me sinta já habituada ao tema, levo o credo na boca a cada passagem, para lá e de novo para cá. A refrescante caminhada matinal é maravilhosa, mas o que na verdade nos acorda para o dia é esta estrada! A Coffee Road, como lhe chamou um do grupo que tem de fazer isto todas as manhãs para ir para o seu escritório.  

Até logo.





Tuesday, October 22, 2024

TUNISIA 2 – Fim de semana local


Os planos estavam traçados para o fim de semana. Sábado dividiu-se o grupo entre manhã de organização, arrumação de ideias e absorção da semana intensa, ou uma ida ao SPA para à tarde combinarmos interesses e explorar um pouco mais de Túnis. A arrumação para mim era essencial… o grupo da organização saiu do hotel a meio do dia para visitar as ruínas de Cartago. O plano era encontrarmo-nos todos a meio da tarde para visitarmos outro bairro típico… apareceu a chuva que nos mudou os planos, acabando a jantar às 17h30 num restaurante ao pé da praia, sem pôr do sol nem raio verde, mas como sempre muito animado.

Domingo o dia já estava planeado desde o início da semana. Íamos com uma das organizações das 4 fazer uma visita guiada pela Medina, seguindo para uma cooking class como um verdadeiro almoço de domingo em família tunisina. O prato era couscous. O programa foi muito divertido! Começamos pelo mercado local, imenso, cheio de gente, iguarias, comida típica, corredores estreitos ao lado da avenida grande, provamos isto e aquilo e conhecemos o que Túnis oferece em termos de comida. Ainda tirámos uma fotografia com o vendedor de limões, que partilha a vida entre a fotografia (parece que é famoso na Tunísia) e a banca dos limões na praça de Túnis.


Seguimos para a tão esperada aula de cozinha. Fomos aprender a fazer o que de mais típico faz juntar as famílias à mesa do almoço de domingo – couscous. A receita é complexa, seguimos à risca as indicações da cozinheira, e fomos seguindo com ela as várias fases do processo. Quantidades são as típicas de quem sabe o que faz: um bocadinho, quando estiver no ponto, até estar bom, tudo medidas rigorosas e facílimas de seguir para pessoas como eu que nem seguindo à risca a receita chega ao resultado esperado.

As fases são várias, desde a preparação dos ingredientes, descascar, cortar, lavar, misturar, fazer aumentar o couscous com água e azeite e desfarelando com as mãos várias vezes… a salada de pepino, tomate e cebola tem preceito no corte. Não passamos no primeiro controlo de qualidade. Tínhamos de cortar em pedacinhos ainda mais pequenos. Depois de temperada com azeite e especiarias locais de misturar o atum, é empratada e decorada com ovo cozido.  

De entrada tínhamos Briks, uma espécie de chamuças mas com um recheio feito com batata, ovo, queijo e outros temperos. A parte difícil, envolver o recheio na fina folha de crepe para depois fritar, ficou aquém da expectativa da cozinheira. Mas seguimos assim… estavam não tão bonitas, mas boas de sabor!

A sobremesa era uma salada de romã com um molho de essência de flor. Estava divinal!

O almoço foi servido numa enorme mesa, na sala de jantar da Guest House onde estes workshops são promovidos. Sendo esta uma das fontes de receita desta organização, para team buildings ou experiências para turistas, pudemos dar a também a nossa contribuição para esta organização. Nesse dia já ninguém jantou. O couscous acabou às 4 da tarde, deixando-nos saciados até ao dia seguinte. 

Até Logo 



Saturday, October 19, 2024

TUNISIA 1 - Uma experiência diferente

 

Cheguei há uma semana a Túnis, na noite de sábado dia 12 de Outubro. Fui a última do grupo a chegar, já só os vi no Domingo ao pequeno-almoço. Foi desde esse momento um encontro de amigos, como se nos conhecêssemos desde sempre, só não estávamos juntos há algum tempo. Durante as 6 semanas anteriores, nas reuniões de preparação para este mês, onde nos fomos conhecendo uns aos outros, os nossos papéis dentro da organização e um ou outro facto interessante e diferente, onde fomos entendendo a cultura tunisina, as organizações onde íamos trabalhar… a expectativa era criada. O entusiasmo aumentava, a preparação em casa surgia, a vontade de embarcar nesta aventura já lá estava!

