Monday, March 26, 2007

Taj Mahal

Nao sei de palavras que acompanhem as imagens...


Vejamos algumas fotos...






Belo monumento...

Até logo

Sunday, March 25, 2007

Até logo Delhi

Não digo adeus pela conotação vitalícia da palavra...

Delhi foi uma experiência muito boa. Grande.
Levo nostalgia, levo recordações da luta quotidiana contra a desorientação e desorganização que eram atenuadas com o passar dos dias, levo saudades da interpretação constante de um povo que em nada se parece com o meu mas que ganhou um lugar especial no meu coração, levo memórias da conquista diária de mais umas linhas de texto para o trabalho e da procura de novos contactos, levo amigos que criei e de quem não me vou esquecer…
Esta pesquisa, a responsável pelo último empurrão para a viagem, graças ao contexto social da Índia teve um avanço enorme nestas últimas 3 semanas em Delhi. De ONG em ONG, com um caderno e uma caneta na mão entrava a agradecer a disponibilidade para me ouvirem… Formalidades à parte, começávamos a conversa. A paciência era extrema, de sorriso na boca, contavam-me a história que eu pedisse, que acabava por se prolongar no tempo sem darmos por nada. Chegava a casa com páginas e páginas escritas com tudo o que cada Organização faz, como faz, com quem faz… muitos fins de tarde eram preenchidos com a leitura dos apontamentos.

No dia que deixei Delhi para seguir viagem já com a ansiada companhia da Carmo, tive a oportunidade de conhecer o trabalho de uma ONG para além dos escritórios na cidade, finalmente! Da teoria à prática.
Fomos visitar uns centros de apoio a crianças e jovens raparigas. Esta oportunidade foi-me dada por uma das ONG com quem falei.
Reena, uma rapariga indiana, que viveu a sua infância e juventude numa vila remota no Nepal, vem viver para Delhi aos 19 anos, quando o Pai é aqui colocado. Filha única de um casal pobre, cuja falta de oportunidade de educação empurrou todos os esforços para que Reena tivesse acesso a continuar os estudos para além dos básicos. A sua vontade de trabalhar com a comunidade levou-a a entrar no mundo das ONG. Persistente e teimosa, sem desistir de uma causa por impedimentos exteriores, criou a sua própria ONG em 1994 - Nav Srishti, expressão indiana para “Novo Horizonte”, que trabalha no sector da educação das crianças e desenvolvimento de jovens mulheres, em Delhi e estados vizinhos.
Chegámos ao escritório de Reena, que, ao contrário das outras ONG que visitei que se identificavam imediatamente com placas na porta com nome e logótipo, é num andar num prédio numa zona residencial, cedido gentilmente pelo marido de Reena. Fomos igualmente recebidas com o habitual Tchai, e aguardámos pacientemente por Doli, staff de Nav Srishti que entre outras responsabilidades visita regularmente cada um dos centros de apoio, vendo e constatando que tudo corre como deve.

O primeiro centro visitado foi um de Educação Não Formal, onde as crianças mais pobres daquela comunidade têm aulas de ensino básico que lhes dão competências para concorrerem aos exames de admissão das escolas públicas. Na sala de aula existe apenas uma cadeira, a da professora, parte integrante também do pessoal profissionalizado de Nav Srishti. O chão está coberto de tapetes onde de forma alinhada de frente para o quadro se sentam as crianças de pernas à chinês de caderno e lápis no colo, prontos e ansiosos pelo começo da aula.

Na entrada da supervisora na sala todos se levantam com uma enorme alegria e em coro, com continência, saúdam Doli “good morning madam”. Com a permissão da professora, voltam a sentar-se agradecendo com a mesma música e a mesma satisfação, exibindo com o maior sorriso que conseguem o seu inglês e a sua boa educação na presença de pessoa importante “thank you madam”… A dedicação das 4 professoras daquele centro com as crianças é visível a olho nu e a receptividade de cada uma das crianças vê-se da mesma forma, em cada sorriso que nos davam mostravam a alegria e o orgulho de estarem na “escola”.



Outro dos centros que visitámos foi onde raparigas com 16/18 anos, por não ter hipótese ou vontade de estudar, têm lições de costura, de cabeleireiro, ou qualquer outra tarefa que lhes crie gosto pelo trabalho e que as leve ao desenvolvimento pessoal e profissional, que lhes dê um futuro. A princípio a nossa chegada intimidou-as. Foram-nos mostrando as instalações um pouco a medo… As tentativas de abordagem foram várias, mas o inglês apenas existia em Doli, que estava ocupada com o cumprimento da sua rotina de supervisão e pouco tempo tinha para nós. Mas a comunicação é fácil quando a empatia aparece, ao fim de poucos minutos já estávamos todas melhores amigas. Cantámos, dançamos, servimos de cobaias nas suas aprendizagens técnico profissionais, tirámos fotografias, foi uma manhã diferente e muito divertida. O trabalho de Doli arrancou-nos da dança, com muitos sorrisos e obrigadas, fomos embora.
De Delhi levo boas recordações, bons momentos, e algum trabalho…
Até logo.

Wednesday, March 21, 2007

Olá Primavera!

