Vejamos algumas fotos...
Belo monumento...
Até logo
Saindo de Lisboa, em direcção a Leste e regressando de novo, vinda do Oeste, faz uma volta de 360 graus. Durante a volta muito há para contar. E depois da chegada ainda tanto por escrever... sobre outras saídas, outras viagens.
Vejamos algumas fotos...
Belo monumento...
Até logo
O primeiro centro visitado foi um de Educação Não Formal, onde as crianças mais pobres daquela comunidade têm aulas de ensino básico que lhes dão competências para concorrerem aos exames de admissão das escolas públicas. Na sala de aula existe apenas uma cadeira, a da professora, parte integrante também do pessoal profissionalizado de Nav Srishti. O chão está coberto de tapetes onde de forma alinhada de frente para o quadro se sentam as crianças de pernas à chinês de caderno e lápis no colo, prontos e ansiosos pelo começo da aula.
Na entrada da supervisora na sala todos se levantam com uma enorme alegria e em coro, com continência, saúdam Doli “good morning madam”. Com a permissão da professora, voltam a sentar-se agradecendo com a mesma música e a mesma satisfação, exibindo com o maior sorriso que conseguem o seu inglês e a sua boa educação na presença de pessoa importante “thank you madam”… A dedicação das 4 professoras daquele centro com as crianças é visível a olho nu e a receptividade de cada uma das crianças vê-se da mesma forma, em cada sorriso que nos davam mostravam a alegria e o orgulho de estarem na “escola”.
A genuína simpatia destes motoristas de comida faz-me parar em todos e tentar perceber o que cada um tem para oferecer. O inglês não existe, a comunicação é a universal dos gestos, e as amizades que ele cria quando uma estranha se interessa pela sua banca surpreende. Já estamos todos em amena cavaqueira mímica a beber o sumo de laranja mais doce que já bebi, feito na hora. Não consegui perceber de onde vinham estas laranjas, tentei tentei, mas a resposta que obtive foi apenas, são laranjas!
Foi mais um bocadinho de Índia, da minha Índia. Despeço-me com amizade e voltarei em breve.
Beijinhos.
Até logo.
O povo indiano é um povo extremamente simpático. Este é o sumo do conjunto de opiniões que tenho vindo a juntar ao longo da minha curta, mas intensa estada em Delhi. Os indianos, os homens, são em geral simpáticos. Digo homens porque o convívio que tenho tido oportunidade de ter tem sido com homens. Não por eu ser uma devassa… fora esses pensamentos maldosos que possam ter surgido ao ler as linhas anteriores, mas porque a Índia é um país ainda muito tradicional. O casamento é um só e para sempre, esteja-se contente ou não, é uma questão de mentalidade. A mulher fica em casa, trata dos filhos, do marido, da casa. Bom, isto de acordo com a classe social. Nas classes baixas todos trabalham, pois a necessidade impera sobre a tradição, nas classes altas a maior parte trabalha, pois a evolução impera sobre a tradição. Mas nas classes médias, a classe tradicionalista por excelência, o homem trabalha, a mulher fica em casa. Como nos tempos antigos. Na Índia ainda se vive os tempos antigos.
As pessoas com quem já cruzei durante estes dias em Delhi, são unânimes nas opiniões. O casal que conheci na Guest house e com quem jantei 2 noites seguidas, o dono do Internet point onde vou todos os dias, o rapaz que conheci do McDonald´s com quem criei amizade, o casal com quem fiz a tour no zoo, todos me mostraram a realidade indiana, cada um à sua maneira, mas sempre sobre o mesmo registo. É muito fácil perceber as leis sociais deste povo. Seja qual for a religião, língua ou casta, existe uma universalidade de pensamento em relação aos costumes e à forma de viver. Nota-se a união do país. O denominador comum é o conceito família. O casamento, repito, é para a vida, antes de casar sou livre, depois de casar, sou construtor de família, trabalho para ela e por ela. (A opinião que conheço é a masculina pelo tradicionalismo de que já falei…).
A gentileza do Indiano é abundante, aparece em todas as situações do meu dia. Mas há que perceber o preço desta gentileza. Muita é gratuita, o que se nota ao fim de segundos de conversa, ou olhares. Mas os assédios são aos milhões. Querem tirar fotografias comigo, ok, tiremos, segue-se um convite para um café, não, não, estou com pressa… Os convites para cafés são obrigatoriamente recusáveis. Estes são os assédios perigosos. Ou uma abordagem na rua só pelos meus lindos olhos (e leia-se meus lindos olhos como o facto de eu ser estrangeira), também não é de troco possível. Um sorriso na rua, uma ajuda no autocarro, um pedido em casamento, um entornar delicioso da cabeça para o lado para dizer que sim (como o de uma criança que pedincha vá lá só mais um), estes são os “assédios” responsáveis pela minha opinião. O povo indiano é simpático.