Acordei sábado de manhã com as borboletas a circular na barriga, a ansiedade a chamar-me à calma sabendo que as horas que aí vinham era de consciencialização. Estou pronta, vamos embora! No WhatsApp do grupo as pessoas iam chegando a Túnis. Eram cada vez mais… os 11 do programa da Tunísia (+1 que era eu), a gestora do programa da empresa organizadora, a nossa mentora antiga social sabbatical, e o representante local que nos acompanha o projecto inteiro.

Domingo foi a sessão interna de início. Juntos o dia todo para exercícios de grupo, conhecermo-nos, sabermos da nossa missão, plano do projecto, objectivo final, o que ver e visitar à volta…  Foi um dia intenso. A minha expectativa aumentava a cada exercício. O programa está muito bem organizado. Somos 12 pessoas vindas de todo o mundo, organizadas em equipas de 3 que reúnem as capacidades de forma complementar entre si para integrar um projecto específico de cada uma das 4 organizações locais. A mentora, que já teve a mesma experiência no passado, reforça a emoção. Aconselha, motiva, entusiasma. Fica connosco até 5f… acompanha as várias organizações, sugere prespectivas, reflecte connosco, discute ideias. Foi uma presença essencial e chave. A gestora de programa é eximia. Leva o tema com seriedade contagiando a nossa motivação. Faz-me sentir de todas as formas o propósito da minha organização. Faz-me sentir o impacto que podemos criar na vida das pessoas, com vista a um mundo melhor. Faz-me sentir relevante e com um papel significativo no grupo dos 12, no grupo dos 3, no programa todo. Vê-se cada um a sentir o mesmo. Cada um é essencial ao todo na mesma medida, com as suas características individuais tão bem complementadas com os seus pares, graças à análise minuciosa das partes organizadoras do programa que tão bem encontraram as melhores sinergias para um conjunto perfeito. O nosso consultor local não podia ser melhor. Recebe-nos como ninguém. Está sempre disponível e tem um sorriso contagiante, que me fez simpatizar bastante e de imediato com os tunisinos. Ele está sempre bem, quer saber de todos e cada um… com uma sugestão aqui e ali de quem nos conhece há tempos e sabe o que procuramos.

Quando começámos cada um dos nossos projectos, a opinião foi unânime… imediatamente percebemos a razão pela qual estamos neste grupo, dos 12 e dos 3. É um privilégio grande fazer parte deste programa.  

As expectativas iniciais eram altas… eu tinha uma leve ideia de ao que vinha, por experiências passadas. Trabalhar com o 3º sector, perceber as suas dores, ajudar a melhorar… verificar como operam em conjunto com os outros sectores e ver como impactam as comunidades que apoiam, é sempre interessante. Para quem vem do mundo corporativo e empresarial, não é evidente esta forma de organização. Desde logo podemos perceber como é que a conjugação dos 3 sectores: público, privado e social, faz tanto sentido para um mundo melhor e para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. É como imaginar um banco de 3 pernas, que se equilibra quando as 3 estão em sintonia em termos de tamanho, capacidade de sustentação e propósito. Em perfeita harmonia, este banco pode aguentar o mundo sem cair!




Mais impressões virão sobre uma pequena experiência diferente de trabalho, viagem, socialização e autoconhecimento.
 

Até logo. 