Hoje começa a primavera em Portugal! Que maravilha! Parece que já vem vindo a ameaçar… As notícias que me chegam dizem que o sol aparece com vontade já há uns dias. Que bom! Que saudades do rio, do mar…
Por cá, em Delhi, a Primavera já chegou há mais tempo, veio com a Holi Party no princípio do mês, na noite de lua cheia… se bem que o verão insiste em querer aparecer. Os dias são quentes, sol forte, temperaturas altas, que tendem a aumentar. Enfim, uma primavera apurada! Ontem, estranhamente caiu uma carga de água apanhando toda a gente desprevenida. Entupiram as saídas de metro, os toldos das lojas, as arcadas das casas, eu própria fiquei presa numa delas. Ainda assim não foi motivo suficiente para parar ou abrandar o caótico trânsito desta cidade. Tudo estava igual, só um pouco mais molhado…

As capas dos jornais continuam a dedicar uma parte da sua primeira página ao campeonato Mundial de Cricket. No Domingo passado respirava-se tristeza em toda a Índia depois desta ter perdido, no jogo de Sábado, contra o Bangladesh, a equipa que conhece o nível mais baixo do ranking mundial deste desporto. Mas os ânimos indianos voltaram a estar em alta, depois de terem ganho contra a Bermuda na segunda feira. Ainda assim a Índia continua no limbo, ambas as hipóteses, ganhar ou perder, são possíveis, o perigoso Bangladesh continua a conquistar resultados, para grande espanto de todos.

Hoje chega também a Carmo! A Delhi. Finalmente, que bom! É aqui que nos juntamos e seguimos viagem!

O próximo destino é o Rajasthan, um estado situado a noroeste da Índia, lugar turístico, preenchido por aldeias típicas do deserto, cada uma com seu encanto, onde o costume monárquico vindo desde os tempos pré independência ainda se nota bastante. Os palácios dos antigos reis são uma das principais atracções turísticas, entre outros monumentos, onde alguns foram transformados em hotéis, outros mantém-se como dantes para cobrar uns trocos ao excursionista… São cidades cheias de cores, de vida, de festivais, esperam-nos uns dias bem animados, assim seja.
A primeira paragem é Agra, cidade que hoje vive das visitas a esse monumento mundialmente conhecido, maravilha do mundo, Taj Mahal. Foi a antiga capital da Índia, altura em que foi coroada com o centro de industrialização, mantendo-se até hoje como tal não tendo muito mais encanto que não o gigantesco mausoléu, embora os guias puxem por outros monumentos, claro. Vamos ver…

Ficamos uma noite em Agra, a da chegada, para no dia seguinte, bem cedo, depois umas chapas a esse grande marco da Índia, partirmos para o deserto a sério!

Até lá aguardemos novas e boas!

Beijinhos e saudades.
Ate logo

Sunday, March 18, 2007

Outras experiências gastronómicas

Sexta Feira passada tive um jantar um pouco diferente também, algo que ainda não tinha experimentado.

Mais uma experiência cultural…

Quando cheguei ao hotel ao fim do dia, encontrei um tipo, com quem já tinha falado antes, que também está aqui sozinho. Veio estabelecer-se em Delhi por causa de novo trabalho e está a preparar as coisas para trazer a mulher e a filha de Bombaim, cidade onde vive actualmente. Sem qualquer compromisso tínhamos combinado há uns dias que jantávamos e conversávamos um pouco. Ele é um conversador nato, daqueles que fala, fala, divaga, divaga, filosofa, filosofa, mas muito boa onda. Um pouco exibicionista e muito cheio de si. Orgulha-se do pouco apoio que teve nos estudos, irmão mais novo de 3, filho lançado às cobras pelo próprio Pai, sendo em sua opinião, o melhor que o Pai fez por ele. Lutou e fez-se à vida sozinho e deve a ele tudo o que é. Trabalha na área da Restauração e Hotelaria.

Finalmente ontem tínhamos a mesma agenda, ou seja, nada combinado e jantávamos aqui no Hotel. Já não sei como disse que deixava ao critério dele a escolha da ementa. Perguntou-me só se comia galinha, ou se era vegetariana, eu digo que como tudo menos queijo (que nem é muito habitual aqui, felizmente para mim). Ah, e disse ainda que muito picante também não era o meu forte. Ele disse, ah, este é picante, mas não muito, vais ver que gostas. Eu, ingenuamente disse que sim, que confiava nele, tinha de provar as iguarias indianas.
Está-se mesmo a ver… Picantíssimo. Deitei fogo pela boca. A única coisa que havia para beber era whisky com imensa água, outro costume que alguns aqui têm, whisky à refeição… ainda perguntei por cerveja, uma boa amiga dos inimigos do picante, mas nada. As coisas que jantámos eram variadas e vinham aos poucos. Coisas um pouco estranhas e diferentes, enfim, comida indiana. E boa!
Primeiro veio um pequeno aperitivo, peanuts, mas não são simplesmente amendoins, são com cebola picada, tomate cortado em pedacinhos, malagueta picada, temperados com limão. Ele tinha pedido este pouco picante, comia-se com colher, bem bom, por sinal…
Depois vieram uns rolos de carne do tamanho de um croquete, que se come com limão por cima, cebola crua a acompanhar e ainda se molha numa espécie de leite. Picantíssimo!!! Foi aqui o fogo pela boca. Foi aqui que me despi de cerimónias e pedi ao empregado um sumo de laranja.
Bom, descansámos de todo aquele picante, bebemos mais um pouco de whisky, muito temperado com água, mal sabia a qualquer coisa, fumámos um cigarro, conversamos mais um bocado e só passado meia hora é que veio o último prato, porque ele assim o pediu. Eu já estava a sentir o picante que aí vinha. É que o que é picante é mesmo muito picante!!! Não dá para imaginar!! Até agora o que eu tinha comido era para amadores, já vi…
Este último era uma carne qualquer estufada, cheia de molho com óptimo aspecto, eu só pensava que pena as malaguetas, aquilo deve ser tão bom… Noutra travessa umas batatas e couve-flor cozidas, pulverizadas com umas ervas, bom aspecto também. E ainda um cesto com pão típico indiano - roti, é tipo panqueca. Temos as travessas, os pratos, mas nada de talheres… E agora como é que como isto, perguntei? Com o pão e com as mãos, respondeu-me. Ui… Disse-lhe de imediato que o ia imitar, pois não estava a ver como seria aquilo possível, vejo como é e sigo. Assim foi. Pega-se num rasgo de pão com ele abraçamos um pedaço de carne ou o espesso molho da mesma e comemos… O mesmo com as batatas e a couve-flor. Delicioso o primeiro sabor, um bocadinho apimentado o segundo, fogo o terceiro. Venha mais um sumo de laranja.