Muita da tal simpatia gratuita que se vê na rua advém da submissão do povo indiano ao estrangeiro. Tal como diz Pavan Varma, no seu livro "A índia no século XXI" o sucesso britânico no domínio deste povo deveu-se em grande parte à vassalagem do povo indiano sob o inglês. É visível a todo o momento. Mas paradoxalmente, a tentativa de enganar o forasteiro nunca desaparece. E é mesmo só com quem não é indiano que essa tentativa emerge. Temos de ter os olhos sempre bem abertos, mas a verdade é que a nossa (a minha, neste caso) capacidade negocial tem sofrido um forte desenvolvimento. Tenho de me safar de uma maneira ou de outra!
Mas aqui encontra-se outro paradoxo.
Um indiano não vai enganar outro indiano, claro. Primeiro porque ambos conhecem de ginjeira os truques todos, não caem claro, por outro lado o nacionalismo uno que lhes está intrínseco não os deixa pôr do lado do estrangeiro e contra o seu conterrâneo. Isto no comércio tradicional, quando a luta é contra o não indiano. Mas a lei da sobrevivência selvagem está nos códigos das ruas indianas. O mais forte explora o mais fraco, que por sua vez procura quem mais abaixo pode ser explorado, que, por sua vez se aproveita do seu inferior, etc, etc, etc...
A necessidade de manifestação de poder é outra das características do Indianos.
O Dr. Parminder Deigh, o dono do Internet point, já meu amigo, com quem já bebi uma cerveja (Sand Piper, bem boa…), fez questão de me dizer que era Dr. porque tinha tirado um curso. É letrado. Forma subtil de afirmação de poder sobre o próximo. Este é um hábito normal do indiano para se fazer perceber com quem estamos a lidar, para que possamos segurar que tipo de conversa podemos desenvolver aqui. Ele faz-se notar quando pode puxando as suas brasas, e para apreender quem somos, sorrateiramente pergunta coisas que lhe possam elucidar sobre o nosso estrato social e cultural. Profissão do Pai, quão numerosa é a família, estado civil. Ao fim de trocas de galhardetes, ele porque se autopropõe, eu porque respondo simplesmente às suas preconcebidas perguntas, estamos aptos a conversar, sabendo cada um em que lugar se colocar (pelo menos ele sabe, eu vou aprendendo). Com estas pessoas com quem cruzei, consigo verificar esta lei do conhecimento social que Varma expõe do seu livro. É de facto assim.
Este foi um escrito um pouco diferente, mas tenho vindo a pensar nisto há dias… Como poderia eu descrever o povo indiano? Serei detentora de conhecimento teórico e empírico suficiente para descrição tão exigente? Não creio, mas fica uma pequena amostra do que me apraz dizer sobre este tão curioso, encantador e diferente povo.
É um registo mais pessoal do que divulgador das desventuras que vivo aqui… São as vicissitudes de um diário partilhado…
Tal como já tenho vindo a dizer, e agora constata-se, os autocarros são inacreditáveis. Aqueles veículos que vemos num armazém aparentando estarem parados há pelo menos 20 anos, aqui andam por toda a cidade e trazem e levam pessoas. Não têm portas, as janelas mal fecham, ou mal abrem, depende de como ficaram da última vez. O corrimão do lado esquerdo da porta é muito útil para a entrada em andamento. A paragem de autocarro não é descanso é simplesmente de tomada e largada passageiros, por isso despachem-se, não podemos perder o embalo. Raramente param, só mesmo em sinal encarnado, ou por trânsito compacto. Nessas alturas o tipo que cobra os bilhetes, cujo preço depende da corrida, sai e vai comprar qualquer coisa nas bancas de rua, agua, cigarros, qualquer coisa. No outro dia, ia eu descansada no lugar que um desses cobradores me cedeu, mais uma vez a simpatia impera, quando ele sai e volta com a mão cheia de caramelos, um era para mim. Quem manda andar ou parar o autocarro é o tipo dos bilhetes, que com o som de uma moeda na lata, ou num corrimão, indica o que deve ser feito, e o condutor obedece.
Notas finais:
1. Visitas:
India Gate – é um clássico, fica sempre bem, e vale a pena ver.
Bahai´s Temple – religião antiga e tem por lema “The earth is but one country and mankind its citizens”. Tem uma arquitectura interessante.
Como será em Delhi? Será Delhi também desarrumada e suja? Irei eu encontrar um cantinho como este de Kolkata? A ver vamos.
Ate Logo.