Saturday, September 22, 2018

Outras Viagens

Viajar em trabalho muda-nos o foco das prioridades de quando viajamos em lazer. O trabalho é o objectivo, a viagem é o meio. Havendo a possibilidade de conhecer algum lugar novo, outras culturas, outras gentes, aproveita-se como um beneficio extra da obrigação. É um beneficio que procuro muitas vezes, mas desta receava não encontrar. Estes 3 dias adivinham-se duros. Sabia que além do que me levava ali, havia o que preenchesse as horas além do dia por outras obrigações paralelas... Além de que esta era a semana mais cobiçada para aquela cidade, por vários eventos de diferentes áreas a escolherem para acontecer e por isso a logística normal ter sido mais difícil.

O Hotel era longe, novo, diferente do costume e isolado. A difícil acessibilidade (a meu ver) preocupava-me para a manhã seguinte. Afinal o dever chamava-me e a exigência da pontualidade não me relaxava. Quando dou o meu nome para confirmar a reserva, a resposta não foi imediata. Algum idioma além do francês do lado de lá do balcão da recepção era inexistente. Em nenhum dos 3 cartõezinhos para os hospedes daquela noite estava o meu nome. Já passava das 10h… O recepcionista, depois de verificar a lista impressa dos clientes daquele dia 4 vezes, pegou no telefone para ligar à chefe, que tinha o mesmo nível de inglês que ele próprio, ou seja, o nível do meu francês. Passou-me o telefone e foi conversa de surdos. A senhora desligou sem dizer nada e em menos de um fosforo estava atrás de mim. Não temos quarto para si, lá percebi entre gestos e palavras soltas. A reserva não foi feita. Nem o email que mostrei, recebido como confirmação dessas plataformas que supostamente ajudam a pessoa a marcar hotéis, foi prova que bastasse. Culpando a plataforma, tirando de si a responsabilidade, começou à procura de alternativa. Ligava para hotéis da zona sem qualquer manifestação de estar a atender um cliente. A sua cara de base branca, com umas enormes pestanas pretas carregadas de rímel, realçando o loiro mais branco ainda manifestamente falso, não declarava qualquer indicio do que estaria ela a fazer. Estávamos perdidos na tradução… Há um hotel, vou chamar um táxi. Não há táxis… Mais uns minutos de não interacção pessoal e diz-me que há um quarto. Por magia, um daqueles cartõezinhos afinal não tinha dono e ficou para mim. Mas só por aquela noite. A possibilidade de estender para as 3 que eu precisava, e tinha marcado, não existia. Na verdade, eu já nem queria. O stress e o medo de estar algures em parte incerta assaltaram-me roubando-me a paciência e a compreensão. Para se desculpar ofereceu-me o pequeno almoço. Levou-me ao quarto que me destinou daquele hotel de beira de estrada de clientela duvidosa com porta directa para rua. Parti na manhã seguinte antes da hora antecipando atrasos pela longa (ou desconhecida) distancia, ou trânsito, ambicionando conseguir um hotel normal e numa zona conhecida.  