Para mim o comer com as mãos não era propriamente novidade, há costumes que já vamos conhecendo antes de vir, mas nunca tinha tido a necessidade ou a oportunidade de experimentar. A razão de comer com as mãos é que o corpo tem umas propriedades quaisquer que deixam a comida mais saborosa…

Um jantar tipicamente indiano. Fantástico!

Ontem tive ainda outras experiências gastronómicas engraçadas. Aproveitando o assunto deixo relato.


Comer na rua dizem que é perigoso. Perigoso para os nossos mal habituados e sensíveis ao estranho estômagos ocidentais. As recomendações trazidas de Portugal eram muitas, não beber água, não comer na rua, fruta só a que se descasca… A farmácia preventiva e resolutiva para complicações gástricas que trago constitui ½ do todo. Claro que oiço quem sabe, quem já experimentou, mas a confiança vai aumentado inevitavelmente.

Ao passear pelo bairro de South Extention I, onde “moro”, visitei vários spots de bancas de rua. Já os tinha topado, mas nunca com vagar para parar. Existe todo o tipo de comida a ser vendida aqui, fruta, sumos de fruta naturais, aperitivos de várias espécies, comida variada feita em grandes panelas tipo wok, todas suportadas por um banca rolante que acompanha o curso das pessoas ou está simplesmente estacionada em locais de grande afluência.


A genuína simpatia destes motoristas de comida faz-me parar em todos e tentar perceber o que cada um tem para oferecer. O inglês não existe, a comunicação é a universal dos gestos, e as amizades que ele cria quando uma estranha se interessa pela sua banca surpreende. Já estamos todos em amena cavaqueira mímica a beber o sumo de laranja mais doce que já bebi, feito na hora. Não consegui perceber de onde vinham estas laranjas, tentei tentei, mas a resposta que obtive foi apenas, são laranjas!

Foi mais um bocadinho de Índia, da minha Índia. Despeço-me com amizade e voltarei em breve.

Beijinhos.

Até logo.

Friday, March 16, 2007

Experiências Culturais

Na minha busca diária de assuntos para escrever e relatar através desse fantástico mundo das self-made webpages, na gíria, Blog, vejo-me a considerar todo o tipo de situações como alvo de escrita. Mas fazendo uma análise mais crítica e selectiva ao que pode ou deve ser partilhado encontro muito menos acontecimentos merecedores de atenção. Quando estamos mais “estagnados” num sítio, onde criamos uma rotina, o que era novo ao princípio transforma-se rapidamente em costume. O que surpreende nas primeiras observações é logo passado para o plano das coisas normais. Cada vez mais as novidades sociais são menos… Ou as coisas já não são novidade.

As visitas culturais são uma obrigação do turista. Percorrer todos os monumentos, visitar todos os túmulos, conhecer os museus da cidade, o turista vive numa azáfama cultural incansável durante a sua jornada ao país diferente. Mas a verdade é que a minha condição neste momento de turista tem pouco. A ideia é que vim a Delhi para trabalhar, para investigar. Sendo este o meu principal objectivo, tenho de me preocupar em procurar Organizações Não-Governamentais predispostas a receberem uma qualquer vinda não sei de onde que lhes quer roubar um tempinho apenas porque acha que pode mudar a forma de pensar das ONG. Tem sido uma tarefa não muito fácil, pouco colada ao que eu estava à espera, mas claro, contratempos normais da vida, importa é saber limá-los e domá-los. Mas volto a insistir num mesmo assunto, quando sou recebida por alguma ONG, sou o muito bem, toda a disponibilidade para me ouvirem, para responder às minhas perguntas, enfim, mais uma prova da simpatia gratuita deste povo. Não sei mesmo se terei esta receptividade em outros países, quando procurar quem entrevistar. Acho que já vou tendo bom material deste sector na Índia.

