Tuesday, August 14, 2007

Venha à Malásia em 2007

Era o que dizia por toda a parte. Mesmo fora das cidades grandes via-se este apelativo slogan a convidar a visitar o país em data de comemoração dos 50 anos da independência. A mais orgulhosa comemoração que já vi. A sensação é que desde do dia 31 de Agosto de 1957, quando na praça Merdeka se ergue o maior pau de bandeira do mundo, que este país segue sozinho acreditando que por isso se desenvolverá próspera e sustentadamente. Passados 50 anos é o que se sente, é o que se vê. As pessoas vivem contentes e orgulhosas por viverem na Malásia, mas sem exibir patriotismos narcisistas. De origem indiana, chinesa, ou já se considerando malaios, todos nos surpreendem com dedicação e simpatia, tão genuínas que afasta a hipótese, ou nem a cria, de efeitos secundários da generosidade gratuita que tão preconceituosamente muitas vezes criamos. Também cheguei a Kuala Lumpur sem a Carmo, que ficara mais dois dias em Bangkok por questões de facilidade de compra do bilhete de avião. Comprámos em alturas diferentes, por razões diferentes, o que resultou em datas diferentes.
Embarquei ao fim da tarde em direcção à capital da Malásia, pensando que durante a viagem de avião iria ler o capítulo dos sítios para ficar do Lonely Planet. Sentei-me e puxei do meu best-seller. Ao meu lado estava um casal Malaio a quem pedi conselhos sobre KL. Foram 2 horas de conversa. O privilégio foi ouvir de quem conhece, aquilo que o livro recomenda. Um conselho a um viajante estrangeiro todos temos vontade de dar, claro, mas aqui, além da dica vem sempre um telefonema para o hotel a ver se há lugar, um encaminhamento para a melhor forma de ir para o centro, às vezes até uma boleia… Chinatown foi o sugerido e o seguido. Sozinha na cidade decidi explora-la, andar pelas ruas, esperando que viesse a Carmo para palmar os ícones principais. Lancei-me a pé à descoberta seguindo um mapa, quando dei por mim, estava quase outra vez em casa e tinha visto uma boa parte do centro. As indicações na rua são as melhores para quem anda a pé. Dizem a direcção e o tempo que se demora. De placa em placa fiz a cidade sem dar por ela.

KL não me deixou indiferente, o desenvolvimento claro, embutido em verde envolve-nos no país, sem deixar margem a esquecimento. Senti-me apaixonada pela cidade, mas a paixão maior foi pelo povo malaio. Não foram poucas as situações que merecem relato de um povo hospitaleiro, acolhedor, resultado de misturas de varias origens, que às vezes se notam, outras se esquecem...
A estada da Carmo era de um dia, e cidade queria mostrar-nos um plano geral, de forma rápida e concisa, que se fixasse na memória... Ao pensar ter descoberto a pólvora, encontramos a melhor forma de ver a capital num dia - o Hop-on Hop-off, afinal típico e banal autocarro espalhado por todas essas cidades do mundo com algum turismo, incluindo a nossa Lisboa. Mas sentimos ter feita a escolha certa. No nosso ovo de Colombo batemos os pontos chave da cidade, ao sabor da vontade e do entusiasmo, já que tínhamos um chauffeur ao serviço...
As petronas, essas que são as torres gémeas mais altas do mundo, de nos prender a obliquidade, foram a paragem mais duradoura. De todas as perspectivas dão vontade de ser olhadas. Subir era o principal objectivo. Os bilhetes são gratuitos mas limitados a cláusula diária mas por desconhecimento total de causa chegámos depois da partilha. Com grande sorte ou algum acontecimento que não vem por acaso, a desistência de um grupo abriu vagas na hora exacta. Conseguimos subir! A felicidade transbordou-nos... Com direito a um filme de apresentação das torres mostrando o antes, o durante, os meios e as formas de construção destes edifícios de 88 andares, angariamos mais um souvenir para levar para casa: a vista da sky bridge, que liga as duas torres no 41º andar dos escritórios da maior empresa de petróleo da Malásia - Petronas!

Depois da cidade queríamos praia, em busca da melhor relação qualidade distância, descobrimos uma vila costeira, perto de uma ilha potencial destino de 2 dias, onde poisar e definir novos planos. Estava a chover quando, vindas da cidade de autocarro (que em termos de conforto vai além da classe económica de qualquer avião), chegamos a Cherating. Eram 4 da manhã, sugerem-nos que esperemos pela aurora na esquadra da polícia. Da paragem onde nos deixaram, que não era mais que um ponto algures na estrada que só eles o identificam, seguimos para a ansiada esquadra. Um alpendre de madeira, fazendo de hall de entrada da casa, com uns sofás de palha e umas almofadas um pouco usadas, e sem ninguém foi a nossa acomodação daquela metade de noite. O sol raiou e saímos em busca de algo... Num café que finalmente abriu tomávamos o pequeno almoço em silêncio e líamos nos olhos uma da outra: não é bem aqui queremos ficar... Na tentativa de marcar viagem para a então desejada ilha, outro cliente da agência de viagens, coisa que nunca falta na mais isolada terra de qualquer país da Ásia, sugere-nos uma boleia para a cidade mais próxima, já que aqui era impossível apanhar qualquer transporte para o destino escolhido. Era a 20 Kms dali, ele ia e vinha regularmente, estávamos com sorte no timing dele, seguimos.