Missão para o dia, encontrar um hotel para a noite. Ainda faltavam duas… No meio da reunião com o cliente, as plataformas já pouco credíveis eram o meu ecrã. A atenção disparava para os dois sentidos, premiando a reunião em detrimento da pesquisa aumentando a angustia. Várias frentes procuravam o mesmo. Várias zonas da cidade eram sugeridas. O orçamento possível, esse, era imutável, o que dificultava a procura. A estratégia passou rapidamente para procurar uma mais uma noite, em vez de duas seguidas.  Já passava das 5 da tarde quando apareceu uma combinação possível, zona, preço e apenas uma noite, graças à preciosa ajuda vinda de Lisboa por quem nos ajuda nestes temas. Era no centro da cidade. Muito fácil acesso, via comboio e depois metro. Seguindo as indicações de saída da estação de comboio, dei por mim e estava na rua. A alternativa sugerida por uma colega local, de em vez de metro fazer 15 minutos a pé foi a escolhida. 15 passa a 20 dado os saltos, a mala, a noite mal dormida e um dia em cima. Chego ao hotel o meu nome estava no cartãozinho. Já não ia para cedo, mas a certeza de saber onde estava e ter uma cama para dormir, abriu o apetite e fez-me sentar numa esplanada típica da zona agitada. Ali sim, estava segura, tranquila e animada. Ainda nesse dia tínhamos encontrado outro hotel para o dia seguinte. Saí de manhã de malas atrás, depois de mais um check-out, e segue para o comboio. Passa-se o dia tranquilamente na certeza de ter um teto para dormir à noite e volta ao comboio. Segui a direcção até à estação indicada por quem conhece e de seguida rumo ao hotel. O meu nome não estava na lista. Pedimos desculpa mas a sua reserva não ficou confirmada. Quem a fez foi avisado hoje de manhã. Voltei a mostrar o email de confirmação enviado por outra dessas plataformas, mas nada. Que faço eu à minha vida agora, pensei! Demorei 5 longos segundos a voltar a mim e perguntei como pensava ela resolver a questão. A recepcionista era única. A fila de hospedes era alguma. Todos iam recebendo o seu cartãozinho, e eu nada. Liguei para quem tinha feito a reserva. Mais uma dessas plataformas facilitadoras nas quais não podemos confiar. Expus o caso, aqui todos falávamos a mesma língua, e perguntei como iriamos resolver. Pediu-me que aguardasse em linha, que ia entrar em contacto com o hotel. Eu fiquei a ouvir em estéreo a música do senhor da plataforma que marca hotéis de um lado e a recepcionista do hotel do outro, a falarem entre eles. Depois de mais alguma conversa e de aguardar um pouco com outro pedaço de música recebo a noticia de que encontraram um hotel. Foi o senhor da plataforma. Só que era um pouco acima do orçamento, e acima da reserva feita, pois o único quarto disponível era gama conforto. Um ou dois níveis acima do quarto simples daquele hotel de 4 estrelas. Mas entre o hotel e a plataforma alguém cobriria a diferença… recebi mais um email de confirmação da reserva e pedi para me chamarem um táxi. Nisto eram quase 9 da noite e havia ainda trabalho para fazer e tentar comer qualquer coisa entretanto. Chego ao outro hotel, e volto ao ritual do costume. Dou a minha identificação e espero. Espero. Espero. O senhor era novo ali talvez… pensei. Finalmente lá olha para mim e pergunta, onde é que fez esta reserva? Mostrei o email de confirmação e esperei outra vez, calmamente. Já sei que o stress não ajuda e a pressa é inimiga da eficiência e da solução. Não temos este quarto… vou ter de lhe dar outro de um nível abaixo, que por acaso temos livre… pedimos imensa desculpa pelo sucedido. Nem sei como é que conseguiu marcar este quarto. Mas claro que para mim, depois de 2 noites e 3 hotéis, o nível básico de quatro estrelas numa zona nobre da cidade, seria mais que suficiente. Eu só queria fazer o check-in e descansar. Amanhã quando sair faço a reclamação. Posso oferecer-lhe o pequeno almoço… No dia seguinte lá fiz mais um check-out, o terceiro em 3 dias.
Tudo corre bem quando acaba bem! 

Até à próxima!

Monday, October 18, 2010

Tuesday, December 8, 2009

Finalmente em Livro

Lançado no dia 11 Dezembro de 2009 na livraria Bertrand do CCB.

Sinopse:

"A pergunta era simples "Queres vir dar a volta ao mundo comigo?".
A resposta complexa.

Em cima da mesa estava um emprego estável, uma vida organizada, um percurso mais que previsível, e em simultâneo uma vontade de questionar, de pôr em causa, de chegar mais longe... a resposta foi sim!

De regresso, 360º volvidos, Rita traz na bagagem os relatos de um ano de viagem aos recantos mais improváveis deste mundo, realtos de uma clareza sibtil, que trazem ao nosso encontro os cheiros, as chuvas, o calor, os risos e as gentes com quem se foi cruzando.