Mas voltando às visitas culturais… Se considerarmos cultura no seu sentido mais lato, não tenho parado. Conheço alguns restaurantes fora dos de todos os dias do meu bairro. Conheço alguns spots onde beber um copo e ver os jogos do campeonato mundial de Cricket que começou agora, desporto este, aliás, muito cobiçado pelos indianos, onde estes são até um dos candidatos favoritos ao título. Zonas comerciais onde se confundem turistas e nativos também já me são familiares… Conversas com este ou aquele que cruzam o meu caminho, ou eu cruzo o deles, também me ensinam bastante. Enfim… Cultura é cultura. Como diria o meu Amigo Uipe, vejo um filme de Bollywood e fico despachada…

Uma outra experiência cultural que tive em Delhi, que merece reportagem própria pela pouca acessibilidade ao turista normal, foi o jantar em casa de um indiano. O dono do Internet Café onde costumo ir e com quem tenho conversado bastante, pois muitas vezes tenho de esperar que vague um computador, no outro dia perguntou-me o que ia fazer eu no dia seguinte. A pergunta tinha o objectivo de me convidar para jantar em sua casa. Disse-o com um enorme sorriso que mostrava o quão contente estava com aquele convite. Aceitei de imediato demonstrando também satisfação. Perguntou-me se eu gostava de galinha (não se come outra coisa na Índia, meu amigo, se eu não gostasse estava bem arranjada, pensei), disse que sim, ao que me respondeu com um grande elogio à cozinha da mulher que era esse o jantar que me esperava. Eu própria estava bem entusiasmada, mal podia esperar por essa galinha… Picante de certeza, mas seria uma injúria dizer que não me dou com picante. Estava preparada. O dia passou e lá fui ter ao Internet Café para dali seguirmos para casa dele, no quarteirão atrás. Entrámos numa sala enorme, tipo museu, dois grandes sofás ornamentados com dourados trabalhados, um enorme lustre no tecto ao centro, ladeado por duas ventoinhas (malta, todas as casas indianas têm ventoinha no tecto!). A sala parecia nunca ter sido usada. Seguimos um corredor, onde à esquerda uma reentrância grande fazia a cozinha. Seguimos e no fim uma porta que ele abre com chave, era o quarto. Estava trancado porque os dois outros quartos da casa são alugados a raparigas estudantes em Delhi. Entretanto pergunto pela mulher e pelo filho. Foram para casa da sogra porque hoje acabaram as aulas. Ficam lá uns dias. Belo cenário, imaginei… Mas vamos ver o que se segue. Sento-me de lado na cama, fico “à vontade”, ou transmito-lhe que estou. (o recurso aos costumes são o nosso melhor álibi) e ele traz um tabuleiro com dois partos de sobremesa, em que cada um tinha 3 pedaços de galinha e uma colher… Para beber duas cervejas. Kingfisher. O indiano, ao ver a minha luta entre a colher e a galinha com míseros resultados de cada vez traz-me um garfo. Lá dei conta da galinha com ossos, só com uma colher e um garfo, elogiando-a a cada garfada, claro. E estava bem boa. Pouco picante e tudo. A todo o minuto perguntava se eu queria mais alguma coisa, estava super satisfeito e orgulhoso em mostrar-me a casa. E eu ali era rainha, tudo o que eu quisesse ele fazia. Mais um costume indiano, principalmente na religião dele, os convidados são Deus. Quis ir andando, já era tarde, ele ofereceu-se de imediato para me levar a casa. Agradeci. Acompanhou-me até à esquina da rua da Guest House, e foi-se embora. Caricato. Sempre a dizer que é perigoso para mim andar à noite, ou de autocarro, ou sítios em que não conheço… mas depois leva-me e deixa-me a meio caminho… Curioso.

Entre poucas visitas culturais, fica um pouco o dia-a-dia em Delhi.
Vem aí um fim de semana, com novidades turísticas, provavelmente.

Beijinhos.

Até logo

Monday, March 12, 2007

O povo Indiano

Delhi, dia 12 de Marco de 2007. 11:50 a.m. Chove e faz frio...
Hoje deixo um escrito um pouco diferente...
A minha principal observação tem sido aos hábitos e costumes do povo indiano. A diferença constante prende-me o olhar e obriga-me a reparar.
Conjugando o que leio com o que observo, crio uma opinião. Vale o que vale…


No meu caminho diário, seja para visitar um monumento, seja para visitar uma ONG, seja ainda quando vou no autocarro ou no auto (diminutivo de autorickshaw os tais táxi moto de que falo), ou seja ainda quando estou simplesmente a tomar o pequeno-almoço na varanda da Guest House, estou numa constante observação à forma como as pessoas se comportam. É um exame interessante, super interessante, dou por mim a reparar em tudo, no que vestem, no que comem, como comem, como andam, como se relacionam entre eles, como se relacionam comigo, enfim… Como vive este povo, tão diferente do meu, ou dos meus vizinhos. Na Europa as coisas variam de país para país, mas a variação é mínima. Os hábitos mudam, sim, mas mudam dentro de parâmetros conhecidos, a mudança nunca é radical.