Em vez de 3 dias ficámos apenas um em Kapas Island. Não por a ilha não ser fantástica ou paradisíaca, mas a estafante chegada com as malas às costas pelo imenso areal até um lugar não ocupado pelos trabalhadores de uma empresa malaia que decidira fazer naquela ilha um fim de semana de kick-off, e tempo fora do perfeito tirou-nos a vontade de parar aqui. O que nos valeu foi a preciosa e dedicada ajuda do coordenador da equipa nacional de kayaking que estava em treinos na mesma ilha, pois conseguiu com o seu telemóvel e a sua boa vontade e conhecimentos, alterar a volta pré comparada da ilha para mais cedo e ainda apanhar a tempo os nosso amigos locais que tão simpaticamente se tinham oferecido para nos comprar o bilhete de Marang para Malaka.
O dia ainda foi aproveitado, o tempo esteve do nosso lado, o sol e as águas transparentes e quentes consolaram-nos até depois do almoço. O barco partia as 4h, malas feitas e conquistada a ajuda de as levar até ao cais, seguimos viagem. Do outro lado esperavam-nos os tais amigos que nos tinham comprado o bilhete do transporte seguinte, que era só as 9e30 da noite. Mas não se preocupem, disse-nos um deles, vêm comigo até a minha guest house onde podem esperar até que sejam horas de embarcar. No momento da partida ainda nos levaram à estação, passando ainda por um minimercado para nos abastecermos para a longa viagem de noite, ficando connosco até que o autocarro certo viesse, não fossemos nos apanhar o errado...

A viagem nocturna deu-nos uma noite de sono tranquila até à cidade onde em 1511 chegaram os Portugueses. Que tipo de vestígios lusos haverá? Era o que vínhamos à procura. Mas também a praia estava na nossa ideia. A antecipação da chegada a este lugar trazia a vontade de poisar os malões e só de mochila procurar uma praiazinha para um último descanso antes do regresso a casa. Encontrámos uma estrada que se dizia vila nos arredores da cidade procurando sítio para dormir. Depois de rejeitado um, que nem o cansaço nem a vontade de chegar lhe deram hipótese, vagueávamos pela marginal sem destino ou direcção. Em acto de desespero vejo a Carmo a atravessar a rua como quem tem uma direcção escolhida. Segui-a. Perguntamos então a um casal que parecia aproveitar a tarde de domingo para passear, por um sítio para dormir. Venham comigo, levo-vos ate lá, não é mau de todo, ficámos lá a noite passada. Afinal era um resortzito com piscina e vista para o mar... não era mau de todo para os parâmetros dele, para nós era 5 estrelas... No caminho, em conversa perguntou-nos se já tínhamos almoçado. Respondemos que não. Sugeriu-nos levar a almoçar, ao que aceitamos unanimemente. Deixamos as coisas no hotel e fomos com eles. Onde nos estava a levar? Era um casamento, razão que os tinha feito vir passar o fim de semana aquela periférica aldeia. Não queríamos acreditar. Receberam-nos como se fomos convidadas conhecidas. Olá! Entrem, entrem, sejam bem-vindas. Sirvam-se, estejam a vontade. Venham dançar. Estávamos enturmadas. Com direito a uma fotografia com os noivos e com o resto das malaias, saímos da festa com pena de vir embora e com mais Amigos...

Malaka foi-nos mostrada por um chinês malaio. Afirma-se chinês, mas há 3 gerações que nascem na Malásia. Conhecemo-lo num seven eleven, quando tentávamos comprar um creme protector. Depois de termos rejeitado a sua sugestão de ir à cidade comprar, pois ali não havia, porque era longe, ofereceu-se para nos levar já que tinha de ir e vir... Fomos. Sugeriu-nos ainda jantar nesse dia. Combinámos ao fim do dia, fomos visitar a cidade à descoberta da herança portuguesa... Pouca... Jantámos na chamada vila portuguesa, onde teremos chegado há 5 séculos, que foge do típico, mas é acolhedor. Fala-se um nadinha de português, e come-se menos típico ainda. Mas a companhia estava boa e ficou vista a cidade!
Nesse dia tínhamos encontrado o único viajante português de toda a viagem! Foi preciso vir a Malaka para nos cruzarmos com um compatriota, ainda que filho de imigrantes na Alemanha e lá estabelecido, falava a nossa língua. Bebemos uns copos, partilhamos experiências de viagens, ele a começar, nós a chegar a meio, passámos uma bela noite num palco de um barzinho, eu na bateria e a Carmo no microfone. Valeu o tuga! Obrigada David. Boa viagem e manda noticias!
De Malaka seguimos para Singapura, de onde iríamos apanhar um avião para Portugal. A vontade superava-nos... os minutos eram horas, as horas dias... mal podíamos pensar que em menos de muito pouco estávamos a abraçar os nossos...

Ainda nos esperava um dia em Amesterdão, com uma vontade antiga de conhecer esta cidade aproveitei a escala para alargar o tempo de espera e poder correr os seus canais. Devolvemos o guia que Annie nos tinha emprestado na viagem HK – Xangai, sabendo que íamos passar em sua casa. Cicerone fantástica ainda nos deu um duche e boleia para o aeroporto. Bendita escala.

Até logo. Até já!

3 comments:

constipado said...

Nem o constipado ?

Anonymous said...

É que com descrições deste tipo, vou conhecer o mundo CTG!
Adorei a foto de casamento!!! :) So me escapou uma coisa...Como "abraçar os nossos"??? Como "avião para Portugal"???
Bjs
Madalena

Anonymous said...

Pronto... Ja percebi... Tive o prazer de te ver e estar ctg!:) É que me enganaste com a data do post!;)
A pessoa chega de férias e vai meter a sua leitura em dia (coisa que tanto gozo me tem dado nestes tempos em que tens estado fora, ler o teu blog)...começa a ler do mais antigo para o mais recente...e baralha-se tda!LOL
Mais Bjss!
Madalena