Da Índia à Ilha da Pascoa, passando pelo Laos, Vietneme, China, Nova Zelândia e outros mais, encontramos nestas páginas pequenos paralelos com o nosso mundo, erguem-se perguntas, surgem ideias, equacionam-se hipóteses... E diante dos nossos olhos vimos surgir novas coordenadas de um novo mapa mundo interior, que nos interpela e nos faz querer fazer as malas e partir também ao encontro de nós próprios!"

Monday, August 24, 2009

Maravilhas de Portugal II

Só depois de lá estar me apercebo da saudade que aquela praia me fazia sentir faz tempo. Pode tudo mudar, pode tudo evoluir, pode até tornar-se impessoal, mas o que se lá viveu não se esquece, e a maravilha da natureza continua a ditar o que sempre proferi daquele lugar. Mais uma beleza natural aqui tão perto, ao nosso lado. A memória do passado emerge cada vez que a visito. A recordação imortaliza a vista. Protege-a de qualquer aberração edificada a tentar amachucar a envolvente. Essa paisagem, para mim, será sempre a que trago comigo. Aquela que criei com o que vivi e com o que vivo. Volto a ser influenciada pelas reflexões de Ortega, que mais uma vez me inspira confirmando nas suas palavras as ideias alojadas em mim há tanto.

O areal selvagem ainda longe da mão urbana é culpado da minha conservada convicção. O progresso visita aquela vida piscatória, como qualquer outra que tem no turismo muito do sustento, mas deixa que ela se mantenha o nosso refúgio de férias como desde o primeiro ano, ainda antes de ter capacidade de materializar o sentimento fincado até hoje.
Nem eventual longo caminho nos inibe de querer sair para lá, longe é onde não se quer ir. As alternativas de rota são várias, quebrando a monotonia da viagem que ás vezes me invade só por culpa do meu imaginário criador de imagens irreais e manipuladoras de vontades. Desta vez, fugindo a Foros de Pouca Farinha, evitando Vila Franca do Rosário ou Ribeira da Azenha, apanho a estrada de Gasparões. Quantos mais lugares nos esconde o mapa? São inúmeras as aldeias, vilas, aglomerados de casas que vivem em tom de urbe, que nos ditam a certeza do caminho certo, adivinhando o tempo para a chegada. É ao passar o café Rita, depois daquele redondel que se mostra estanque, mantido há anos igual, orientando para diferentes zonas do sudoeste alentejano, que sei que a chegada não tarda. A entrada da vila, cada vez é mais antes de chegar, torna a tabuleta que indica 1 Km obsoleta, mas continua a criar o frio impaciente na barriga que acelera o pulsar vertiginosamente. Já não aguento a ânsia… essa tabuleta peca por defeito em relação à verdadeira distância para chegar a casa, aquela longe do centro urbano, de onde o descanso e o repouso não saem e nos esperam sempre de braços abertos.

Arrisco dizer que melhor ócio do que aquele é difícil. Ali, naquela paz ao som da natureza em bruto, o mar grita-nos a intensidade da sua raiva, ou sem se fazer ouvir mostra-se o mais calmo. A luz de fim de tarde rouba o tempo, faz crer que estou parada no curso das horas. Nada se move, nada acontece, a calmaria ouve-se e desfruta-se.

Ainda que num refúgio longe do que nos faz andar, do que nos move, a partilha do espaço com outros habituais, do lugar amantes fiéis como eu, torna-o mais encantador. Não podemos eremitar e mantermo-nos felizes. A sociabilidade do ser é necessária à sua ventura. O individualismo provoca frio, petrifica o sentimento. A vida não nos foi dada para o isolamento. Ali, naquele lugar, de nome que mente, de gentes sãs, de férias e descanso, hei de continuar a querer ir. Ali, àquele lugarzinho de Portugal, que será sempre para mim lugarzinho, hei de querer voltar incessantemente. Onde quem está me recebe com vontade, onde quando não vou me estranham, onde haverá sempre o melhor ócio.
Princesa do Alentejo, até logo.