A Índia é um país completamente diferente… Diferente do que o que eu conhecia. Talvez eu conhecesse pouco, ou talvez tudo o que conhecesse fosse perto de mim…

O povo indiano é um povo extremamente simpático. Este é o sumo do conjunto de opiniões que tenho vindo a juntar ao longo da minha curta, mas intensa estada em Delhi. Os indianos, os homens, são em geral simpáticos. Digo homens porque o convívio que tenho tido oportunidade de ter tem sido com homens. Não por eu ser uma devassa… fora esses pensamentos maldosos que possam ter surgido ao ler as linhas anteriores, mas porque a Índia é um país ainda muito tradicional. O casamento é um só e para sempre, esteja-se contente ou não, é uma questão de mentalidade. A mulher fica em casa, trata dos filhos, do marido, da casa. Bom, isto de acordo com a classe social. Nas classes baixas todos trabalham, pois a necessidade impera sobre a tradição, nas classes altas a maior parte trabalha, pois a evolução impera sobre a tradição. Mas nas classes médias, a classe tradicionalista por excelência, o homem trabalha, a mulher fica em casa. Como nos tempos antigos. Na Índia ainda se vive os tempos antigos.



As pessoas com quem já cruzei durante estes dias em Delhi, são unânimes nas opiniões. O casal que conheci na Guest house e com quem jantei 2 noites seguidas, o dono do Internet point onde vou todos os dias, o rapaz que conheci do McDonald´s com quem criei amizade, o casal com quem fiz a tour no zoo, todos me mostraram a realidade indiana, cada um à sua maneira, mas sempre sobre o mesmo registo. É muito fácil perceber as leis sociais deste povo. Seja qual for a religião, língua ou casta, existe uma universalidade de pensamento em relação aos costumes e à forma de viver. Nota-se a união do país. O denominador comum é o conceito família. O casamento, repito, é para a vida, antes de casar sou livre, depois de casar, sou construtor de família, trabalho para ela e por ela. (A opinião que conheço é a masculina pelo tradicionalismo de que já falei…).

A gentileza do Indiano é abundante, aparece em todas as situações do meu dia. Mas há que perceber o preço desta gentileza. Muita é gratuita, o que se nota ao fim de segundos de conversa, ou olhares. Mas os assédios são aos milhões. Querem tirar fotografias comigo, ok, tiremos, segue-se um convite para um café, não, não, estou com pressa… Os convites para cafés são obrigatoriamente recusáveis. Estes são os assédios perigosos. Ou uma abordagem na rua só pelos meus lindos olhos (e leia-se meus lindos olhos como o facto de eu ser estrangeira), também não é de troco possível. Um sorriso na rua, uma ajuda no autocarro, um pedido em casamento, um entornar delicioso da cabeça para o lado para dizer que sim (como o de uma criança que pedincha vá lá só mais um), estes são os “assédios” responsáveis pela minha opinião. O povo indiano é simpático.
Muita da tal simpatia gratuita que se vê na rua advém da submissão do povo indiano ao estrangeiro. Tal como diz Pavan Varma, no seu livro "A índia no século XXI" o sucesso britânico no domínio deste povo deveu-se em grande parte à vassalagem do povo indiano sob o inglês. É visível a todo o momento. Mas paradoxalmente, a tentativa de enganar o forasteiro nunca desaparece. E é mesmo só com quem não é indiano que essa tentativa emerge. Temos de ter os olhos sempre bem abertos, mas a verdade é que a nossa (a minha, neste caso) capacidade negocial tem sofrido um forte desenvolvimento. Tenho de me safar de uma maneira ou de outra!

Mas aqui encontra-se outro paradoxo.
Um indiano não vai enganar outro indiano, claro. Primeiro porque ambos conhecem de ginjeira os truques todos, não caem claro, por outro lado o nacionalismo uno que lhes está intrínseco não os deixa pôr do lado do estrangeiro e contra o seu conterrâneo. Isto no comércio tradicional, quando a luta é contra o não indiano. Mas a lei da sobrevivência selvagem está nos códigos das ruas indianas. O mais forte explora o mais fraco, que por sua vez procura quem mais abaixo pode ser explorado, que, por sua vez se aproveita do seu inferior, etc, etc, etc...

A necessidade de manifestação de poder é outra das características do Indianos.
O Dr. Parminder Deigh, o dono do Internet point, já meu amigo, com quem já bebi uma cerveja (Sand Piper, bem boa…), fez questão de me dizer que era Dr. porque tinha tirado um curso. É letrado. Forma subtil de afirmação de poder sobre o próximo. Este é um hábito normal do indiano para se fazer perceber com quem estamos a lidar, para que possamos segurar que tipo de conversa podemos desenvolver aqui. Ele faz-se notar quando pode puxando as suas brasas, e para apreender quem somos, sorrateiramente pergunta coisas que lhe possam elucidar sobre o nosso estrato social e cultural. Profissão do Pai, quão numerosa é a família, estado civil. Ao fim de trocas de galhardetes, ele porque se autopropõe, eu porque respondo simplesmente às suas preconcebidas perguntas, estamos aptos a conversar, sabendo cada um em que lugar se colocar (pelo menos ele sabe, eu vou aprendendo). Com estas pessoas com quem cruzei, consigo verificar esta lei do conhecimento social que Varma expõe do seu livro. É de facto assim.

Este foi um escrito um pouco diferente, mas tenho vindo a pensar nisto há dias… Como poderia eu descrever o povo indiano? Serei detentora de conhecimento teórico e empírico suficiente para descrição tão exigente? Não creio, mas fica uma pequena amostra do que me apraz dizer sobre este tão curioso, encantador e diferente povo.

É um registo mais pessoal do que divulgador das desventuras que vivo aqui… São as vicissitudes de um diário partilhado…

Obrigada a todos os que leram!

Beijinhos a todos!

Até logo.

Friday, March 9, 2007

Miscellaneous

Quando estamos sozinhos dá-nos para este tipo de fotografias… Sem nexo, sem sentido, e com a presunção de que somos artistas… Eu pelo menos. Se há coisa que não sei fazer é tirar fotografias ditas artísticas. Carrego no botão e siga. As cores, a luz, a focagem, ficam como ficam, à vontade da máquina. Mas a vontade de ter boas fotografias existe, vai havendo tentativas de melhoras. A cidade de Delhi não me dá muita oportunidade de prática. Ou talvez eu ainda não tenha explorado a parte cultural de Delhi. No fim de semana, quando não houver ONG para chatear irei explorar as maravilhas de Nova Deli! Talvez ainda consiga beber uma jolinha indiana… Vou tentar provar essa Cobra Tiago, depois digo-te se bate a Sagres. Duvido!
Vacas no meio da rua, como em terras lusas se vêem cães, é uma realidade. Elas são como um qualquer outro veículo que circula neste “trânsito” (considerando que o significado de Trânsito pressupõe a circulação de veículos de forma organizada e hierarquizada numa via própria de acordo o seu próprio estatuto), andam na suposta faixa de rodagem, à esquerda por herança dos ingleses, ou então estão simplesmente estacionadas entre dois outros veículos, carros ou não, na beira da estrada. Qual japonês a tirar fotografias a tudo, como se não houvesse amanhã. Senti-me uma perfeita ET quando tentava apanhar a melhor pose da vaca, todos me olhavam…
A tendência é para a comparação. Para nós, europeus, este tipo de costumes chocam, estamos habituados a tudo muito de acordo com o que temos, somos muitas vezes avessos às coisas diferentes, somos até um pouco preconceituosos. Eu falo por mim, claro. Tudo me surpreende porque foge do que estou habituada. Para mim as vacas são pretas e brancas, têm um brinco na orelha que as distingue umas das outras, e dão leite. Estão num prado verde a pastar, ou nas vacarias a comer ração feita com os melhores nutrientes de todos para na sala de ordenha esterilizada darem o melhor leite.
Bollywood, essa magnifica indústria cinematográfica indiana, que quase põe a americana de Hollywood no chinelo…
Deixo um episódio de tentativa de poder ver um desses tão badalados filmes indianos. Procurei junto da recepção onde poderia ir ao cinema. Lá me indicaram, vais ao PVR Cinema, os melhores. Chego ao destino, compro o bilhete, e espero impacientemente que o filme comece. Faltam 20 minutos, vou entrando. Passo por um controlador de coisas duvidosas como se estivesse a entrar no avião, depois entro num canto ladeado de cortinas, onde duas senhoras me revistam, uma vê se tenho algo debaixo da roupa, a outra abre-me a mala que trago a tiracolo. Não pode entrar nem com a máquina fotográfica nem com os cigarros, diz-me ela (claro, não se pode tirar fotografias nem fumar)… E agora? Pergunto. Lá me indicou uma barraquinha dessas que vende pastilhas elásticas e cigarros, que faz de depósito de coisas que não podem entrar no cinema, para pessoas como eu que parece que vieram de Marte e não sabem como funcionam estas coisas. Lá fui depositar as minhas coisas no dito guardião, um pouco a medo, confesso, mas assinei um papelinho que me deixou menos apreensiva. Lá entro no cinema outra vez, passo mais uma vez pelos controlos, e subo em direcção à sala onde passa o filme esperado. Enquanto espero, pois faltavam 10 minutos, sou abordada por uma menina que trabalha no cinema. Aproveito para confirmar (achava eu), que o filme é legendado. Não???? Digo eu… Até me deu um aperto… a sério? O meu ar desconsolado foi tal que a rapariga disse que eu podia ver outro filme, uma hollywoozada qualquer… Mas eu estava tão empolgada no filme indiano que não quis ver mais filme nenhum. Mais uma vez tanto a rapariga como outro colega seu que apareceu entretanto formam muito simpáticos. Disseram-me que eu podia ver outro filme, ou davam-me o dinheiro de volta. Hipótese b), escolho. Ainda conversamos um pouco, participei num concurso qualquer onde tinha de escrever numa frase, o que é para mim a felicidade… Não ganhei nada, mas sou feliz! Sugeriram-me que viesse ver o filme indiano que teve uma nomeação para o Óscar de melhor filme estrangeiro, “Water”, e por essa razão deverá ter legendas. Irei ver sim!


Cabe sempre mais um. É fantástico. Esta fotografia é apenas um exemplo sobre o que significa lotação esgotada em qualquer meio de transporte. O número de lugares de cada veículo é subjectivo, depende do número de pessoas que é preciso levar. Este avozinho tem três netos para levar à escola e tem uma mota. É assim que vão. Estava eu num táxi mota, de máquina na mão quando cruzo o olhar com este velhinho. Sorrio, porque ele sorri. O táxi avança, perco-o de vista. Ponho a cabeça de fora, ah, ainda aí estão. Faço um gesto para que cheguem mais perto, quero tirar uma fotografia. Ele chega-se, os miúdos riem-se. Pergunto se vão para a escola, responde o mais velho que vai atrás podendo com orgulho exibir o seu inglês, que sim. Preparo a máquina e recebo um piscar de olho do líder do veículo! Que delicia!


Tal como já tenho vindo a dizer, e agora constata-se, os autocarros são inacreditáveis. Aqueles veículos que vemos num armazém aparentando estarem parados há pelo menos 20 anos, aqui andam por toda a cidade e trazem e levam pessoas. Não têm portas, as janelas mal fecham, ou mal abrem, depende de como ficaram da última vez. O corrimão do lado esquerdo da porta é muito útil para a entrada em andamento. A paragem de autocarro não é descanso é simplesmente de tomada e largada passageiros, por isso despachem-se, não podemos perder o embalo. Raramente param, só mesmo em sinal encarnado, ou por trânsito compacto. Nessas alturas o tipo que cobra os bilhetes, cujo preço depende da corrida, sai e vai comprar qualquer coisa nas bancas de rua, agua, cigarros, qualquer coisa. No outro dia, ia eu descansada no lugar que um desses cobradores me cedeu, mais uma vez a simpatia impera, quando ele sai e volta com a mão cheia de caramelos, um era para mim. Quem manda andar ou parar o autocarro é o tipo dos bilhetes, que com o som de uma moeda na lata, ou num corrimão, indica o que deve ser feito, e o condutor obedece.

Beijinhos a todos.
Ate logo

Wednesday, March 7, 2007

Delhi – Uma cidade grande

Cheguei antes de ontem, dia 5 de Março, a Delhi. Vinha sem qualquer sítio marcado para dormir, ia ficar até dia 21, mais coisa menos coisa. O meu primeiro destino foi a Embaixada de Portugal em Delhi. Receberam-me muito bem, vinha recomendada pela minha Mãe, claro. Ajudaram-me logo a encontrar onde ficar a dormir. Uma Guest House muito simpática - Family Inn, numa zona comercial e central.
Ontem, dia 6, tinha uma reunião marcada na Embaixada da União Europeia, mas só às duas e meia da tarde. Até lá pensei, vou explorar a cidade. Pego no meu guia completo da Cidade, que me deram na Guest House, e vou ver o que há para ver.

Começo por tentar apanhar um autocarro para Sunder Nagar, a rua onde ficam os escritórios da embaixada da UE, para reconhecer território. Depois de 20 minutos a tentar apanhar autocarro desisto e apanho um desses táxis motas. A “paragem” de autocarro, (ponho entre aspas porque se aquilo é uma paragem, eu sou um triciclo) só se percebe que o é porque estão milhões de pessoas paradas à beira da estrada especados à espera de algo, rapidamente percebo que é do autocarro. Mas sem qualquer regra, o autocarro, podre de velho, chega e sai de lá de dentro o tipo a gritar qual o destino daquele autocarro, e as pessoas entram no que lhes interessa. Ora, eu, como percebo bastante pouco ou mesmo nada das línguas deste país, grito, tal como é suposto fazer pelo que percebi, o nome da rua para onde quero ir, e ele logo me diz sim ou não. Depois de mil gritos por Sundar Nagar, desisto, vejo que nenhum autocarro vai para aquela rua. Meto-me então num táxi mota. Que pânico… O transito nesta cidade é o caos. Se já era em Calcutá, aqui é o mesmo mas em ponto grande. Buzinas são uma constante. Regras não existem. Seja um carro, uma bicicleta, um autocarro ou uma mota, a vontade de chegar é a mesma. Põe-se nos buracos entre cada veículo como se fossem pessoas que tentam furar a multidão num concerto para chegar ao pé do palco… É impressionante. E eu, dentro daquele cubículo com o credo na boca, a pensar quando é que nos esmagam… Enfim, ao fim do terceiro táxi mota que apanho, já nem ligo, até tiro fotografias em andamento. Nada vai acontecer.


As tentativas de enganar o “idiota” do turista estão em cada palavra que trocamos com eles. Eu também bem que estava mascarada de turista, mochila às costas, olhar abismado para tudo, como se fosse a primeira estada no planeta Terra, enfim, punha-me a jeito. Mas mesmo assim com ar de turista ou não somos claramente estrangeiros, e como tal alvo de tentativa de tirar mais uns trocos hoje… Quando saí do Bahai´s Temple, uma das minhas visitas de hoje, tenho logo trezentos indianos à minha volta a oferecer táxi mota. Eu digo que não, achei que era desta que apanhava um autocarro. Bom, ok, deixa perguntar o preço. Lá consigo o preço mais baixo de todos, 30 INR (50 INR são 1 Euro). Mas este preço tinha uma condição, se parássemos 5 minutos para fazer uma compra qualquer que ele queria. Achei eu que era isto, naquele inglês meio torto e com pronúncia Borat que eles todos têm. Ficou então combinado, paramos na loja que tu queres. Quando dou por mim estava numa mega loja, tipo El Corte Inglês Indiano, cheio de elefantezinhos e budas de marfim, ou saris de todas as cores e tecidos, e ainda um andar de tapetes para parede ou chão, como ele me dizia, e com o indiano do táxi mota atrás de mim à espera que eu comprasse alguma coisa, e ainda me fazia sugestões. Quer dizer… ali trabalha um amigo qualquer, ou ele tem lá uma quota, ou seja o que for, mas levou-me de boa… parvo. Bom, quando percebi o que se passava, fiz-me de parva como quem está mesmo interessada na loja, e ainda fiz um dos homens mostrar-me alguns tapetes e tal. No fim disse ao taxista, “bela loja, acho que vou voltar, mas agora vamos que estou com uma certa pressa”. Lá fomos.

Ao fim do dia, quando vinha para casa, consegui apanhar um autocarro!! Vitória. São irreais.

Delhi, para já, é uma cidade sem grande encanto. A luta vai ser viver um dia a dia nesta verdadeira selva, neste trânsito maluco a tentar chegar aos destinos da melhor maneira.

Notas finais:

1. Visitas:

India Gate – é um clássico, fica sempre bem, e vale a pena ver.

Bahai´s Temple – religião antiga e tem por lema “The earth is but one country and mankind its citizens”. Tem uma arquitectura interessante.
















2. Para fazer tempo para a reunião fui ao Jardim Zoológico, ahah! Era lá ao lado… Enfim, nada a dizer. Igual ao de Lisboa. Um casal de Indianos de Cachemira de férias em Delhi meteu conversa comigo e fizemos o tour juntos. Muito simpáticos.

Beijinhos.


Até logo.

Saturday, March 3, 2007

Happy Holi!

No fim de Fevereiro, ou principio de Março, no dia em que há Lua cheia dá-se a festa das cores, Phalgun Purnima, em toda a Índia. E, para os Hindus, a comemoração do triunfo de Deus sobre o Mal. Durante dois dias (o primeiro e das pessoas que falam Bengoli, o segundo das que falam Hindu), toda a gente sai a rua com espingardas de tinta, disparando sem destino, deixando a cidade toda as cores. Esquecem-se todos os mal entendidos, zangas ou embaraços, e todos atiram tinta uns aos outros, gritando Happy Holi!
No fim da festa quem ficou com as cores não foi a cidade, mas sim nos. Nos e a nossa roupa que vai direitinha para o lixo.

Claro que, sem podermos fugir a regra, ate porque nem tínhamos muita hipótese, fomos apanhadas nas guerras de tinta. Saímos do trabalho partilhando o táxi com um casal americano, achando que com isso estaríamos a margem da festa. Eu ainda disse, um pouco no gozo sim, mas disse, “é melhor fechar a janela”, mas ninguém me ouvia e passados dois segundos entrava-nos um balão de agua com tinta pelo táxi a dentro... pronto, já não tínhamos hipótese. Se temos uma pinta que seja de tinta na cara já ninguém tem pudor de nos atirar com mais tinta. Chegados a Sudder Street, o verdadeiro campo de batalha, entramos definitivamente na guerra.

Almoçámos com o casal Americano (ela na foto), que eu conheci hoje no trabalho numa das casa da Madre Teresa, em Kaligat, a Carmo já os conhecia.
Beijos a todos.
Ate logo.


Impressões e sensações

A cidade de Calcutá e uma cidade suja, barulhenta e confusa. Mal chegamos deparamo-nos com um transito caótico, muita gente, pouca organização, ninguém olha para ninguém, vai cada um por si preocupado apenas em desviar-se do próximo, ou melhor, fazer com que o outro se desvie ao som da buzina. E como se estivéssemos numa hora de ponta constante, naqueles dias em que só se ouvem buzinas. Bom, a verdade e que eu já nem as oiço, ao fim de uns dias é música para os meus ouvidos. Atravessar a estrada é uma aventura. Regras de prioridade não existem. Nem estas nem quaisquer outras. Sentimos que somos atropelados a todo momento, mas seria um caso único se isso acontecesse, ninguém bate em ninguém, nada de mal acontece, talvez seja por causa de tanta buzina...
A desarrumação da cidade surpreende-me constantemente, todos os dias há uma situação nova, todos os dias há alguma coisa que me surpreende. Os homens que tomam banho na rua, o lixo que esta espalhado, o transito, uns táxis–motos que cada vez que abrandam entra mais uma pessoa, o transito, as motos que andam a uma velocidade louca com um equilíbrio fantástico, sem nunca bater em ninguém mas de mão na buzina, o transito, pessoas na rua que nos cumprimentam com um sorriso mas sem nos conhecer de lado nenhum, o transito, os olhares assediantes dos jovens fashion da cidade, enfim, uma mistura de situações que me prendem a atenção ao andar na rua, todos os dias.
Os dias são passados entre a Mother House, onde dormimos, as casas da Madre Teresa, onde trabalhamos e Sudder Street, a zona onde estão os voluntários quando não estão a trabalhar. O encanto de aqui estar passa apenas por este dia a dia de constantes trocas de experiências com as pessoas com quem vamos convivendo, voluntários ou não, com a cumplicidade entre elas. Conhece-se muita gente, com historias de vida diferentes, cada uma com o seu encanto. Uma troca muito boa. Mesmo os próprios indianos são pessoas muito simpáticas, há sempre uma troca de sorrisos, um olá.

Como será em Delhi? Será Delhi também desarrumada e suja? Irei eu encontrar um cantinho como este de Kolkata? A ver vamos.

Ate Logo.